Francisca tinha apenas dezasseis anos quando a sua mãe, uma
empresária de sucesso, morreu devido a uma overdose de cocaína.
Como era de esperar, a imprensa divulgou logo o caso e a
rapariga passou a ser alvo de chacota por ter uma mãe que morrera por ser
drogada.
Diariamente, Francisca sofria de bullying e era rejeitada
por todos. O seu sofrimento levou-a a considerar o quarto da sua mãe como o seu
único refúgio, pois aquela tinha sido a sua melhor amiga e ali tinham passado
os melhores momentos, não só da sua infância, mas também da adolescência quando
começara a necessitar da orientação e da sabedoria da sua mãe para resolver os
seus problemas de adolescente.
Certo dia, Francisca, a chorar, entrou, mais uma vez, no
quarto da mãe e reparou numa espécie de envelope perto da cama. Abriu-o,
apercebeu-se que eram cartas escritas pela mãe e começou a lê-las. Há medida
que lia, ia chorando mais e mais, pois as cartas eram como uma espécie de diário
para a mãe, onde ela confessava o motivo de ter começado a consumir drogas, a
sua luta para querer parar e a vergonha de pedir ajuda.
Os dias foram passando e Francisca continuava a ler e a
reler as cartas, começando a aperceber-se que a “família perfeita” era tudo
fachada, no fundo, pois a mãe começara a consumir drogas devido à traição do
pai com a sua melhor amiga.
Inicialmente, Francisca pensou em confrontar o pai com as
cartas, mas estas eram como um diário para a mãe e ela achou que mostrá-las
seria desrespeitar a sua memória.
Assim, as cartas passaram a ser apenas para ela se lembrar
que tinha de erguer a cabeça e não permitir mais ser alvo de gozo, pois, na
realidade, ninguém sabia o motivo do suicídio da sua mãe. Seria apenas um dos
muitos segredos guardados entre elas, tal e qual como nos velhos tempos.
Francisca Silva, 8.º A, Escola Básica de Vilarinho do
Bairro
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