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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O tempo passa

Dia Internacional das Migrações
Nos anos 60, do século XX, quem emigrava clandestinamente recorrendo a um passador, conhecia muito bem o “código da fotografia rasgada”. O passador guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua “passagem”. 
Esta é a minha história sobre esse passado…
Quero apenas contar uma de tantas histórias que ainda continuam a ser uma realidade no dia de hoje, em que se comemora o Dia Internacional das Migrações.



O tempo passa
Parece que foi ontem e, ao mesmo tempo, já quase nem recordo o dia que pela primeira vez tive consciência que iam partir. Deixámos-vos em vossa casa, a de Portugal. Mas sabia ou soube, nesse dia, que no dia seguinte já estariam longe… noutro lugar, numa outra casa, num outro país. Em frente a vós, fui sorrindo, abracei, beijei… despedi-me.
Quando regressava a casa, a torrente de lágrimas invadiu-me e então, deixei que os gritos invadissem a minha alma e explodi-os pela minha boca, tal era o vulcão em plena atividade.
Nesse dia, ainda quase um bebé, não percebia bem o que se estava a passar. Os pais explicaram que vocês tinham de ir para França, pois iam trabalhar. Mas voltariam novamente no verão… Não ia demorar. Todavia, ainda era verão e o tempo, nessa altura, era uma ilusão para mim!
Entretanto, o tempo foi passando, passando. Vocês foram indo e, de facto, regressavam sempre no verão.
Chegámos a ir visitar-vos e foi tão bom! Durante a viagem, eu sempre ia a perguntar se já estávamos perto. Depois, finalmente me deparava com a surpresa dos avós e com a beleza branca da neve. O frio lá fora fazia-se sentir, enquanto nós estávamos no quentinho a deliciarmo-nos com as pipocas estaladiças, ao mesmo tempo que víamos a neve que lá fora nos presenteava com o seu espetáculo.
Não sabem a satisfação que tivemos, quando o pai me disse que vocês estavam aposentados. Aí sonhei! Sim, era agora. Vinham definitivamente para Portugal. Erro meu!
Desculpas e mais desculpas do avô, pois a avó estaria aqui… Mas, sim vamos passar mais tempo por cá! Em tudo eu acreditei. Mas, afinal, não passou de mais uma ilusão. Feitas as contas: tal ainda não aconteceu. Tu vais por um mês, depois são dois, três,… e voltas, passado muito mas mesmo muito tempo depois.
E quando estás cá? Bem, a história repete-se. Falas sempre em partir. Papelada para aqui, papelada para ali. Há sempre tanto para fazer em França! E queres sempre arrastar a avó contigo.
Para avô! Pelo menos uma vez na tua vida pensa em ti, nos teus, pensa em mim e na tua outra neta.
Pensa em como gostaríamos de te ter connosco e de desfrutar da tua companhia. De viver sem a sombra da tua migração constante!


Adriana Matos, O Ciclista




Nota:
A primeira imagem foi retirada da Internet.

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