Endereço de correio eletrónico

ociclista@aeanadia.pt

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

“Como eu estabeleci uma estreita amizade com um ser espacial”


Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pelo aluno, Henrique Seabra Ferreira, concorrente e vencedor do 1º prémio no Concurso literário “Ler e Aprender”, 1º Ciclo, edição de 2012.

A Equipa d´O Ciclista



“Como eu estabeleci uma estreita amizade com um ser espacial”

1º Episódio

Todos os dias, quando pretendo momentos solitários de paz e tranquilidade, dirijo-me ao meu jardim, preferencialmente de noite, em noites claras, onde as estrelas mais brilhantes desenham constelações sobre a tela do céu que fica assim decorada. Jogamos como que às escondidas, descobrindo o que os meus conhecimentos me permitem e, ora lá encontro a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Estrela Polar e logo me imagino “perdido” nalguma das minhas viagens fantásticas que por vezes faço quando saboreio alguns capítulos de uma soberba aventura narrada por algum/a escritor/a preferida/o. Recuo, então, no tempo e relembro as palavras de Proust quando diz que
“Talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido”.
E assim, se pretendo desvendar os mistérios do mar, faço-me acompanhar da grande poeta “Sophia”, se pretendo desbravar a Speranza, entro nela através de “ Sexta-Feira ou a Vida Selvagem” com Michel Tournier e participo nas aventuras ao lado de Robinson Crusoe. Cativam-me com os diálogos entre este e Sexta-Feira.
Foi numa destas noites de contemplação celestial que, ao erguer mais uma vez os olhos para esse misterioso infinito, iniciei viagem até lá, uma vez que tenho olhos para o ver, mas não tenho braços para o abraçar.
Concretizei, assim, um dos meus sonhos e conheci um ser ilimitado que me pediu as minhas palavras, o meu saber, a minha confirmação ou talvez o meu amor para poder ser completamente.
Curioso como sou, escolhi, evidentemente, uma estrela comparável a mim: curiosa também o suficiente para que a sua paciência fosse capaz de me ir satisfazendo todas as questões que me intrigam.
Era pequena, vermelha, querendo isto dizer que não era muito quente. Era, no entanto, muito brilhante.
Apesar de espantada, a estrela não deixou de me saudar, de querer saber de onde vinha, o que fazia ali. Conversámos e ao fim de algum tempo senti que nascera ali uma estreita amizade.
     -Vem, vem conhecer e descobrir o que quiseres - disse ela - mas fala-me também de ti e do teu mundo.
Sou Polar, a Estrela guia dos marinheiros. Sabes, pastores, agricultores e os grandes viajantes foram os primeiros a estudar o céu. Argutos, repararam que os nossos movimentos constituíam indícios importantes que lhes permitiam orientar-se no mar ou atravessar vastos desertos sem se perderem; que os nossos movimentos aparentes mediam a passagem do tempo. Foi baseado nos nossos movimentos regulares que criaram os primeiros calendários.
- Mas, efetivamente, de onde veio todo este Universo? Interroguei-a.
- Ah! Sabes, todos os povos que atravessaram a história têm narrações para explicar o seu começo. Para os chineses, por exemplo, eu e todas as minhas irmãs estrelas, teremos surgido dos cabelos de um deus que se pôs a criar o mundo, tal como dos seus olhos surgiram o Sol e a Lua.

Continua…


Sem comentários:

Enviar um comentário