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sábado, 25 de agosto de 2012

“O triângulo da descoberta”

                                       4º Episódio

 “Clara,
Preciso urgentemente de falar consigo. Está na altura de responder a tudo o que possa querer perguntar.
Venha ter comigo ao convés às quatro e meia da manhã.
Não demore.
O seu irmão.”
Era só o que mais me faltava. Mais um engraçadinho, ou seriam o mesmo?
Já para não falar disso, quem é que entrega uma carta a marcar um encontro com um empurrão?
Olhei involuntariamente para o relógio. Eram quatro da manhã.
Deveria ir? Ainda me tentei deitar, mas a meia hora seguinte demonstrou ser demasiado atormentadora e era difícil conter a curiosidade.
Fosse o que fosse, aquilo aguçara o meu interesse e assustara-me de uma forma que eu não podia, pura e simplesmente, recusar o convite.
Nem me dei ao trabalho de mudar de roupa. O pijama era de verão, mas com um roupão e uns chinelos quentes, lá me agasalhei para sair.
No corredor, uma empregada mostrou-se preocupada comigo: “Passa-se alguma coisa menina?”
Respondi-lhe que precisava apenas de apanhar ar. Ela pareceu desconfiada. Devia ter dito que ia fumar um cigarro. Se calhar iria soar mais credível.
Sem pensar mais nisso, dirigi-me nervosamente para o convés.
“Sabia que vinhas”, ouvi antes de me sentir sufocar. A garganta parecia encolher entre aquelas mãos gigantes e frias. Era demasiado tarde para gritar, já não tinha folego para isso.
Ouvi gritarem pelo meu nome. Era uma voz masculina. Fui sacudida e não me lembrava de mais nada.
Devo ter ficado adormecida muito tempo porque quando acordei senti-me quase como se fosse a Bela Adormecida. Seis “macacos” de fato estavam de costas voltadas para mim. Estavam com roupas escuras e imaculadamente engomadas.
“Ainda bem que já acordaste. Estava a ver que tinha que te atirar com um balde de água fria.”
Era uma voz simpática, acolhedora. Tratava-me por “tu” apesar de não me ser familiar. Talvez se tratasse de um médico ou de um enfermeiro. Não conseguia ver ninguém tal era o aparato à minha volta.
Sem me dar conta disso, levei as mãos ao pescoço. Doía-me bastante.
“Não te preocupes, já apanhámos a pessoa que fez isso.”, respondeu de novo.
Tentei levantar-me, mas tantas horas a dormir deixam marcas e as tonturas impediram-me de continuar. Tentei novamente. Encostei-me à parede e pude finalmente ver o que se passava.
Os homens continuavam de costas voltadas, como se nada tivesse mudado entretanto. Ou muito me enganava, ou eram seguranças. O homem do sobretudo estava com um médico e uma enfermeira de idade avançada junto a mim.
“Esperávamos que estivesse bem. Felizmente o atacante não deixou mais consequências que não umas nódoas negras. O seu irmão salvou-a a tempo.”, constatou o médico olhado para o homem desconhecido. Mal se deu conta da minha cara de espanto, calou-se e ficou corado, como se tivesse falado mais do que devia.
“Clara. Descansa agora. Mais tarde falaremos.”, disse o estranho.
“Farta de descansar já estou eu. Alguém me diz o que se passa aqui?”
Ele riu-se. Podia não ser meu irmão, mas tinha bastantes parecenças comigo.
“Já me tinha avisado dessa tua faceta. Vem, eu ajudo-te a sair daí. Vais tomar um banho e mudar de roupa para depois jantarmos.”
Nem me dei ao trabalho de protestar. Sentia o pijama transpirado e quente.
O desconhecido acompanhou-me até um camarote, que não era o meu, onde um vestido me esperava em cima da cama. Ficaram todos na rua, a meu mando, enquanto eu me refrescava.

Continua…


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