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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O conto dos meses



Há muitos, muitos anos atrás, numa altura em que nem se contava o tempo, não se conheciam os dias, nem as semanas nem os meses. Enfim, reinava uma grande desorganização e confusão no mundo! Se calhar era mesmo por causa de não se contar o tempo e de não existir, portanto, um calendário, que, como sabemos, é uma coisa muito útil para nós, hoje em dia!
Ora, depois de muitas reuniões e decisões, os Representantes do Cantinho do Tempo chegaram, por fim, à conclusão de que um dia iria passar a ter uma duração de 24 horas e estas se dividiriam entre dois períodos, o dia e a noite. Todos ficaram felizes. Como tal, o dia passou a celebrar esta brilhante ideia com luminosos raios de sol e a noite, por sua vez, salpicou o céu com minúsculos pontinhos brilhantes, só para dar aquele toque especial!
A vida de todos os habitantes passou, claro está a ser muito mais fácil. E essa organização deu origem à divisão do tempo em semana, altura em que se dedicavam com mais intensidade ao trabalho, o que levou também ao sorriso especial que as pessoas mostravam nos dois últimos dias, a que chamavam de fim de semana. Bom, mas isso já todos nós sabemos! O que não sabemos é como é que surgiu a ideia de dividir o tempo em meses. E é aqui que entro eu, nesta história, para vos contar como foi!
Ora, um certo dia, decidiu-se lançar um concurso público para ver se apareciam candidatos a carregarem consigo uns trinta ou trinta e um dias e tudo o que tinham que fazer era simplesmente ir desfilando num calendário de modo a que os habitantes do mundo pudessem organizar melhor as suas vidas.
Apareceram doze candidatos. Vinham com muito boa vontade para desempenhar o seu papel, mas logo se meteram em grandes confusões quando viram que havia muitas coisas diferentes para fazer. Afinal, não se tratava apenas de desfilar os seus dias no tal calendário, era preciso cumprir o que se esperava para cada um deles. Eu explico: o candidato a maio teria que arranjar muitos pirilampos e as primeiras cerejas. O responsável pelo mês de dezembro teria que vir acompanhado do Natal, os candidatos a julho e agosto vestir-se-iam todos os dias de ondas do mar e de areia, búzios e sol. De facto, todos os candidatos teriam que se esforçar por não se esquecerem de nada do que lhes dizia respeito. Mas a confusão não se ficou por aqui! O pior foi cada candidato julgar que as tarefas dos restantes eram sempre mais fáceis ou melhores do que as suas. Eis, então, que o candidato a fevereiro anunciou:
- Isso é que era bom! Fico muito feliz por andar com o dia de São Valentim comigo debaixo do braço, mas agora suportar o frio do inverno? Não, isso não é para mim! Já me basta estar ao pé do janeiro e andar sempre a tremer e a vestir-me de cinzento!
 - Ora, ora! - retorquiu logo a menina abril - então, tu para aí a queixares-te e eu, que direi eu de mim própria, coitadinha, que apesar de já mostrar um pouco da minha primavera e trazer a todos florinhas bonitas, terei que andar a carregar com tanta chuva!! Ainda vou passar a ser conhecida como: “abril, águas mil!” Não quero isso!
- Vocês resmungam assim, pobre de mim, que apesar de umas boas uvinhas, lá terei que trazer aos meninos e meninas a notícia de que acabaram as férias e que na escola começa o trabalho a sério! O que é que eles hão de pensar de mim?! - perguntou, envergonhado, o candidato a setembro.
E todos falavam alto e ninguém se entendia, tal era a confusão na sala! Foi quando se ouviu de repente o som grave de três pancadas no chão. Normalmente, quando se ouve este som nas histórias, isto costuma querer dizer que alguma coisa vai acontecer ou alguém muito sábio vai falar. E assim foi! Pondo-se em cima de um banco altíssimo, um dos candidatos anunciou:
- Oiçam todos, eu estou a concorrer a janeiro! Terei de ser um mês duro, cheio de frio e não me poderei nem gabar de árvores vistosas, flores maravilhosas ou raios de sol alegres e quentinhos! Não poderei gabar-me de frutos variados, como ali o junho faz com os morangos! Quando muito, umas laranjitas ou umas tangerinas! Mas, ora pensem bem! Sou um mês que posso ter muito a oferecer, sou o mês dos recomeços, das novas decisões, abro um novo ano e trago promessas de algo melhor! 
Após uns instantes de silêncio, ouviu-se fevereiro dizer:
- Bem, na verdade, eu apesar de ser gelado, chego mais rapidamente ao fim e até trago a festa do Carnaval!
E logo se escutou:
- Os meus dias ainda não são francamente quentinhos, mas já começam a ser maiores e as pessoas gostam mais. Também sou eu que começo a vestir as árvores com um tecido chamado primavera, que todos adoram! -  concluiu animadamente o candidato a março.
Até outubro lembrou:
- Bem! Tenho que vir atrelado àquela coisa incómoda do tal do solstício de inverno. Embora, alguns até venham a gostar de mim, quando os fizer acordar uma hora mais tarde! Por outro lado, faço uma festa de folhas multicolores pelos ares e pelo chão que encanta qualquer um! Ah…e trago as primeiras fogueiras!
- Bem visto! E eu acompanho-te com as minhas castanhas, completou novembro.
E foi assim que os doze se dividiram e amigavelmente assumiram as suas diferentes, mas únicas missões! Cada um deles pegou nas suas tarefas, as boas e as más, convencidos de que afinal o que mais importa é esta grande verdade: tudo tem o seu lado mau e o seu lado bom, nada é totalmente mau, se realmente se conseguir ver todos os ângulos e se descobrir sempre algum bem por entre o que não nos agrada! No fim, esse é que acaba por vencer, o lado bom de todas as coisas!
E, pronto! Esta verdade até já pode servir como moral da história, que, como todos os leitores sabem, é sempre a parte final de um bom conto! Uma moral e, normalmente também, um final feliz, que foi o que aconteceu neste conto que narra como os meses nasceram e se passaram a entender!
Até se diz que os meses começaram logo a formar grupos de trabalho para se organizarem melhor no calendário e a criar aquilo que mais tarde se veio a conhecer por estações do ano, que não são nada mais do que grupinhos de meses que se juntam entre si para fortalecerem o melhor que juntos têm para nos dar!
Rui de Larmand Alvim Leal Rosmaninho, n.º 20, 7.º F

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