Estava a caminho de casa quando começou a chover
torrencialmente. O céu estava carregado de nuvens cinzentas e trovejava imenso.
Corri até ao lugar coberto mais próximo para me abrigar. Assim, entrei num edifício
onde nunca tinha estado antes. Parecia uma biblioteca já muito antiga com
livros por todo o lado. Avancei, passo a passo, e fui observando cada canto.
Havia algo de diferente nela… parecia mais escura do que o normal, parecia
estar assombrada. É óbvio que era só um sentimento estúpido, pensei. Estava
vazia e começava a meter medo. Queria sair dali, porém a chuva continuava muito
forte.
De repente, apanhei um enorme susto, pois deparei-me com um
senhor alto, com uma capa preta e com uma cara sisuda. Este dirigiu-me a palavra:
- Quem és tu? - perguntou, zangado - Que andas a fazer?
- Eu, eu, ah… eu entrei aqui para me abrigar da chuva -
respondi, assustada.
- E como é que conseguiste entrar? - questionou o homem,
parecendo confuso.
- Eu vi uma janela meia aberta e consegui entrar -
esclareci.
- Pronto, podes ficar aqui até a chuva parar, mas depois
vais-te embora e nunca mais cá voltas, ouviste? E não fales a ninguém deste sítio!
- ordenou o senhor com um ar assustador. - Ah! e, enquanto aqui estiveres,
ficas aqui quietinha e não mexes em nada! Eu tenho que ir tratar de uns
assuntos, mas tens de me jurar que não mexes em nada!
- Eu prometo - confirmei, acenando com a cabeça, mas
cruzando os dedos atrás das costas.
Esperei que ele fosse embora e comecei a explorar. Não ia
ficar ali especada a olhar para o boneco. Havia naquela biblioteca algo
misterioso e estava disposta a desvendar o caso. Muito silenciosamente, fui
percorrendo todos os cantos da sala, todos eles sombrios e assustadores.
Passado algum tempo, vi uma coisa que me chamou a atenção. Um livro, escondido
no meio dos outros todos, brilhou com uma luz muito intensa, fazendo o reflexo
de um enorme relâmpago, ao mesmo tempo que soltou um grito. O meu coração começou
a bater a mil à hora e senti um desejo urgente de fugir, porém os meus pés
pareciam estar colados ao chão. E a minha mão, desobedecendo às minhas ordens,
agarrou o livro e escondeu-o debaixo do casaco.
A chuva não tinha parado, mas o que é certo é que saí
disparada da biblioteca e corri até casa. Não sei por que estava a reagir de
tal forma. Parecia que alguém me estava a controlar! Mal entrei em casa, corri
até ao meu quarto, fechei a porta e pousei o livro na secretária. Olhei para
ele com atenção. Na capa, estava escrito “Livro de magia negra”. Tentei
abri-lo, porém estava fechado com um cadeado. Bolas! Era preciso uma chave para
o abrir! Percorri a casa toda em busca de todas as chaves. Experimentei uma a
uma, mas nenhuma entrava. De repente, veio-me uma ideia à cabeça. Se era um
livro de magia, a chave devia ser uma palavra mágica. Comecei a soltar para o
ar uma data de palavras relacionadas com magia, mas nenhuma funcionava. Pus-me
a pensar durante algum tempo. “É claro! Se é um livro de magia negra, a palavra
chave só pode ser uma.”
- Morte - disse.
A fechadura abriu-se subitamente. Resultou! Abri o livro
cuidadosamente e de lá saíram gemidos, gritos e bastante fumo. Senti um arrepio
profundo a percorrer-me o corpo de cima a baixo. Folheei o livro e, para minha
surpresa, todas as páginas estavam em branco. Não, nem todas. Havia uma com um
texto escrito. Seria algum feitiço? Não sabia. Sei que comecei a ler o texto em
voz alta ao mesmo tempo que a chuva caía fortemente e os relâmpagos invadiam o
céu. Quando acabei de ler, um enorme relâmpago caiu ao lado da casa, destruindo
com um estrondo infernal uma árvore do jardim. Nesse mesmo momento, o livro começou
a abanar e de dentro dele saíram bruxas, bruxos, feiticeiros, monstros,
vampiros, fantasmas e zombies. Era como se eles tivessem presos dentro do livro
e eu os tivesse libertado. Desatei a fugir quando apareceram aquelas criaturas
todas. Eram milhares! Começaram a espalhar-se pela cidade, destruindo
edifícios, casas e automóveis e matando pessoas. Felizmente, consegui
esconder-me num local seguro. “Não acredito no que se está a passar! Tudo isto
por minha culpa! Bem, tenho que salvar esta cidade destas criaturas antes que
não reste nem uma pessoa. Mas…como?”. De repente, veio-me à cabeça a imagem do
homem da biblioteca. Ele devia saber o que se estava a passar e saber o que
fazer. Quem sabe, não seria ele um feiticeiro dos bons. Estava prestes a começar
a correr para ir ter com ele, quando ele próprio me apareceu à frente numa
nuvem de fumo.
- Aqui estás tu! - exclamou ele. - O que é que tu fizeste?!
Não disse para não mexeres em nada? Eu sei que levaste o livro. Onde é que ele
está? – perguntou o homem com cara, simultaneamente, de chateado e preocupado.
- Está em minha casa. - respondi.
- Onde é que fica? - questionou.
- Rua das palmeiras, número 10 - disse eu, quase sem
conseguir respirar.
Num abrir e fechar de olhos, estávamos no meu quarto. Para
nossa surpresa, apareceram três bruxas e fizeram um círculo à nossa volta.
Antes que o feiticeiro pudesse fazer alguma coisa, uma delas disparou um raio
contra ele e este caiu no chão.
Ali estava eu, sozinha e com o coração a bater a mil à hora,
com três bruxas sem saber o que fazer. Elas aproximaram‑se cada vez mais e,
quando estavam prestes a matar-me, eu acordei sobressaltada. Afinal, tudo isto
não passara de um sonho. Ufa, que alívio!
Levantei-me da cama, já mais descansada, e, qual não foi o
meu espanto, ao ver, em cima da secretária, um monte de chaves, aquelas que eu
tinha usado para tentar abrir o livro. Mas… não fazia sentido! Afinal, será que
tinha sido apenas um sonho?
Joana
Cruz, 8.º B, Escola Básica de Vilarinho do Bairro
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