Hoje publicamos dois textos que têm a ver com a estrutura do "Auto da Barca do Inferno", a complexa alegoria dramática de Gil Vicente, mas com figuras da actualidade. Por isso, têm um formato do texto diferente: com diálogo e a presença constante do Diabo e do Anjo.
Vamos apreciar o trabalho de duas das nossas alunas…
Graça Matos, O Ciclista
A PASSAGEM DE TOINO CARTEIRA NO MUNDO DO ALÉM…
Toino Carteira, com um microfone na mão e um grande casaco de cabedal, chegando à barca do Arrais Infernal, diz:
Toino – Hou da barca?! Houlá! Hou! Para onde é o destino?
Diabo – Para o céu ardente.
Toino- Céu ardente quer dizer Inferno?! Huumm, acho que me enganei na barca.
Diabo – Olhe que não. E neste momento nem os seus sonhos de menino o safam das brasas infernais.
Toino – O que está você para aí a dizer?! Vou realmente até à outra barca que aqui não se aprende nada.
Entretanto, à medida que se vai aproximando da barca do Anjo, vai cantarolando o que lhe vai na cabeça: “E hoje a cantar em cada canção…”
Toino - Hou da barcaaaaaa! Podeis levar-me convosco?
Anjo – Que quereis?
Toino – Quero um lugar na vossa barca confortável.
Anjo – Na minha barca?! Olha-me outro sem vergonha na cara!
Toino – Desculpe?! Não estou a entender.
Anjo – Não é desculpe, não! Vós andastes descaradamente a trocar a vossa pobre mulher Ternanda pela Popota e ainda arranjastes uma namorada para o vosso filho Michel. Sabeis bem de quem vos falo, a Leopoldina.
Toino – Ó meu senhor, deveis estar profundamente enganado. Eu não troquei a minha querida mulher, a minha chuchu, muito menos pela Popota. Eu sou um profissional que não misturo trabalho com a vida pessoal.
Anjo – Ó meu filho, não me deis mais trabalho. Voltai à barca do Diabo e entrai, entrai nela e não digais mais nada.
Toino – Tem mesmo que ser?
Diabo – Sim, minha rica alma! Voltai para aqui e entrai e juntos iremos a caminho das chamas infernais.
Toino – Está bem! O que hei-de eu fazer? Tal como digo: “É a vida que eu escolhi” Mas que mal é que eu fiz?
Diabo – Entrai, entrai, que cá nos entenderemos.
Beatriz Cruz, 9º F, nº 2
A PASSAGEM DE TRISTIANO REINALDO
Hoje, soube-se a notícia de que Tristiano Reinaldo se dirigiu ao Mundo do Além, por ter sofrido um acidente de carro. Entretanto, quando chega ao cais, leva consigo uma bola de futebol e um harém de raparigas bonitas à sua volta.
Tristiano R. – Hou da barca! Hou da barca! Não me ouvis?
Diabo- Ó amigo, há quanto tempo espero por si!
Tristiano R. – Para onde vai esta barca?
Diabo – Para a ilha da moda.
Tristiano R. – Essas palavras até me soam bem, mas para onde vai esta barca?
Diabo – Para o Inferno, meu senhor.
Tristiano R. – Ah! Mas eu aí não entro. Por acaso, não há por aí outra barca para a minha senhoria e para as minhas meninas?
Diabo – Chega de cerimónias! Entra, entra, pois tu pertences-me! E olha que, no interior da barca, está à tua espera um banco muito confortável. Aliás, é de pele ardente feito especialmente para ti.
Tristiano R. – Diacho do Diabo que está teimoso! Ainda por cima até já me trata por tu.
Tristiano Ronaldo, ignorando as palavras do Diabo, afasta-se da barca e dirige-se para a barca do anjo, gritando:
Tristiano R. – Hou da barca!
Anjo – Sim, que desejas?
Tristiano R. – Saber qual o destino desta barca.
Anjo – Aqui, não há espaço para a tua senhoria, nem para os teus pecados.
Tristiano R. – Não sabe quem sou eu, pois não?!
Anjo – Sei, sim. És mais um pecador e dos mais presunçosos que conheço. Um homem podre de rico que desprezou os mais pequenos. Só quiseste saber da tua fama e das mulheres que estavam sempre ao teu redor.
Tristiano R. – Isso não é bem verdade, eu sempre ajudei a minha família e sempre gostei muito de crianças.
Anjo – Gostaste, porque eram elas que te davam a fama. Quantas vezes lhes davas o teu autógrafo só para ficares bem na fotografia?!
Tristiano R. – Não era bem assim e em relação às mulheres, elas é que se atiravam a mim.
Anjo – Pois, e as mulheres a quem tu te juntaste e logo a seguir te separaste?! Coitadas, o quanto elas sofreram! Sendo assim, tu não tinhas nem nunca tiveste uma vida digna do Paraíso.
Tristiano R. – Ok! Como queira.
Tristiano Reinaldo, triste e desiludido, volta a dirigir-se à barca do arrais infernal e quando este o avista, diz alegremente:
Diabo – ‘Tás a ver, acabam todos por comer nas minhas mãos. Hihihihihi…. Quem dá de comer merece sempre o pedaço final.
Tristiano R. – Que venha a prancha. Já vi que o meu destino está traçado. Foi traçado por mim, então assim seja.
E a festa continua.
Maria José, nº 13, 9º F
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