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domingo, 28 de junho de 2015

Entrevista Diretor cessante – Professor Elói Gomes



Neste momento final de mais um ano letivo, a equipa do Jornal Escolar do Agrupamento decidiu presentear os nossos leitores com uma entrevista realizada ao Diretor, Professor Elói Gomes, que está precisamente a terminar o seu mandato.
Não poderíamos, de modo algum, proceder à publicação do nosso jornal sem ter uma última conversa com quem, durante estes últimos quatro anos, esteve ao leme deste grande navio constituído pelas várias escolas do Agrupamento e a quem, desde já, damos os nossos parabéns e agradecemos também a sua total disponibilidade em nos ter recebido.
CJ – Bom dia! Eu sou a Adriana. Eu sou a Sofia, Eu sou o Manuel. Eu sou a Margarida. Somos do Clube de Jornalismo, O Ciclista e gostaríamos de conversar um pouco consigo.
D – Com certeza.
CJ - Como se sente sabendo que estes são os seus últimos momentos na Escola?
D – Sinto-me com a sensação do dever cumprido e, ao mesmo tempo, com alguma nostalgia, é um misto, um sentimento que nem sei bem explicar. Evidentemente que foi uma decisão que tomei, a qual foi pensada, foi bem ponderada, mas que, quando chega a hora da verdade, é sempre difícil. Vou com a consciência do dever cumprido, pois fiz o melhor que sabia e que podia. Vou, de facto, com o dever cumprido. 
CJ – Há algo que gostaria de ter feito e que não fez? Se sim, o quê, por exemplo?
D – Nós, por vezes, propomo-nos fazer coisas que nem sempre conseguimos fazer. Eu tentei fazer sempre o melhor que podia e que sabia. Não nos podemos esquecer que este é um Agrupamento muito grande, um Mega Agrupamento que se formou e cuja formação não foi consensual, ou seja nem todos concordavam com ele e, por isso, era preciso fazer aqui a harmonização. Em primeiro lugar, houve necessidade de fazer disto um Agrupamento, de ganhar o espírito de Agrupamento, coisa que não existia. Depois passámos estes 4 anos, que coincidiram com a entrada da Troika, de grande austeridade e isto teve reflexos na educação. A educação foi um dos setores que teve bastantes cortes, cortes aos professores e cortes nos orçamentos, enfim profundas alterações. A motivação é mais difícil, quando alguém está a ser penalizado no seu salário e depois até lhe exigem mais horas de trabalho, que passou de 35 para 40 horas. Um dos nossos objetivos era motivar os professores, o pessoal não docente bem como os alunos. Foi dentro deste quadro difícil de austeridade, em que houve um maior número de alunos por turma, menos professores colocados, menos pessoal docente colocado, que foi preciso gerir tudo isto e motivar todos. É evidente que, se tivéssemos outras condições, teríamos feito de modo diferente, pois ficamos sempre com a sensação de que poderíamos ter feito mais! Mas, dentro deste quadro que referi, fizemos aquilo que foi possível fazer.
CJ - E pelo bem-estar dos alunos?
D – O bem-estar pode ser visto em várias vertentes: condições de trabalho, vocês sabem as condições que temos aqui na secundária. A escola viu-se em torno dessa situação e aí os pais, os alunos e até, não dando tanto a cara, os próprios professores, acabamos todos por levar a água ao moinho, uma vez que temos uma escola praticamente pronta. Mas têm que pensar que o Agrupamento é uma grande escola, isto é, uma escola que tem 217 km2, que é a área do concelho, que está dispersa. Depois, há uns que têm melhores condições que outros. Os Centros Escolares, por exemplo, têm ótimas condições de trabalho, bons equipamentos, boas Bibliotecas. Porém, há outras escolas que não são assim. O que se nota no nosso concelho é que as condições para os alunos têm vindo a melhorar e a Câmara Municipal tem tido um papel importante.
CJ – Contrariamente, há algo que fez e que lamenta ter feito? Se sim, será que nos pode revelar?
D – É natural que eu tenha cometido erros e falhas, como toda a gente. Como se costuma dizer: só falha quem faz, quem nunca faz, nunca falha! Agora os erros para os termos presentes devem ser aqueles que devem ter sido significativos, que fizeram qualquer coisa que não correu muito bem, devem ter sido um marco, ou seja, que causaram danos. Eu desses não tenho. Tenho aquelas falhas de procedimento normal, aquelas que no dia a dia, muitas das vezes, nós analisamos as situações, pensamos que é por ali o melhor caminho e depois chegamos à conclusão que não é. Eu, normalmente, falo no plural, eu sou o diretor, mas uma das coisas que eu sempre usei foi o espírito de equipa e eu não me considero o “diretor”. Aliás, os meus colegas de direção tinham o protagonismo todo, porque eu lhes dava o protagonismo todo, tinham as suas competências e tomavam decisões, tinham muita autonomia nas decisões que tomavam. É evidente que há assuntos que são partilhados, que têm de ser partilhados e discutidos em conjunto, mesmo eu, enquanto diretor, tenho competência para tomar esta ou aquela decisão, tentava sempre ouvir os meus colegas e eles faziam o mesmo, mas por vezes eu tomava as decisões sozinho, assim como eles também o faziam. Depois dávamos conhecimento, partilhávamos a tomada dessa decisão. Agora, não considero que tenha feito algo que foi uma mancha, que foi um marco, que tenha sido algo negativo. Quanto à gestão diária, quem faz gestão sabe perfeitamente que há maus caminhos e há bons caminhos e que se tenta fazer o melhor, embora nem sempre o que se idealiza é o produto final.
CJ – Como descreveria a sua vida de professor e de dirigente de um Agrupamento que inclui um número elevado de Escolas como este?
D – Isto não é fácil, aliás é uma experiência. Eu sou um professor que começou no 1º ciclo, vocês sabem disso, mas nunca me desliguei do 1º ciclo. Não é fácil para um professor que vem de uma realidade diferente. Eu fiz quase que uma escala, um percurso escalonado. Eu comecei por ser Presidente da Área Escolar, que surgiu aqui em Anadia. Aliás, Anadia foi piloto e teve essa experiência durante seis anos, depois criou-se o Agrupamento Horizontal, que tinha todo o Pré-escolar e 1º ciclo, o concelho todo, depois criou-se o Agrupamento Vertical que ia até ao 9º ano, que incluía a escola lá de baixo, tinha o Pré-escolar, 1º ciclo, 2º ciclo, 3º ciclo e depois apareceu este Mega Agrupamento que é desde o Pré-escolar até ao 12º ano. Eu subi estes degraus todos. É lógico que fui acumulando experiência, havia áreas, coisas que eu não tinha, formação específica que não dominava mas, tal como eu disse há pouco, as equipas são precisamente para isso e a minha preocupação foi sempre ter uma equipa polivalente, em que conseguíssemos ver todas as áreas e tendo uma boa equipa e tendo aquela gestão intermédia, os coordenadores de departamento, os coordenadores de estabelecimentos, os coordenadores de disciplina, tendo estas estruturas internas a funcionar é fácil chegar a todo o lado. Quer dizer, não sou omnipresente, não posso estar em todo o lado, mas nós temos em todo o lado alguém que responde pelas situações. Com esta organização é mais fácil, pois uns são mais especialistas numa área, outros são mais noutra e assim uns dominam mais umas situações do que outras e nós passamos a palavra a quem está em melhores condições de responder. Muitas das vezes temos dúvidas, reunimos, conversamos, constatamos e só assim é que se consegue fazer a gestão do chamado Mega Agrupamento. São muitos estabelecimentos, embora cada vez sejam menos porque os Centros começam a juntar as pequenas escolas e já temos poucas escolas dispersas, porém, já temos quatro Centros Escolares.
CJ – O que mais lhe agradou ao longo da sua carreira docente e, contrariamente, o que mais o desiludiu?
D – Eu não tenho grandes desilusões na minha carreira. O que mais me agradou foi as pessoas que conheci através destes anos todos, tanto como professor, como gestor, eu conheci muita gente, aprendi muita coisa, criei muitas amizades, tenho muitas amizades. Uma característica que eu me reconheço é que eu sou fácil de criar amizades e de criar boas relações. Recordo todos, desde os meus primeiros colegas do 1º ciclo, lembro-me de entrar na escola aqui em Anadia, lá em baixo, eu era o mais novito que lá estava, eu olhava para os outros professores e nem sabia como é que os havia de tratar, não sabia se os via como os meus colegas, se os via como professores. É um misto de sensações e eu passei por isso. Tive sempre apreço pelos meus colegas. Uma das coisas que eu recordo foi o apoio que eu sempre tive, desde o 1º ciclo, quando aí trabalhei com os meus colegas e depois ao longo da gestão, tanto com as direções como com os professores, pessoal não docente, os pais e as associações de pais. Aqui é importante realçar as associações de pais porque, muitas das vezes, se olha para elas como algo que está fora da escola e que vem aqui só para criar problemas. Eu nunca vi as associações assim e sempre criámos uma relação que foi até muito além do que é institucional, são as tais relações de amizade. A vantagem que consegui criar para além da relação institucional, formal, eu até pessoalmente, mesmo com o município, com a câmara, que são nossos parceiros e nós precisamos deles todos, que faz parte daquilo a que chamamos comunidade educativa, consegui, como estava a dizer, criar uma relação de amizade. Por exemplo, com a câmara, eu consigo resolver muitas situações, pois já há essa relação de amizade. Eu estou a dizer a câmara, porque é um parceiro forte que nós temos. As associações de pais têm também colaborado connosco, nomeadamente em algumas iniciativas.
CJ – Como gostaria que fosse o perfil do seu sucessor?
D – Eu acho que o meu sucessor tem bom perfil. Não é por acaso que o futuro diretor, o professor Jorge Humberto, estou a dizer futuro, porque já foi eleito mas ainda não tomou posse, tem todas as condições para ser um bom diretor. Reconheço-lhe muitas capacidades, com uma capacidade de trabalho fora do normal. Trabalhou comigo 4 anos, fui eu que o escolhi para subdiretor, porque já via nele condições para mais tarde ser diretor, ou algo no género. É lógico que as personalidades são diferentes, as pessoas são diferentes, porque há uma matriz de comportamento que eu penso que ele deve manter mais ou menos dentro do que tem vindo a seguir, mas depois há o cunho pessoal. As pessoas são diferentes, têm o seu cunho pessoal, agora eu penso que ele tem todas as condições para ser um excelente diretor. Tem capacidade de trabalho, é aplicado, como costumamos dizer “veste a camisola”, domina muitas áreas, desde a distribuição de serviço, horários, CEF, Profissionais, é talvez, dentro do Agrupamento, a pessoa que eu conheço mais polivalente. Vai ser um bom diretor.
CJ – A direção tem afirmado que vamos mudar para a escola nova. Contudo, temos ouvido que existem problemas de legalização e que as obras não vão terminar. Qual é na realidade o ponto de situação? Pode esclarecer-nos?
D – A informação que nós temos tido da Parque-Escolar, os responsáveis da obra, é que vamos ter todas as condições para o ano começar na escola nova, em setembro. Tem-nos sido dada essa garantia, inclusivamente o Conselho Geral várias vezes tentou fazer o ponto da situação e essa informação circulou nesse órgão, logo é uma informação oficial. No entanto, não posso dizer que desconheço algumas notícias que têm vindo no jornal que têm a ver com o terreno e registos, espero francamente que isso não venha a afetar a abertura da nova escola no próximo ano letivo, é só o que eu desejo. Agora, é evidente que oficialmente é para abrir!
CJ – Gostaria de acrescentar algo mais?
D – Gostaria que daqui para o futuro as coisas melhorassem em termos de aproveitamentos e comportamentos. Gostaria que muitos alunos não viessem à escola só por vir à escola. E que os alunos aproveitassem porque no futuro é que vão reconhecer o que perderam. É pena que muitos alunos, que temos aqui, além de não aproveitarem, prejudiquem ainda outros alunos.
CJ – Considera-se uma pessoa realizada?
D – Realizada uma pessoa nunca está, mas sinto-me bem comigo próprio.
CJ – Para finalizar, gostaríamos de saber o que pensa do nosso Clube?
D – Acho que é espetacular. Tem feito um trabalho bastante importante, tem divulgado o que de bom acontece na Escola. Uma vez que o que muitas das vezes acontece é que é divulgada qualquer situação menos boa que acontece na escola, um acidente por exemplo, toda a gente comenta, toda a gente sabe. Se fizermos uma coisa boa, quase ninguém sabe. Por isso, o vosso papel é importante nesse aspeto, é divulgar o que nós temos, o que nós fazemos e são muitas coisas e vocês têm tido um trabalho muito bom, de muita qualidade. Inclusivamente tem havido elementos do clube que têm sido premiados em concursos. É um Clube de salientar, é um clube que já vem de trás, mas que está em pleno, está em força, até parece que tem mais força do que a tinha. O trabalho é de qualidade, penso e é fundamental que se divulguem as coisas que nós fazemos. Agradeço-vos pessoalmente o contributo que vocês deram para a divulgação da nossa escola e dos eventos, pois conheço e reconheço o vosso trabalho.
CJ – Em nome d’O Ciclista, desejamos-lhe um bom período de descanso e agradecemos a sua colaboração.
D – Eu a vocês não desejo um período de descanso, mas que continuem a trabalhar arduamente na divulgação da nossa escola e em prol da nossa escola.
Caros leitores, a entrevista que acabaram de ler resultou mais numa conversa amena e emotiva, conforme puderam apreciar, do que numa entrevista formal que talvez estivessem à espera. Nós, que já há muito conhecemos o nosso querido diretor, nem nos admirámos muito com tal facto. Por isso, apresentamo-la tal e qual como ela decorreu…
Adriana Matos, Manuel Garruço, Margarida Lagoa e Sofia Pedrosa

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