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sábado, 18 de agosto de 2012

Bullying!


4º Episódio

Baixei os meus olhos à espera de ouvir o riso tão meu conhecido de tantas outras situações idênticas. Já nem os meus olhos reagiam como antes, com ondas de água salgada que me banhavam o rosto e me tornavam ainda mais vulnerável à troça dos meus colegas. Mas não ouvi nada disso. Apenas senti a sua mão pegar no meu queixo e levantá-lo. Vi novamente aquela bondade espelhada no olhar da minha nova colega. Já nem ouvia as palavras dos dois colegas que a alertavam para o que estava a fazer:
 - Juntas-te a ela e vais ver.
 – O quê? - indagou Selene, sem que o seu rosto sofresse qualquer alteração e continuou:
 - Vão bater-me, é? Vão-se embora e tenham juízo, já têm idade para isso. Querem o quê? Protagonismo?! Vão, que eu não temo ameaças. Deixem-nos!
Os meus olhos expressavam, decerto, o que me ia na alma, pois Selene confortou- me:
 - Não temas, acalma-te e vamos dar um passeio até lá fora, ainda temos tempo até à próxima aula.
Habituada, como estava, a satisfazer as ordens dos meus irmãos e dos meus colegas, obedeci e arrastei-me atrás dela. Já no exterior, Selene pediu-me para lhe contar tudo. Não consegui mais esconder o tempestuoso mar que havia dentro de mim e os meus olhos cederam à força das águas há tanto reprimidas e que agora derramava sem qualquer controlo. Selene deixou-se ficar junto a mim em silêncio. Quando consegui ter domínio sobre mim, já estava na hora da aula seguinte. Mas, carinhosamente, ela disse-me que, quer quisessem quer não, iria ser minha amiga. Afinal, o meu pressentimento estava certo!
Quando estávamos a entrar na sala de aula, apenas lhe disse:
 - Chamo-me Ana!
A partir desse dia, eu e a Selene tornámo-nos verdadeiras amigas. Eu deixei de me sentir tão mal e, apesar de alguns ainda mandarem algumas bocas quando Selene não estava, tudo melhorara significativamente. Os outros diminuíram a pressão que exerciam sobre mim. A minha amiga não deixava os meus “queridos” colegas aproximarem-se de mim, nem permitia que eu fosse alvo do seu gozo. Defendia-me e incentivava-me a ser mais corajosa, a defender-me, enfim, a ser mais autoconfiante. Por outro lado, confrontou-me com a possibilidade de eu falar com o diretor, já que ele era uma pessoa sensível e ouviria o que eu tinha para lhe contar.
- Tens de te ajudar e, ao mesmo tempo, ajudar outros que, como tu, são vítimas do mau carácter de muitos alunos desta escola. Tens de te defender e, acima de tudo, tens de proteger aqueles que são mais fracos. Tu, - continuava ela - consegues abstrair-te e ser uma boa aluna. Mas muitos não o conseguem fazer. Não conseguem fugir e esconder-se nessa redoma como aquela em que te escondes. Tens de agir, Ana!
O seu poder era tal que eu comecei a ter mais confiança em mim e a ponderar falar ao diretor, não da minha experiência, mas de outras que sabia e via acontecerem todos os dias. Contudo os dias iam passando e faltava-me sempre a coragem que Selene me dizia que eu lá no fundo tinha.


Continua…

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