Entrevistas
Na qualidade
de “jornalista” do Clube de Jornalismo, O
Ciclista, senti que era dever do nosso blogue levar aos nossos leitores
algo mais do que o conhecimento do texto vencedor do concurso “Eu Conto!”,
promovido pelo PNL, durante a Semana da Leitura 2012. Assim o pensei, melhor o
fiz e eis que, pegando na esferográfica e no meu bloco de notas, fui à procura
das nossas três heroínas: a professora de Língua Portuguesa, a Dra. Sara
Castela e as nossas duas colegas vencedoras, a Adriana e a Sofia. Motivo?
Tentar descobrir um pouco mais sobre elas.
A seguir
vou, então, apresentar-vos o que apurei da conversa que tive com estes três
elementos.
Ana
Patrícia Fernandes, O Ciclista
Entrevista Professora
Boa
tarde, Dra. Sara! Estou aqui em nome do Clube de Jornalismo, O Ciclista, e gostaria de dialogar um
pouco consigo, particularmente sobre o concurso promovido pelo PNL, “Eu
Conto!”.
Patrícia, O Ciclista
– Antes de lhe fazer algumas questões acerca do concurso, posso fazer-lhe
algumas questões do foro pessoal?
Dra. Sara Castela
– Em primeiro lugar, boa tarde, Ana Patrícia. E, sim,
podes colocar as tuas questões.
Patrícia, O Ciclista
– Gosta de ensinar?
Dra. Sara Castela
– Claro que gosto de ensinar. De facto, sou professora,
porque gosto de trabalhar com jovens como vocês. Embora, por vezes, seja
extremamente difícil, quando encontramos alunos para quem a escola nada lhes
diz, criando no interior da sala de aula situações um pouco desagradáveis
devido à sua indisciplina e desmotivação. E, perante esta situação, é com toda
a paciência, calma e persistência que tento fazer com que eles criem algum
gosto pela aprendizagem, pois estão no local e no momento certo das suas vidas
para desenvolver as suas capacidades e potencialidades. Por outro lado, não
podemos de maneira nenhuma esquecer que o mundo é um universo de regras e é
necessário que nos habituemos a elas. E a escola não é só um local de
aprendizagem de matérias, mas também uma escola de atitudes e valores.
Patrícia, O Ciclista
– Como é que chegou a professora de Língua Portuguesa? Sempre foi o que
pretendeu?
Dra. Sara Castela
– No momento em que iniciei o meu décimo ano de
escolaridade, tive uma professora excelente de Língua Portuguesa, que também
lecionava as disciplinas de Latim e de Grego que fizeram parte do meu currículo
escolar e que me fez ver a importância desta disciplina. De imediato, criou então
em mim o desejo de vir a ser no futuro professora. E, na verdade, sendo o
português a nossa língua materna, gosto de lecionar esta disciplina e como tal,
procuro suscitar nos alunos o gosto pela própria língua. Por outro lado, é
também minha preocupação ajudá-los a colmatar algumas falhas que, muitas das
vezes, apresentam e que acabam por dificultar a aprendizagem das restantes
disciplinas, principalmente no que diz respeito à interpretação das questões, à
expressão oral e escrita. Pois, infelizmente, muitos dos nossos jovens nem
sempre conseguem exprimir-se de forma clara e correta.
Patrícia, O Ciclista
– Que anos letivos gosta mais de lecionar?
Dra. Sara Castela
– Eu sempre lecionei o terceiro ciclo, começando por ter
turmas de 7º ano, às quais dou continuidade até ao 9º ano de escolaridade. E
verifico que o ano mais difícil de lecionar é o 8º ano, fase em que os alunos
começam a ter outros interesses, colocando a escola em último plano.
Este percurso de três anos é salutar
porque, chegando ao final do terceiro ciclo, começo a ver o fruto do trabalho
inicial, principalmente nos alunos que têm gosto em aprender e que são
persistentes face às dificuldades que vão apresentando e que procuram
ultrapassar com esforço e empenho. É muito bom ver que, ao longo dos três anos,
os alunos vão evoluindo ao seu ritmo e de acordo com as suas capacidades e
quando chegam ao 9º ano, já são pequenos homenzinhos e pequenas mulherzinhas
aptos a subirem mais um degrau na escada da vida.
Patrícia, O Ciclista
– Se tivesse que optar por outra profissão, qual seria?
Dra. Sara Castela
– Com toda a certeza que optaria pela mesma profissão.
Patrícia, O Ciclista
– O que acha dos alunos atualmente? Pergunto não só como estudantes, mas também
no que diz respeito ao seu comportamento.
Dra. Sara Castela
– Na minha opinião, temos
duas realidades diferentes. Há um grupo de alunos que têm prazer e gosto em
aprender e como tal, para alcançarem o sucesso, envolvem-se nas atividades de
forma responsável, empenhada e com espírito crítico, tendo também um bom
suporte familiar. E depois existe o outro grupo de alunos que infelizmente não
são tão apoiados e acompanhados pelos pais. De facto, ultimamente, todos nós estamos
a passar por momentos muito difíceis. Constantemente, ouvimos falar da crise,
mas as pessoas não estão a viver apenas uma crise económica, esta também é uma
crise social, o que acaba por se refletir nas nossas escolas. E se pensarmos
nos alunos, cujos pais pouco tempo passam em casa, sendo-lhes de todo
impossível acompanhar o dia a dia escolar dos seus educandos, então, estes
jovens acabam por se perder um pouco e passam a revelar um grande desinteresse
e apatia em frequentar a escola. Sendo assim, acho que os problemas que temos
nas nossas escolas de desmotivação e insucesso passam também pela família. Como
tal, é importante que os pais acompanhem o percurso escolar dos seus educandos
e primem pela exigência não só no que diz respeito à aprendizagem das matérias
mas também no saber estar na escola e em sociedade.
Patrícia, O Ciclista
– É difícil ser-se professora?
Dra. Sara Castela
– Sim, nos dias de hoje é difícil ser-se professora. E,
no meu ponto de vista, a profissão docente é uma das mais difíceis, pois todos
os dias deparamos com vários desafios. Ora vejamos: o professor educa, ensina o
aluno a pensar; a pesquisar; a interpretar; a expressar-se de forma correta; a
saber estar não só na escola, mas fora dela; a refletir e a responsabilizar-se
pelas atitudes que toma; a ser solidário para com os que o rodeiam e muito,
muito mais. E atenção, nem estou a fazer referência ao trabalho que temos de
desenvolver para além das aulas. Por outro lado, as pessoas não podem esquecer
que o professor é um ser humano como outro qualquer e também ele tem a sua
família que necessita dele.
Patrícia, O Ciclista
– Em relação ao concurso, promoveu em todas as turmas que tem a possibilidade
de eles concorrerem?
Dra. Sara Castela
– Sempre que tenho conhecimento da existência de
concursos, faço de imediato a sua divulgação em todas as turmas que leciono, à
exceção das turmas de CEF, já que os alunos que constituem estas turmas
apresentam grandes dificuldades a nível da expressão escrita e os seus
interesses distanciam-se muito daqueles que se procuram atingir com a
realização dos concursos literários.
Patrícia, O Ciclista
– Houve mais alunos seus que tivessem concorrido a este concurso?
Dra. Sara Castela
– Relativamente ao concurso: “Eu Conto!”, promovido pelo
PNL, infelizmente não tive mais alunos que quisessem participar, embora tenha
insistido para tal. Mas entendo que seja um pouco complicado, na medida em que
os alunos não têm apenas a disciplina de Língua Portuguesa, com a agravante (ou
não!) de eu estar sempre a sugerir diversos temas para serem desenvolvidos a
nível da expressão escrita. Por outro lado, ao longo do mesmo ano letivo,
existem muitos concursos e em diferentes disciplinas e os alunos têm de fazer
as suas escolhas.
Patrícia, O Ciclista
– E da escola?
Dra. Sara Castela
– Da Escola Básica nº 2 de Anadia, apenas tenho
conhecimento da participação de mais uma aluna.
Patrícia, O Ciclista
– Como é que levou as alunas vencedoras a escreverem o conto?
Dra. Sara Castela
– Bem! Sugeri-lhes, mais do que uma vez, que poderiam
participar no concurso, visto que já não era a primeira vez que estariam a
participar com os seus textos em concursos literários. Por outro lado, porque
são duas alunas que têm prazer em escrever e seria uma pena se não
participassem.
Patrícia, O Ciclista
– Qual o seu contributo no conto vencedor?
Dra. Sara Castela
– Eu apenas me limitei a sensibilizar estas duas jovens
para a sua produção, tendo esta de aprimorar pela expressão clara, correta e
expressiva. E, depois, foi essa a minha preocupação, no momento em que li o
conto, procedendo às respetivas correções, sempre que assim o foi necessário.
Por outro lado, lembrei-as do quão era importante transmitir um conjunto de
valores, através da escrita. E quem tiver a curiosidade e a vontade em ler o
conto, constatará que são vários os valores que são transmitidos e que são, de
facto, essenciais para uma base sólida na boa formação do ser humano.
Patrícia, O Ciclista
– Como se sente, enquanto professora de Língua Portuguesa, ao saber que os seus
alunos participam neste tipo de concursos?
Dra. Sara Castela
– Fico muito satisfeita. Pois é muito bom vermos que os
nossos alunos têm dentro de si o “bichinho da escrita”. Há alunos que, à
primeira proposta de escrita apresentada, interrogam-se e exclamam: “Eu,
escrever?! Impossível! Não tenho jeito nenhum!”. Ora, se não tentarem, claro
que será impossível não ter o tal jeito, como eles dizem. É necessário começar
por algum lado e é com a persistência e vontade que este tipo de atividade terá
de ser encarada. E é escrevendo pequenos textos, tomando a seguir consciência
dos erros cometidos e voltar a reformulá-los que se vai aperfeiçoando o domínio
da expressão escrita. E claro, é essencial que os alunos leiam. A leitura é
“meio caminho andado” para que os jovens melhorem na expressão escrita e oral.
Patrícia, O Ciclista
– Como se sentiu, quando soube que duas alunas suas tinham ganho este concurso?
Dra. Sara Castela
– Primeiro, não quis acreditar. Tive até de ler a
informação, que me fizeram chegar, mais do que uma vez. E claro, fiquei muito
feliz e muito orgulhosa pelas nossas duas jovens e pequenas escritoras.
Patrícia, O Ciclista
– Já alguma vez alunos seus tinham ganho algum concurso deste âmbito?
Dra. Sara Castela
– Deste âmbito não, mas sim noutros. Por exemplo, no ano
letivo anterior, uma aluna minha de 9º ano foi vencedora no concurso: “Ler
& Aprender”, promovido pela Biblioteca Municipal de Anadia, no texto de género narrativo.
Patrícia, O Ciclista
– Como foi a cerimónia de entrega dos prémios?
Dra. Sara Castela
– Do meu ponto de vista, a cerimónia foi muito bonita e
com um certo cariz familiar, tendo em conta a forma como as várias
individualidades comunicaram com as crianças e os jovens vencedores bem como
com o público presente, constituído pelos pais dos participantes e os
respetivos professores. Na verdade, a maneira como se dirigiram ao público
presente foi numa linguagem simples, acessível mas ao mesmo tempo expressiva. E
diante de nós, os presentes, estavam então grandes personalidades e que passo a
referir: o Senhor Comissário do Plano Nacional de Leitura, Dr.
Fernando Pinto do Amaral; a Senhora Secretária de Estado do Ensino Básico e
Secundário, Dra. Isabel Leite; o Senhor Presidente do Comité Executivo do Banco
Popular, Dr. Rui Semedo; Senhor Presidente do CCB e o escritor, Dr. Vasco Graça
Moura. Ora, diante de tais entidades, claro que pairava no ar o nervosismo, mas
ao mesmo tempo a alegria de estar a viver esse momento.
Patrícia, O Ciclista
– O que apreciou mais nessa cerimónia?
Dra. Sara Castela
– Gostei de ver, no rosto dos vários vencedores, a sua
satisfação mesclada ao mesmo tempo com o nervosismo, no momento em que estavam
a ser elogiados pelo facto de se dedicarem à escrita, dando vida e uma grande
beleza às palavras utilizadas nos diferentes trabalhos que foram apresentados e
que, entre muitos, foram os selecionados. Por outro lado, há ainda a destacar a
grande alegria por parte dos vencedores, no momento em que foram chamados ao
palco a fim de serem felicitados e de lhes serem entregues os seus respetivos
prémios, posando a seguir para a fotografia, momento que ficará para sempre
registado na memória de todos.
Patrícia, O Ciclista
– Gostaria de deixar uma mensagem para as vencedoras?
Dra. Sara Castela
– Claro que sim, quero dizer-lhes que para mim foi um
grande orgulho que ambas tivessem participado neste concurso bem como naqueles
em que também já participaram. E, enquanto leitora assídua dos seus textos,
fico à espera de muitos mais!
Patrícia, O Ciclista
– E para os seus outros alunos?
Dra. Sara Castela
– Para os outros alunos, gostaria de lhes lembrar mais
uma vez o quão é importante ler e consequentemente, escrever. Na verdade, para
mim é muito importante que os alunos criem prazer quer pela leitura quer pela
escrita. É assim uma forma de poderem desenvolver a criatividade, o espírito
crítico ao mesmo tempo que adquirem novos conhecimentos e enriquecem o seu
vocabulário, aperfeiçoando assim a expressão oral e escrita. Por outro lado,
quero felicitar todos aqueles alunos que, ao longo deste ano letivo, se
prontificaram a desenvolver as várias propostas de escrita que lhes foram
sugeridas, constatando-se assim o seu progresso pela qualidade crescente da sua
escrita, como se pode comprovar com os vários textos, que têm vindo a ser
publicados no blogue d’ “O Ciclista”.
Para finalizar, lembro que a escrita
é uma longa caminhada que deverá ser posta em prática com vontade, gosto e
persistência. Por isso, espero que os meus alunos e todos os outros dediquem,
nestas férias, algum do seu tempo à leitura, pois permitir-lhes-á viajar por
esse mundo fora sem terem que sair do seu lugar e sempre que sentirem vontade,
peguem numa caneta ou num lápis e criem os vossos pequenos textos. Deem assim
vida à vossa imaginação, aos vossos pensamentos e às palavras, com as quais
poderão “pintar” pequenos mas magníficos “quadros”.
Patrícia, O Ciclista
– E, já agora, para os leitores d’ “O
Ciclista”?
Dra. Sara Castela
– Para os leitores do blogue “O Ciclista”, quero
desejar-lhes umas boas férias, recheadas de boas leituras.
Patrícia, O Ciclista
– Muito obrigada pela sua disponibilidade. Agradeço-lhe em nome d´O Ciclista.
Dra. Sara Castela – De nada! Eu
é que agradeço este momento que foi muito enriquecedor e agradável.
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