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terça-feira, 10 de julho de 2012

Concurso “Eu Conto”


Entrevistas
Na qualidade de “jornalista” do Clube de Jornalismo, O Ciclista, senti que era dever do nosso blogue levar aos nossos leitores algo mais do que o conhecimento do texto vencedor do concurso “Eu Conto!”, promovido pelo PNL, durante a Semana da Leitura 2012. Assim o pensei, melhor o fiz e eis que, pegando na esferográfica e no meu bloco de notas, fui à procura das nossas três heroínas: a professora de Língua Portuguesa, a Dra. Sara Castela e as nossas duas colegas vencedoras, a Adriana e a Sofia. Motivo? Tentar descobrir um pouco mais sobre elas.
A seguir vou, então, apresentar-vos o que apurei da conversa que tive com estes três elementos.

Ana Patrícia Fernandes, O Ciclista


Entrevista Professora

Boa tarde, Dra. Sara! Estou aqui em nome do Clube de Jornalismo, O Ciclista, e gostaria de dialogar um pouco consigo, particularmente sobre o concurso promovido pelo PNL, “Eu Conto!”.
Patrícia, O Ciclista – Antes de lhe fazer algumas questões acerca do concurso, posso fazer-lhe algumas questões do foro pessoal?
Dra. Sara CastelaEm primeiro lugar, boa tarde, Ana Patrícia. E, sim, podes colocar as tuas questões.
Patrícia, O Ciclista – Gosta de ensinar?
Dra. Sara CastelaClaro que gosto de ensinar. De facto, sou professora, porque gosto de trabalhar com jovens como vocês. Embora, por vezes, seja extremamente difícil, quando encontramos alunos para quem a escola nada lhes diz, criando no interior da sala de aula situações um pouco desagradáveis devido à sua indisciplina e desmotivação. E, perante esta situação, é com toda a paciência, calma e persistência que tento fazer com que eles criem algum gosto pela aprendizagem, pois estão no local e no momento certo das suas vidas para desenvolver as suas capacidades e potencialidades. Por outro lado, não podemos de maneira nenhuma esquecer que o mundo é um universo de regras e é necessário que nos habituemos a elas. E a escola não é só um local de aprendizagem de matérias, mas também uma escola de atitudes e valores.
Patrícia, O Ciclista – Como é que chegou a professora de Língua Portuguesa? Sempre foi o que pretendeu?
Dra. Sara CastelaNo momento em que iniciei o meu décimo ano de escolaridade, tive uma professora excelente de Língua Portuguesa, que também lecionava as disciplinas de Latim e de Grego que fizeram parte do meu currículo escolar e que me fez ver a importância desta disciplina. De imediato, criou então em mim o desejo de vir a ser no futuro professora. E, na verdade, sendo o português a nossa língua materna, gosto de lecionar esta disciplina e como tal, procuro suscitar nos alunos o gosto pela própria língua. Por outro lado, é também minha preocupação ajudá-los a colmatar algumas falhas que, muitas das vezes, apresentam e que acabam por dificultar a aprendizagem das restantes disciplinas, principalmente no que diz respeito à interpretação das questões, à expressão oral e escrita. Pois, infelizmente, muitos dos nossos jovens nem sempre conseguem exprimir-se de forma clara e correta.
Patrícia, O Ciclista – Que anos letivos gosta mais de lecionar?
Dra. Sara CastelaEu sempre lecionei o terceiro ciclo, começando por ter turmas de 7º ano, às quais dou continuidade até ao 9º ano de escolaridade. E verifico que o ano mais difícil de lecionar é o 8º ano, fase em que os alunos começam a ter outros interesses, colocando a escola em último plano.
            Este percurso de três anos é salutar porque, chegando ao final do terceiro ciclo, começo a ver o fruto do trabalho inicial, principalmente nos alunos que têm gosto em aprender e que são persistentes face às dificuldades que vão apresentando e que procuram ultrapassar com esforço e empenho. É muito bom ver que, ao longo dos três anos, os alunos vão evoluindo ao seu ritmo e de acordo com as suas capacidades e quando chegam ao 9º ano, já são pequenos homenzinhos e pequenas mulherzinhas aptos a subirem mais um degrau na escada da vida.
Patrícia, O Ciclista – Se tivesse que optar por outra profissão, qual seria?
Dra. Sara CastelaCom toda a certeza que optaria pela mesma profissão.
Patrícia, O Ciclista – O que acha dos alunos atualmente? Pergunto não só como estudantes, mas também no que diz respeito ao seu comportamento.
Dra. Sara CastelaNa minha opinião, temos duas realidades diferentes. Há um grupo de alunos que têm prazer e gosto em aprender e como tal, para alcançarem o sucesso, envolvem-se nas atividades de forma responsável, empenhada e com espírito crítico, tendo também um bom suporte familiar. E depois existe o outro grupo de alunos que infelizmente não são tão apoiados e acompanhados pelos pais. De facto, ultimamente, todos nós estamos a passar por momentos muito difíceis. Constantemente, ouvimos falar da crise, mas as pessoas não estão a viver apenas uma crise económica, esta também é uma crise social, o que acaba por se refletir nas nossas escolas. E se pensarmos nos alunos, cujos pais pouco tempo passam em casa, sendo-lhes de todo impossível acompanhar o dia a dia escolar dos seus educandos, então, estes jovens acabam por se perder um pouco e passam a revelar um grande desinteresse e apatia em frequentar a escola. Sendo assim, acho que os problemas que temos nas nossas escolas de desmotivação e insucesso passam também pela família. Como tal, é importante que os pais acompanhem o percurso escolar dos seus educandos e primem pela exigência não só no que diz respeito à aprendizagem das matérias mas também no saber estar na escola e em sociedade.
Patrícia, O Ciclista – É difícil ser-se professora?
Dra. Sara CastelaSim, nos dias de hoje é difícil ser-se professora. E, no meu ponto de vista, a profissão docente é uma das mais difíceis, pois todos os dias deparamos com vários desafios. Ora vejamos: o professor educa, ensina o aluno a pensar; a pesquisar; a interpretar; a expressar-se de forma correta; a saber estar não só na escola, mas fora dela; a refletir e a responsabilizar-se pelas atitudes que toma; a ser solidário para com os que o rodeiam e muito, muito mais. E atenção, nem estou a fazer referência ao trabalho que temos de desenvolver para além das aulas. Por outro lado, as pessoas não podem esquecer que o professor é um ser humano como outro qualquer e também ele tem a sua família que necessita dele.
Patrícia, O Ciclista – Em relação ao concurso, promoveu em todas as turmas que tem a possibilidade de eles concorrerem?
Dra. Sara CastelaSempre que tenho conhecimento da existência de concursos, faço de imediato a sua divulgação em todas as turmas que leciono, à exceção das turmas de CEF, já que os alunos que constituem estas turmas apresentam grandes dificuldades a nível da expressão escrita e os seus interesses distanciam-se muito daqueles que se procuram atingir com a realização dos concursos literários. 
Patrícia, O Ciclista – Houve mais alunos seus que tivessem concorrido a este concurso?
Dra. Sara CastelaRelativamente ao concurso: “Eu Conto!”, promovido pelo PNL, infelizmente não tive mais alunos que quisessem participar, embora tenha insistido para tal. Mas entendo que seja um pouco complicado, na medida em que os alunos não têm apenas a disciplina de Língua Portuguesa, com a agravante (ou não!) de eu estar sempre a sugerir diversos temas para serem desenvolvidos a nível da expressão escrita. Por outro lado, ao longo do mesmo ano letivo, existem muitos concursos e em diferentes disciplinas e os alunos têm de fazer as suas escolhas.
Patrícia, O Ciclista – E da escola?
Dra. Sara CastelaDa Escola Básica nº 2 de Anadia, apenas tenho conhecimento da participação de mais uma aluna.
Patrícia, O Ciclista – Como é que levou as alunas vencedoras a escreverem o conto?
Dra. Sara CastelaBem! Sugeri-lhes, mais do que uma vez, que poderiam participar no concurso, visto que já não era a primeira vez que estariam a participar com os seus textos em concursos literários. Por outro lado, porque são duas alunas que têm prazer em escrever e seria uma pena se não participassem.
Patrícia, O Ciclista – Qual o seu contributo no conto vencedor?

Dra. Sara CastelaEu apenas me limitei a sensibilizar estas duas jovens para a sua produção, tendo esta de aprimorar pela expressão clara, correta e expressiva. E, depois, foi essa a minha preocupação, no momento em que li o conto, procedendo às respetivas correções, sempre que assim o foi necessário. Por outro lado, lembrei-as do quão era importante transmitir um conjunto de valores, através da escrita. E quem tiver a curiosidade e a vontade em ler o conto, constatará que são vários os valores que são transmitidos e que são, de facto, essenciais para uma base sólida na boa formação do ser humano.
Patrícia, O Ciclista – Como se sente, enquanto professora de Língua Portuguesa, ao saber que os seus alunos participam neste tipo de concursos?
Dra. Sara CastelaFico muito satisfeita. Pois é muito bom vermos que os nossos alunos têm dentro de si o “bichinho da escrita”. Há alunos que, à primeira proposta de escrita apresentada, interrogam-se e exclamam: “Eu, escrever?! Impossível! Não tenho jeito nenhum!”. Ora, se não tentarem, claro que será impossível não ter o tal jeito, como eles dizem. É necessário começar por algum lado e é com a persistência e vontade que este tipo de atividade terá de ser encarada. E é escrevendo pequenos textos, tomando a seguir consciência dos erros cometidos e voltar a reformulá-los que se vai aperfeiçoando o domínio da expressão escrita. E claro, é essencial que os alunos leiam. A leitura é “meio caminho andado” para que os jovens melhorem na expressão escrita e oral. 
Patrícia, O Ciclista – Como se sentiu, quando soube que duas alunas suas tinham ganho este concurso?
Dra. Sara CastelaPrimeiro, não quis acreditar. Tive até de ler a informação, que me fizeram chegar, mais do que uma vez. E claro, fiquei muito feliz e muito orgulhosa pelas nossas duas jovens e pequenas escritoras.
Patrícia, O Ciclista – Já alguma vez alunos seus tinham ganho algum concurso deste âmbito?
Dra. Sara CastelaDeste âmbito não, mas sim noutros. Por exemplo, no ano letivo anterior, uma aluna minha de 9º ano foi vencedora no concurso: “Ler & Aprender”, promovido pela Biblioteca Municipal de Anadia, no texto de género narrativo.
Patrícia, O Ciclista – Como foi a cerimónia de entrega dos prémios?
Dra. Sara CastelaDo meu ponto de vista, a cerimónia foi muito bonita e com um certo cariz familiar, tendo em conta a forma como as várias individualidades comunicaram com as crianças e os jovens vencedores bem como com o público presente, constituído pelos pais dos participantes e os respetivos professores. Na verdade, a maneira como se dirigiram ao público presente foi numa linguagem simples, acessível mas ao mesmo tempo expressiva. E diante de nós, os presentes, estavam então grandes personalidades e que passo a referir: o Senhor Comissário do Plano Nacional de Leitura, Dr. Fernando Pinto do Amaral; a Senhora Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, Dra. Isabel Leite; o Senhor Presidente do Comité Executivo do Banco Popular, Dr. Rui Semedo; Senhor Presidente do CCB e o escritor, Dr. Vasco Graça Moura. Ora, diante de tais entidades, claro que pairava no ar o nervosismo, mas ao mesmo tempo a alegria de estar a viver esse momento.
Patrícia, O Ciclista – O que apreciou mais nessa cerimónia?
Dra. Sara CastelaGostei de ver, no rosto dos vários vencedores, a sua satisfação mesclada ao mesmo tempo com o nervosismo, no momento em que estavam a ser elogiados pelo facto de se dedicarem à escrita, dando vida e uma grande beleza às palavras utilizadas nos diferentes trabalhos que foram apresentados e que, entre muitos, foram os selecionados. Por outro lado, há ainda a destacar a grande alegria por parte dos vencedores, no momento em que foram chamados ao palco a fim de serem felicitados e de lhes serem entregues os seus respetivos prémios, posando a seguir para a fotografia, momento que ficará para sempre registado na memória de todos. 
Patrícia, O Ciclista – Gostaria de deixar uma mensagem para as vencedoras?
Dra. Sara CastelaClaro que sim, quero dizer-lhes que para mim foi um grande orgulho que ambas tivessem participado neste concurso bem como naqueles em que também já participaram. E, enquanto leitora assídua dos seus textos, fico à espera de muitos mais!
Patrícia, O Ciclista – E para os seus outros alunos?
Dra. Sara Castela Para os outros alunos, gostaria de lhes lembrar mais uma vez o quão é importante ler e consequentemente, escrever. Na verdade, para mim é muito importante que os alunos criem prazer quer pela leitura quer pela escrita. É assim uma forma de poderem desenvolver a criatividade, o espírito crítico ao mesmo tempo que adquirem novos conhecimentos e enriquecem o seu vocabulário, aperfeiçoando assim a expressão oral e escrita. Por outro lado, quero felicitar todos aqueles alunos que, ao longo deste ano letivo, se prontificaram a desenvolver as várias propostas de escrita que lhes foram sugeridas, constatando-se assim o seu progresso pela qualidade crescente da sua escrita, como se pode comprovar com os vários textos, que têm vindo a ser publicados no blogue d’ “O Ciclista”.
            Para finalizar, lembro que a escrita é uma longa caminhada que deverá ser posta em prática com vontade, gosto e persistência. Por isso, espero que os meus alunos e todos os outros dediquem, nestas férias, algum do seu tempo à leitura, pois permitir-lhes-á viajar por esse mundo fora sem terem que sair do seu lugar e sempre que sentirem vontade, peguem numa caneta ou num lápis e criem os vossos pequenos textos. Deem assim vida à vossa imaginação, aos vossos pensamentos e às palavras, com as quais poderão “pintar” pequenos mas magníficos “quadros”.
Patrícia, O Ciclista – E, já agora, para os leitores d’ “O Ciclista”?
Dra. Sara CastelaPara os leitores do blogue “O Ciclista”, quero desejar-lhes umas boas férias, recheadas de boas leituras.
Patrícia, O Ciclista – Muito obrigada pela sua disponibilidade. Agradeço-lhe em nome d´O Ciclista.
Dra. Sara Castela – De nada! Eu é que agradeço este momento que foi muito enriquecedor e agradável.


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