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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

As cartas



Francisca tinha apenas dezasseis anos quando a sua mãe, uma empresária de sucesso, morreu devido a uma overdose de cocaína.
Como era de esperar, a imprensa divulgou logo o caso e a rapariga passou a ser alvo de chacota por ter uma mãe que morrera por ser drogada.
Diariamente, Francisca sofria de bullying e era rejeitada por todos. O seu sofrimento levou-a a considerar o quarto da sua mãe como o seu único refúgio, pois aquela tinha sido a sua melhor amiga e ali tinham passado os melhores momentos, não só da sua infância, mas também da adolescência quando começara a necessitar da orientação e da sabedoria da sua mãe para resolver os seus problemas de adolescente.
Certo dia, Francisca, a chorar, entrou, mais uma vez, no quarto da mãe e reparou numa espécie de envelope perto da cama. Abriu-o, apercebeu-se que eram cartas escritas pela mãe e começou a lê-las. Há medida que lia, ia chorando mais e mais, pois as cartas eram como uma espécie de diário para a mãe, onde ela confessava o motivo de ter começado a consumir drogas, a sua luta para querer parar e a vergonha de pedir ajuda.
Os dias foram passando e Francisca continuava a ler e a reler as cartas, começando a aperceber-se que a “família perfeita” era tudo fachada, no fundo, pois a mãe começara a consumir drogas devido à traição do pai com a sua melhor amiga.
Inicialmente, Francisca pensou em confrontar o pai com as cartas, mas estas eram como um diário para a mãe e ela achou que mostrá-las seria desrespeitar a sua memória.
Assim, as cartas passaram a ser apenas para ela se lembrar que tinha de erguer a cabeça e não permitir mais ser alvo de gozo, pois, na realidade, ninguém sabia o motivo do suicídio da sua mãe. Seria apenas um dos muitos segredos guardados entre elas, tal e qual como nos velhos tempos.
Francisca Silva, 8.º A, Escola Básica de Vilarinho do Bairro

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