Endereço de correio eletrónico

ociclista@aeanadia.pt

sábado, 20 de outubro de 2012

Sociedade de informação e comunicação


Atravessamos um período em que se pode afirmar que a tecnologia domina a sociedade. Não questiono a sua importância na vida do Homem, pois considero-a de assaz importância. No entanto, talvez seja o momento de nos debruçarmos sobre os efeitos que o seu uso, quiçá abusivo, pode acarretar na socialização, particularmente dos nossos jovens.
A ideia de fazer a apresentação que amanhã divulgaremos teve origem num correio eletrónico enviado por um colega nosso. Apreciadas as imagens considerámos que seria interessante apresentá-las aos nossos leitores. Arregaçamos as mangas e investigámos algumas outras na Internet e, embora fazendo-o de um modo ligeiramente humorístico, quisemos principalmente alertar para os seus efeitos.
Com a apresentação das imagens e dos comentários (alguns dos quais não são da nossa autoria, mas adaptados), pretendemos despertar todos os Ciclistas para uma realidade que tem vindo a aumentar de modo exponencial.
As imagens feitas em escolas fossem elas em espaços exteriores, os chamados recreios, fossem em salas de aula, a partir de telemóveis de alunos e por eles divulgadas na “Net”, chocaram o mundo.
Imagens de violência de alunos contra alunos, o tal “Bullying”, de professores contra alunos e, até, de alunos sobre professores têm-se repetido e sido divulgados de forma gratuita na Internet e aproveitados posteriormente pelos mass media.
Estas imagens transportaram um alerta global e os governantes dos diversos países viram-se pressionados a agir de modo a que esta situação cessasse e apenas falamos do uso do telemóvel, pois a violência não está agora a ser tratada (essa é outra história!).
Embora não desprestigie o que se passa por esse mundo fora, vamos ver o que Portugal, pois é o nosso país, decidiu fazer para combater este problema. Pois é exatamente disso que se trata: um problema.
Detetado o problema a pronta atuação das entidades competentes levou-nos a pensar que seria fácil erradicá-lo. O imediato surgimento de um novo Estatuto do Aluno, que proibia os alunos de usarem os meios tecnológicos em ambiente escolar, parecia ser a solução.
Não é novidade para ninguém que os meios tecnológicos, muito particularmente os telemóveis, são hoje proibidos nas escolas. Depois de muitas alterações ao estatuto, essa parte em particular sofreu grande alteração e viu mesmo reforçada essa proibição. Para os leitores que o desconhecem, transcreve-se a parte do artigo 10.º, relativo aos Deveres do aluno, patente no atual estatuto (Lei nº 51/2012, de 5 de setembro) que diz respeito ao assunto que estamos a tratar:
q) Não transportar quaisquer materiais, equipamentos tecnológicos, instrumentos ou engenhos passíveis de, objetivamente, perturbarem o normal funcionamento das atividades letivas, ou poderem causar danos físicos ou psicológicos aos alunos ou a qualquer outro membro da comunidade educativa;
r) Não utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente, telemóveis, equipamentos, programas ou aplicações informáticas, nos locais onde decorram aulas ou outras atividades formativas ou reuniões de órgãos ou estruturas da escola em que participe, exceto quando a utilização de qualquer dos meios acima referidos esteja diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor ou pelo responsável pela direção ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso;
s) Não captar sons ou imagens, designadamente, de atividades letivas e não letivas, sem autorização prévia dos professores, dos responsáveis pela direção da escola ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso, bem como, quando for o caso, de qualquer membro da comunidade escolar ou educativa cuja imagem possa, ainda que involuntariamente, ficar registada;
t) Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamente, via Internet ou através de outros meios de comunicação, sons ou imagens captados nos momentos letivos e não letivos, sem autorização do diretor da escola;
Muito tempo após a saída da primeira proibição e mesmo agora, mais de um mês passado sobre a aplicação deste novo estatuto, completa desilusão!
À semelhança de tantas outras leis esta veio para ficar no papel…
Não querendo ser, ou mesmo parecer demasiado anacrónica, pois eu também uso telemóvel e sei reconhecer as suas vantagens, gostaria de ver aplicado em absoluto o Estatuto do Aluno.
Quer isso dizer que considero que os alunos não deveriam andar com telemóvel, ou trazê-lo para a escola? Não. Não pretendo ser tão radical.
Considero é que, e acreditando no que a lei diz, não o podem trazer ligado nas escolas, muito menos nas aulas. Sim, os alunos mantêm-nos ligados nas aulas e, quando são “apanhados” consideram-se injustiçados, pois esqueceram-se de o colocar no silêncio! Sim no silêncio e não desligado.
Qual foi o professor que nunca ouviu o toque de um telemóvel de pelo menos um aluno seu durante uma aula? E sabem? Algumas vezes são os próprios pais que lhes ligam durante essas mesmas aulas. Inacreditável, mas verdadeiro.
Mas, embora esqueçam muitas vezes de o “desligar” (entenda-se tirar o som, colocá-lo no modo “silêncio”, ou “avião”,…), assim que toca para o intervalo é vê-los a ligar o som, não o aparelho, e a enviarem mensagens ou a telefonarem, às vezes para os colegas que se encontram a sair da sala ao lado da sua. Pois, esta parte, a de o ligar, nunca é esquecida. O inverso é que se verifica!
Todavia, serão apenas os alunos os únicos viciados?
Evidentemente que não. Quase todos nós acabamos por ficar seduzidos e rendidos às novas tecnologias e àquilo que elas nos proporcionam. Evidentemente que não goramos as vantagens do seu uso. Nem pretendemos denegrir quem faz uso dos meios de comunicação. Eu confesso que também me incluo nessa população dependente das novas tecnologias. Embora, seja mais do PC e não tanto do telemóvel, que até esqueço frequentemente em casa! Mas realmente sinto-me dependente deste meio tecnológico: neste preciso momento, já é sábado cerca das 4 horas… da manhã e eu estou aqui usando (abusando) deste extraordinário meio.
Não é sobre o uso dos meios tecnológicos que pretendemos alertar. Mas sobre os efeitos que o uso abusivo deles pode ter sobre a comunicação “cara a cara” entre as pessoas. Será que se está a perder vermos retribuída a expressão daquela pessoa a quem dirigimos um simples olá? Será que se está a perder ver aquele sorriso no rosto de alguém que encontramos na rua e nos cumprimenta com carinho? Será que se está a perder aquele beijo na face de um amigo? Será que se está a perder aquele aperto de mão afetuoso de alguém conhecido? Será que se está a perder… o simples contacto visual entre as pessoas?
É este alerta que ora pretendo transmitir e que a “nossa” apresentação ambiciona reforçar.
Estamos muitas vezes rodeados de pessoas, mas tão longe uns dos outros que deixamos de nos conhecer através dessa linguagem fantástica que é a fala. Conhecendo-nos antes através uma linguagem escrita (e tão mal escrita!) de telemóveis, de redes sociais, … pessoas sem rosto que são “amigas” de milhares de amigos nossos, eternos desconhecidos!

Graça Matos, O Ciclista

Sem comentários:

Enviar um comentário