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terça-feira, 26 de julho de 2022

As aparências iludem

Lá estavam elas a subir a rampa da escola, como todos os dias, desde o quinto ano.

A Sara, com aquela expressão típica que diz “não quero saber” e, ao seu lado, a Marta, com aquele sorriso contagiante que não lhe sai da cara. Até parece forçado, mas já chego lá…

  O único sentimento que conseguimos identificar na Sara é a felicidade. Quando ela está feliz, não para de rir por nada, esteja onde estiver, mas raramente está assim. Todos os dias de manhã, antes das aulas, dirige-se à cantina para estar com os seus dois melhores amigos que são praticamente como ela, enquanto a Marta vai até à sala sozinha para não se atrasar.

Embora pareça sempre muito feliz, a vida da Marta está longe de ser perfeita: o seu pai chega todos os dias a casa tarde e maldisposto do trabalho e descarrega a sua frustração na filha. Não lhe bate, como é óbvio, mas implica sempre com ela por coisas insignificantes; a sua avó está com Alzheimer, num lar, e o avô parece que anda constantemente triste por causa das saudades que tem da sua mulher. Os seus avós paternos faleceram os dois no ano passado, causando assim uma enorme angústia a toda a família. Para piorar a situação, as suas amigas tratam-na como se ela fosse um objeto, quando já não há mais nada em que ela as possa ajudar, simplesmente param de falar com ela. Ela tem consciência de que há outros em situações muito piores do que a sua, mas, mesmo assim, custa.

Uma dessas pessoas é a Sara, para quem a escola é a única parte boa na sua vida, porque quando chega a casa…

             Na terça-feira passada, assim que chegou, viu a mãe, na cozinha, a limpar o sangue que lhe escorria da parte de cima da sobrancelha, e, ao ver o pai limpar as mãos ensanguentadas, percebeu que o corte da mãe não tinha sido um acidente. Além dos pais, a Sara não tinha mais nenhuma família chegada, não tendo mais nenhum lugar para onde ir… Não tinha uma vida fácil, mas, pelo menos, tinha aqueles dois amigos, que eram tudo o que precisava.

Assim que a Sara e a Marta se conheceram nunca mais se separaram, uma vez que traziam à superfície o melhor uma da outra. Como é evidente, não era uma amizade perfeita, mas era a ideal para ultrapassar estes traumas.

As coisas acabaram por melhorar: o pai da Sara foi preso, porque acabou por se descobrir que a violência doméstica não era o seu único crime. Embora a situação com a avó da Marta não tenha melhorado, a sua amizade com a Sara fez com que as coisas fossem menos complicadas.

Isabel Verdade, 8.º E

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