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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

“O triângulo da descoberta”


3º Episódio


Peguei no livro que tinha levado e deixei de lado a carta, nunca mais me lembrei dela.
Durante a hora de jantar, subi ao convés para apanhar um pouco de ar. Sentia-me muito melhor e já tinha comido algo mais consistente. Um casal estava junto da piscina a trocar presentes. Provavelmente, era o seu aniversário de casamento, ou de namoro, nestes dias nunca se sabe.
Havia mais uns quantos passageiros a apreciar o sol enquanto ele se escondia e, enquanto voltava para dentro, com frio, um vulto passou repentinamente. Assustei-me quando ele veio contra mim, quase caí. Quis gritar e esbracejar, mas já era demasiado tarde para isso. Já não o conseguia ver em lado nenhum. Podia ser qualquer pessoa. Alguém muito parvo, por sinal, ou alguma criança, não sabia.
Os concertos eram bastante usuais, segundo o que ouvi dizer. Jazz não seria a minha escolha inicial, mas acabou por se revelar um tanto ou quanto agradável.
Eram três da manhã quando acabei por sucumbir ao cansaço.
E que susto eu apanhei quando encontrei rosas brancas em cima da cama. Quem tinha ali estado?
“Excelentíssima menina Clara. Pedimos desculpas pelo incómodo que possamos ter causado. Como recompensa, a Copanhimar oferecer-lhe-á uma nova viagem com data a programar. Esperamos as suas melhoras.” Ainda deviam estar com medo que eu os processasse por causa do marisco.
O pijama era o meu melhor, não que fosse o bonito, não disse isso, mas sem dúvida, o melhor. O único que não tinha nódoas por causa do chocolate quente que adorava beber enquanto via filmes antes de adormecer.
Mal tirei o casaco, dei-me conta de algo no bolso esquerdo: era outra carta. Da mesma pessoa, quase de certeza. Lembrei-me que ainda não tinha lido a outra e poisei-a junto dela para as ler depois de me lavar.
Quando voltei para junto delas, decidi começar pela primeira.
“Clara.
Começar esta carta foi das coisas mais difíceis que já fiz em toda a minha vida. Encontrar-te, foi a mais demorada. Procurar-te durante todos estes anos deixou-me muito fragilizada, mas sempre acreditei que chegaria o momento em que estarias a ler esta carta.
Minha querida filha, era assim que devia ter começado.
Não penses minha querida, lê primeiro o que tenho para te dizer.
Não estou aí contigo porque é extremamente difícil viajar para outros sítios que não seja por negócios. Não que não sejas mais importante que tudo isso, mas deixei a missão de te encontrar a outra pessoa da minha inteira confiança.
O teu irmão é um pouco desconfiado e não nos podemos dar ao luxo de nos expormos sem ter-mos a certeza do que estamos a fazer. Já o deves ter visto por aí. Não deve demorar muito para que ele te procure e te explique tudo o que tens que saber. Já agora, não ligues ao mau feitio dele, é crónico.
Deves ter muitas perguntas, questões às quais não te posso responder por carta. Mas não te preocupes, a seu tempo, terás todas as respostas.
O teu pai,
D. Manuel de Crindiva.”
Mas isto era alguma piada? É que, se fosse, estava a dar resultado. Só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Os meus pais eram as pessoas mais honestas que eu conhecia, nunca me esconderiam algo tão difícil.
Ainda faltava uma carta. O que será que vinha aí?

Continua…

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