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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Sonhos do tamanho do mundo

Era uma vez uma menina com sonhos do tamanho do mundo. Sonhava torná-lo um lugar cor de rosa, tal como eram todos aqueles lugares dos contos com finais felizes que ela lia. Esses contos falavam do mundo como sendo um lugar seguro, sem pessoas más, sem guerras, sem tristeza, sem um fim. Havia sempre um príncipe encantado em busca da sua princesa e, uma vez que a encontrava, casavam e viviam felizes para sempre.

À medida que essa menina foi crescendo, foi percebendo que na realidade as coisas não eram assim tão simples. Consigo cresceram também as suas inseguranças, aquelas malditas que a fizeram construir um grande muro à sua volta, para que ninguém lá conseguisse entrar. Para construir esse muro, inspirou-se num dos seus contos preferidos. Com um final feliz, claro! Pensou que se tivesse essa proteção, então nenhuma bruxa má a iria magoar. A verdade é que o inevitável aconteceu (a menina não podia viver isolada, era necessário contactar com quem vivia à sua volta...) e essa bruxa má apareceu e trepou o muro. Ao trepar o muro, a bruxa complicou imenso a vida da menina e causou-lhe imensa dor e sofrimento. Crescer era muito mais difícil do que alguma pensara! Não havia outro remédio e a bruxa não iria levar a melhor! A menina percebeu que o melhor a fazer era pegar nesses sentimentos e transformá-los em algo positivo, em força, coragem e perseverança. E assim fez.

Encontrou nos seus amigos e na sua família os pilares fundamentais da sua vida. Expressava-se e demonstrava livremente os seus sentimentos. Aquela menina indefesa e insegura tornara-se agora num poço de energia e alegria, necessitava do sorriso e do conforto que um simples abraço confere para ser feliz.

Um dia, um vírus atingiu o seu país e as pessoas foram obrigadas a estar em isolamento social, ou seja, tinham que cumprir quarentena e não podiam sair de casa. A rapariga estava a debater-se com tempos extremamente difíceis, pois uma vez que era agora uma pessoa extremamente comunicativa e necessitava dos abraços, via-se impedida de conviver. Sentia-se vazia e era difícil fingir sorrisos, tinha imensas saudades dos seus amigos e de todas aquelas pessoas que no dia a dia lhe pareciam “insignificantes”, mas que, sabia agora, eram tão importantes! Acima de tudo, sentia falta da sua família que, apesar de pequena, era grande aos seus olhos.

Nos livros, encontrou o escape ideal. Ao lê-los, sentia que podia ser tudo aquilo que quisesse e que podia pintar o mundo das mais variadas cores. A leitura conferia-lhe uma espécie de super-poderes que a faziam sentir-se como nunca antes se sentira. Os livros eram a sua companhia. Com eles podia rir, chorar, abraçar, conversar... O isolamento passou a ser menos penoso e o seu local de eleição era o cadeirão que estava na sala, ao lado da estante. Era lá que a podiam encontrar, era aí que empreendia grandes viagens e conhecia lugares e pessoas extraordinárias...

Como tudo na vida, este período mostrou-lhe uma perspetiva diferente daquilo que somos e da importância de cada um. Passou a dar mais valor a pequenos detalhes e não simplesmente aos bens materiais. Percebeu que o importante no conto que é a nossa vida, não é termos um príncipe encantado à nossa espera nem uma valiosa fortuna que podemos desperdiçar. O importante é aproveitar e fazer o máximo em cada segundo sendo nós próprios, autênticos, porque é isso que nos diferencia uns dos outros e que faz a vida perfeitamente imperfeita.

Apesar de saber que não existem contos perfeitos, com finais felizes garantidos, esta menina continua a sonhar. ´

À leitura, que a continua a acompanhar, juntou outro prazer recentemente descoberto. É que se a leitura nos transforma e faz melhores, a escrita tem outro poder: é a arma mais pacífica que podemos usar e ajuda igualmente a manter firme a esperança de que vai correr tudo bem.

   Era uma vez uma menina com sonhos do tamanho do mundo...   

Constança Almeida ,10.º ano, EBSA

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