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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Dia Nacional da Cultura Cientifica.


24 de outubro

São várias as efemérides que se celebram a 24 de outubro. Gostaríamos de dissertar sobre todas elas: Dia da Organização das Nações Unidas, Dia Europeu da Justiça Civil, Dia Mundial da informação sobre o Desenvolvimento e Dia Nacional da Cultura Cientifica. Mas, é acerca desta última, que publicamos um belo texto redigido por uma das nossas alunas do clube.


A Cultura Científica

Enquanto bebericava o café, peguei no jornal que acabou por atrair a minha atenção. Nessa tarde, na minha pequena cidade, tinha lugar uma conferência sobre o cancro. Pelos vistos, alguém tinha feito uma descoberta sensacional. Entretanto, ao ler o jornal, viajei até aos meus tempos de professora.
Era o primeiro dia de aulas. Para muitos, o primeiro dia de escola!
O sol brilhava e nós, assim como os alunos, ansiávamos pela descoberta. Descoberta de como seríamos todos. A gritaria voltava a encher os recreios.
Finalmente, tinha chegado a hora de nos dirigirmos às salas. Eu estava outra vez com uma turma de 1º ano. A ansiedade, o medo, a angústia e a esperança espelhavam-se nos olhitos das crianças que aguardavam agarrados às pernas dos seus pais.
Com o sorriso, que involuntariamente me seguia, pedi aos meninos que se sentassem e aos pais que permanecessem por detrás dos seus filhos. Depois de conversarmos um pouco sobre a escola, os livros e materiais, que já todos tinham comprado, pedi aos pais que me entregassem os seus meninos e prometi-lhes que, durante os quatro anos que se seguiam, faria tudo para os ajudar a construir um bom futuro.
Recordo duas daquelas vinte crianças que me rodeavam e que desde logo me chamaram a atenção pelo olhar tão diferente, mas tão singular que possuíam.
Marta tinha os olhos mais doces que alguma vez vira. O seu olhar denotava firmeza e determinação.
Diogo tinha uns olhos nublados pela dor, que, mais tarde vim a saber, refletiam a perda do irmão gémeo. Mas, por detrás desse sofrimento, notava uma força incomum e um espírito lutador.
Logo nos primeiros dias notei que Diogo se afastava dos colegas, refugiando-se sozinho num canto do recreio. Um menino que se magoava, outro a quem puxavam os cabelos, impedia-me de ir falar com ele. Mas, nesse dia, nada me havia de conter. Sem hesitar, dirigi-me a ele. Porém, alguém se antecipou. Marta tinha-se aproximado dele e segurando as suas mãos, falava ternamente com Diogo. Olhei-os encantada, pois pela primeira vez vi aflorar um sorriso aos seus lábios.
Marta e Diogo, a partir daquele momento, tornaram-se amigos inseparáveis e toda a turma os adorava.
Um dia, quando explicava a importância da ciência, Diogo disse-me que não acreditava nela, porque de nada valera para o irmão. E eu respondi:
 - Sabem, a Ciência está para a vida como o fermento para o pão! A massa para fazer o pão precisa de fermento para crescer e a ciência é igual, também temos de usar fermento para a fazer desenvolver. Um dia, decerto, vão compreender-me melhor.
O resto da aula, Diogo e Marta permaneceram silenciosos. E o mais curioso é que a partir daquele dia, Diogo não voltou a fazer comentários. Contudo, em conjunto com a Marta, questionava tudo com uma grande ânsia de aprender.
Ao longo desses quatro anos, vi-os aprender, questionar, enfim, crescer.
Momentos depois, voltei a concentrar-me no café que jazia frio na chávena e apercebi-me que hoje, passados cerca de trinta anos, e de ter ensinado milhares de meninos, muitos deles excelentes alunos até, jamais eram idênticos àqueles dois. Na verdade, relembro os alunos que tive e com alguma tristeza, as aulas que nunca mais darei, mas a idade não perdoa e sinto-me cansada.
O jornal permanecia nas minhas mãos e voltei à notícia que me fizera relembrar o meu passado. De seguida, lembrei-me que me tinham enviado um convite para essa conferência. Decidi, então, nesse mesmo instante, que iria.
Entretanto a sessão já tinha começado, quando entrei na sala de conferências do centro cultural. Nesse momento, um dos conferencistas discursava sobre a tal descoberta que ele e uma colega tinham feito. Como não tinha assistido à apresentação, desconhecia o nome de tão ilustres cientistas.
De repente, não percebi bem o que se estava a passar, mas os olhares das pessoas dirigiram-se para a fila onde eu me encontrava. O conferencista e uma das suas outras colegas, que estava na mesa, desceram do palco e dirigiram-se para o lugar onde me acabara de sentar. Ele, pegando nas minhas mãos, disse-me:
 – Obrigado, senhora professora Maria.
Olhei primeiro para ele e depois para ela e vi aqueles olhos… Meu Deus! A minha já cansada memória não me estava a trair, o olhar daquelas duas crianças permanecera igual e eu, então, exclamei:
- Marta e Diogo!
E com um sorriso nos lábios, comentaram:
- A senhora é a principal responsável por estarmos hoje aqui. Há muitos anos, falou-nos da importância da ciência, dizendo que ela estava para a vida como o fermento para o pão! Nunca o esquecemos e atualmente podemos afirmar que tudo isto só foi possível, porque nos fez ver e acreditar como é útil estudar e ter conhecimento. Compreender como a ciência é importante!

Adriana Matos, nº 1, 8º C / O Ciclista

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