A história que tenho para vos contar diz respeito a uma menina chamada Cátia, com doze anos, que era invejada por todos por ser uma menina com um sorriso maravilhoso, que brilhava como uma constelação no meio de um céu imenso.
Cátia era uma menina com um espírito positivo, alegre, inteligente, com os olhos cor de esmeralda e um cabelo louro como raios de sol a reflectirem nas águas cristalinas do mar.
Certo dia, ao esperar pela sua mãe, que a ia sempre buscar à escola, foi atropelada, sofrendo assim um traumatismo craniano e várias costelas da coluna fracturadas. Quando tomou consciência do que realmente se tinha passado, a jovem ficou bastante assustada. Contudo, graças à sua força de vontade, a sua recuperação foi imediata, mas muita coisa mudou. Cátia ficou numa cadeira de rodas e, como é hábito, muitas pessoas da sociedade consideraram-na como um ser humano deficiente.
A sua adaptação a esta nova realidade estava a ser muito lenta, pois ela bem que tentava integrar-se mas, muitas das vezes, era ignorada e até mesmo alvo de chacota, até que preferiu mudar do seu estabelecimento de ensino para uma associação destinada para pessoas com deficiências, porque aí ela teria a certeza de que todos a considerariam uma pessoa “normal”. E assim foi, Cátia mudou-se para uma associação de ajuda a pessoas com dificuldades motoras. Com esta mudança, ela sentia-se feliz, já que estava num ambiente em que todos eram vistos de igual forma, mas, ao mesmo tempo, sentia-se triste por saber como se sentiam todas as outras pessoas com o mesmo problema, bem como por saber e conhecer a sociedade em que vivia, pelas injustiças que cometia.
Tempos depois, Cátia mudou de casa para a terra vizinha, tendo assim vizinhos novos. O seu vizinho da direita era viúvo e tinha um filho um pouco mais velho do que ela. Por um lado, agradava-lhe a ideia de ter um vizinho da idade dela, porque assim poderia conversar com ele mas, por outro lado, pensava que poderia ser mais uma pessoa a gozar com o seu problema.
O tempo foi passando e eles foram-se conhecendo. Cátia tinha achado Ricardo um rapaz encantador, pois ele compreendia-a, ajudava-a e principalmente, defendia-a, quando via que alguém a estava a olhar de maneira diferente. A sua amizade com Ricardo tinha evoluído bastante e ela já não sentia apenas uma amizade banal, mas sim um sentimento estranho que para ela era novo e não sabia explicar. Talvez Ricardo fosse para ela o único e o melhor amigo, que já alguma vez tivera ou algo mais, quem sabe!
Ricardo também não a considerava indiferente, até que chegou a altura certa para o admitir e assim foi. Continuaram bons amigos, durante os primeiros tempos e mais tarde, uma partilha de sentimentos gerou um namoro que durou anos. Decidiram depois viver juntos e Cátia confessou-lhe o seu maior sonho que era ter uma clínica veterinária. A ideia agradou a Ricardo, que lhe prometeu que iria lutar juntamente com ela para que tal desejo se realizasse, mostrando-lhe assim um sorriso de esperança.
À medida que os meses foram passando, ambos foram fazendo investimentos e enfrentando algumas contrariedades, alçando assim aos poucos e poucos um espaço para a clínica e mais tarde, todas as suas funcionalidades. O sonho de Cátia estava assim concretizado e para ela a vida já tinha atingido a sua plenitude. Tinha uma pessoa especial ao seu lado que a ajudava, a clínica que tanto desejou e uma sociedade que aprendeu a respeitá-la e a admirá-la por ver o seu esforço em alcançar objectivos, enquanto muitos não tinham coragem para o fazer e fisicamente eram ditas normais.
Desta longa luta, podemos retirar algumas conclusões principalmente que, independentemente de termos dificuldades motoras ou não, somos iguais a todos os outros. Todos temos sonhos que queremos concretizar, mas para tal tem de haver respeito, vontade e perseverança.
Beatriz Cruz, nº 2, 9º F
Sem comentários:
Enviar um comentário