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domingo, 19 de agosto de 2012

Bullying!

5º Episódio

Entretanto, certo dia, Selene ficou doente. No final das aulas, desse mesmo dia, desci a avenida por entre as árvores que iam até à paragem do autocarro, quando vi o Roberto e a Sara a meterem-se com um garotito que, como eu, ia apanhar o autocarro.
 - Deixem-no em paz! - pedi eu.
 Mal disse isto, olharam para mim e desataram em altas gargalhadas.
- Hoje não está cá o teu anjinho da guarda, sua …, - voltavam os insultos.
Aproveitaram assim a ausência da minha amiga para voltarem a atacar-me e eu comecei novamente a sentir o chão a fugir-me, o ar faltava-me e as mãos tremiam-me. Senti-me incapaz de dizer algo, de me defender. As suas vozes martelavam na minha cabeça, mas não os ouvia, não sabia o que diziam.
Comecei a respirar fundo a tentar acalmar a minha ansiedade, a ver se conseguia reprimir as lágrimas, que teimavam em saltar-me dos olhos e senti a mão de Sara, que me pegava no braço e a sua voz, que penetrava que nem espinhos nos meus ouvidos:
- Nem uma palavra! Vês o puto? - e, virando-se para o rapaz, bateu-lhe na cara.
 Vi o medo espelhado no seu rosto.
- Se não fizeres o que te dissermos, vais ver que te arrependes. Vamos, sua…
O medo paralisava-me. Mas consegui pensar. Não, não podia continuar a martirizar-me. Não podia mais compactuar com estas atitudes. Não podia deixar que outros sofressem as atrocidades que eu sofrera. Uma coisa era eu, só eu. Outra era aquela inocente criança que queria apenas ir para casa, depois do seu dia de aulas.
Nesse mesmo instante, lembrei-me de todos os momentos maus que me haviam impingido, mas também de todos os conselhos que Selene me dera. Da sua força, da sua coragem e bondade e de tudo o que eu tinha conseguido até ao momento. E, essa força interior, que não sabia que tinha, levou-me a sentir que chegara a hora de eu agir.
- Sara e Roberto, deixem o miúdo em paz! - gritei-lhes, enquanto sacudia violentamente a mão de Sara.
Ela, que não estava a contar com a minha atitude, ficou sem reação. Mas, logo de seguida, gritou-me:
- Cala-te, maldita!
De seguida, não contei que Roberto me atacasse no momento em que decidi virar-me para o rapaz e pegar-lhe no braço para irmos para o autocarro. Como ele não estava a contar que eu me afastasse da Sara, acabou por atingi-la na cara e ela desequilibrou-se, caiu e acabou por bater com a cabeça no banco de jardim que ali se encontrava. Não sei qual foi maior, se o ruído provocado pela queda, se o grito de dor da Sara. Ela ficou estendida no chão com o sangue a jorrar, corri para ela enquanto ouvia o Roberto que bradava:
- Tu foste a culpada. Assassina, tu és uma assassina!
- Cala-te e vem ajudar. Pega no teu telemóvel e chama uma ambulância, depressa!
Enquanto isso, ajoelhei-me junto de Sara e fui-lhe dizendo que tudo ia ficar bem, para ela não se preocupar. E quando voltei a olhar, Roberto corria dizendo:
 - Não quero ter nada a ver com isto. Livra-te de dizeres que me viste!
Rapidamente, olhei para o Pedro, como sabia que se chamava, e perguntei-lhe se tinha telemóvel. Acenou com a cabeça e, tirando-o do bolso colocou-o na minha mão. Felizmente os meus pais sempre me disseram que era importante saber o número do INEM e eu liguei.
Entretanto, disse-lhe para ir para o autocarro, que eu ficaria com a minha colega à espera da ambulância.
– Por favor, avisa os meus pais que eu fiquei aqui. – consegui ainda pedir-lhe.
Momentos depois, chegou a ambulância e eu segui com a Sara para o hospital. Eu estava preocupada, ela desmaiara e durante todo o percurso, mesmo com a reanimação que os bombeiros lhe faziam, ela continuava inanimada.
Estava no hospital já havia cerca de uma hora e não tinha quaisquer notícias da minha colega. Nesse momento, esquecera-me de quem ela era, o que me fizera ao longo de todos os anos, de como era odiosa e má. Naquele momento, eu só pensava que ela tinha de ficar bem.
Estando já no meu quarto, senti um formigueiro na barriga e endireitei-me. Encontrava-me frente ao meu computador e escrevia mais um dos meus livros. O seu conteúdo fez-me recuar no tempo e recordar aquilo que jamais esquecerei e que não pretendo esquecer, pois mantém-me atenta para casos idênticos.

 Continua…

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