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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

As nossas memórias...

De vez em quando sentamo-nos nas asas do tempo e visitamos as nossas memórias.
Quando eu era miúda, a televisão era coisa a inventar e, quando apareceu, era maravilha que apenas se podia admirar nas prateleiras dos cafés – prateleiras feitas a propósito e pregadas numa parede a uma altura estudada para que todos os clientes pudessem ver o ecrã e espantar-se com o engenho dos homens. Como é que podiam colocar, dentro de uma caixa tão pequena, homens, cavalos, carros, casas, cidades inteiras?!!
Sem televisão, computador, Internet e outras maravilhas da tecnologia que hoje já não maravilham por vulgares, restava-nos a nós, crianças de então, a imaginação para criar mundos, visitar países, viver a nossa second life.
Bebíamos nos livros a inspiração para a nossa fantasia e a curiosidade e o gosto pelo conhecimento de outras realidades criaram, em muitos de nós, o gosto pela leitura.
É, assim, que eu recordo a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian: uma carrinha com prateleiras a abarrotar de livros em todas as "paredes”. Parava na “Feira” da minha terra (uma espécie de praça onde se realizava uma feira mensal), uma vez por mês, à 2ª feira.
Entrei na carrinha pela primeira vez, pela mão do meu pai, tinha acabado a 2ª classe. Lembro os pequenos livros que o Sr. Professor Pêga, o “bibliotecário”, me recomendava então: as ilustrações, as histórias de príncipes e princesas que eram felizes para sempre ficaram na memória. E o primeiro livro “grande” que eu li, ainda na 3ª classe: a história atribulada da pequena Heidie, do seu velho avô e do amigo Pedro que viviam nas montanhas que gelavam no Inverno, lá num país que eu não sabia onde ficava.
E foi nessa biblioteca itinerante que eu alimentei a minha imaginação, fantasiei mundos que eram só meus, aprendi a respeitar e a amar os livros.
Por causa dela acompanhei os cinco em todas as suas aventuras, viajei com Júlio Verne, vi episódios da nossa história pelos olhos de Alexandre Herculano, conheci outras histórias e outros autores. Por causa dela cresci e fui feliz.
A Biblioteca Itinerante da Gulbenkian estacionava na minha aldeia ao final da tarde, no largo da feira, uma vez por mês. E nós, jovens e adultos, fazíamos fila para entregar os livros lidos e requisitar outros (máximo de 7 volumes…) e usufruir de um verdadeiro serviço público.

Miquelina Melo, professora

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