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domingo, 26 de agosto de 2012

“O triângulo da descoberta”


5º Episódio



O vestido amarelo era lindíssimo. Não muito adequado à ocasião, ou talvez até fosse. Dependia de qual era, mesmo, a ocasião.
Coloquei a mão na maçaneta, pronta a abri-la, mas dei por mim a questionar-me se sabia realmente aquilo em que me estava a meter. Ao rodar aquele objeto de metal, estaria a entrar numa nova fase de algo que ainda desconhecia e não sabia se queria mudar isso.
Quando saí para o corredor, seis pares de óculos escuros e um par de olhos azuis esperavam-me ansiosamente.
“Pronta?”
Acenei afirmativamente.
O convés estava cheio, mas aquela mesa parecia estritamente reservada para nós. Ninguém se aproximava sequer dela.
“Antes de mais, o meu nome é António. Penso que está na ora de saberes isso. Sou teu irmão, ou pelo menos é isso que as provas iniciais demonstram. Ainda estamos a realizar os testes de ADN. O meu pai, o nosso pai acredita que és tu a filha desaparecida há tanto tempo.”
“Isso é impossível. Os meus pais são reais. Não sou sequer adotada. Não há maneira de eu ser tua irmã.”
“Não penses assim. Diz-me, alguma vez viste fotos tuas de quando eras bebé?”, nem esperou pela resposta. Sabia que eu não tinha uma. “Pois, um incêndio, certo?” Como é que ele sabia? “Imagino que nunca que tenhas questionado sobre isso, parecia tudo demasiado credível.”
Depois explicou-me qualquer coisa sobre uma guerra entre o reino de Crindiva e uma república Corsaniana. Algo sobre um general que queria a todo o custo expandir o seu território e ameaçou o reino o rei não aceitasse casar o filho do general com a sua filha recém-nascida.
O rei, sabendo que a única forma de impedir o general de se conseguir apoderar do seu território era afastar-se da sua filha, entregou-a a um casal de empregados dando-lhe uma pequena fortuna para que a pudessem criar sem qualquer entrave. Nem o rei nem ninguém poderiam alguma vez saber para onde eles iriam, não fosse o caso de haver um traidor que denunciasse a sua localização.
António era apenas seu meio-irmão. Um bastardo, por outras palavras. Mas o rei, D. Manuel, fazia questão de o reconhecer como filho e de lhe dar as regalias de um filho legítimo. O problema é que ele não podia ascender ao trono. Quando as coisas acalmaram, o rei decidiu enviar detetives para a encontrarem, mas era impossível localizá-la.
Ainda não acreditava que eu era aquela rapariga.
“E como é que me encontraram aqui?”
“Bem, o pai tem espiões em todo o lado. Depois de fazermos um retrato robô no qual aparecerias de acordo com a tua aparência atual, não foi difícil localizar-te. Não quis falar contigo antes porque não tinha a certeza de que eras minha irmã, mas depois daquela carta do pai e de ver o homem a atacar-te não tive outra alternativa.”
“Quem era ele?”
“Vinha a mando do filho do general. Depois da morte do pai dele, descobriu um diário onde ele contava tudo o que pretendia para o reino e contava como a tinha tentado levar. Decidiu que estava na hora de seguir os passos do antecessor e que se não te tinham conseguido levar antes, iriam encontrar-te antes de nós. O plano dele era raptar-te e manter-te prisioneira para forçar o pai a dar-lhe o poder sobre o nosso reino.”
Parecia inacreditável.
“E porque é que nunca ninguém me disse nada? Oh, espera! O meu pai deu ordens para que não me contassem nada, com medo que eu o fosse procurar e deitasse tudo a perder.”
 Ele nem sequer respondeu. Eu tinha razão.
“Sabes, se eu fosse mais nova, ia adorar descobrir que era uma princesa. Mas não sei se o quero ser agora. Há muitas coisas que me impedem de deixar a minha vida.”
“Sim? Tanto quanto sei, não tens tido muita sorte na tua vida pessoal e ainda não te fixaste em lugar nenhum.”
Ora ali estava uma coisa que ainda ninguém me tinha dito em voz alta.

Continua…

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