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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Viagem ao fim do Mundo

Naquela tarde de Fevereiro, chuvosa e ventosa, sentei-me encostada à parede do alpendre da casa do meu avô. Sentia-me bem sempre que me recostava naquela parede esbranquiçada e fria. A vista era maravilhosa. À minha frente, tinha um monte verdejante, calmo, relaxante com flores espontâneas, que o meu olhar perdia de vista. À medida que as gotas de chuva caíam no terreno, o cheiro a terra e erva húmidas chegava até mim. E, de facto, aquele cheiro fazia tão parte de mim como o oxigénio dos meus pulmões. A razão era simples, fazia-me lembrar a minha infância. Fechei, então, os olhos suavemente para conservar ao máximo aquele agradável, familiar e genuíno cheiro.
De repente, dei por mim a flutuar a alguns metros acima do mar, parecia-me estar longe da costa, não a conseguia avistar. Nunca tivera medo das alturas, por isso não fiz pressão para baixo. Deixei-me ir, a minha mente estava livre das preocupações da escola e de tudo o resto. Continha assim apenas o cheiro, as memórias e a felicidade de outrora. Comecei a aproximar-me de uma montanha com neve no cume, o verde que cobria o trilho até lá era visível. Quando, inexplicavelmente, senti os meus pés pisar terra firme, olhei para a montanha, decidi avançar. Afinal de contas, andava sem destino. No cume, o ar era difícil de inspirar, seria assim inexistente aos olhos da praia, onde existe em abundância.
Aproximei-me de forma a ficar a um passo do fim da montanha. Sentia-me tão livre, tão feliz... Uma rajada de vento empurrava-me para a frente. Reparei ansiosamente que estava suspensa no ar, não tinha tido tempo de me agarrar a nada “ voava” de costas, ia cair, ia estatelar-me no chão, ou até no mar. O medo de morrer apoderou-se inesperadamente de mim. No entanto, sentia-me confortável, o cheiro era reconfortante.
Entretanto, estava mesmo a cair quando alguém me pegou no braço, com a força de um elefante, evitando a minha morte. Abri os olhos instintivamente e fiquei boquiaberta ao verificar que era o meu avô que estava ao pé de mim, sentado como um miúdo, sereno e sorridente.
De seguida, olhou-me nos olhos e disse-me: “ Não queiras apressar a vida. Pensa no significado do cheiro, das memórias, do futuro que tens à tua frente. Isto será o reflexo das tuas preocupações?! Não queiras fazer já a tua viagem para o fim do mundo. A tua viagem ainda agora começou.”
 E recomeçou a chover….

Alexandra, nº 1, 9º E

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