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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Um sonho inesquecível




Todos os adolescentes e jovens sonham com a sua “princesa” ou “príncipe” encantado. Ela, ou ele, é o seu ídolo. Claro que normalmente é-o de milhares de outros jovens. Mas o que é importante é que povoa os seus mais íntimos pensamentos e neles é apenas seu…
Então, eis que dá asas a sonhos que são um misto de fantasia e de uma ilusão que desejariam ver tornada realidade.
O céu era de um imenso azul como só o céu consegue ter. O sol irradiava um amarelo tão intenso que parecia sorrir. E esse sorriso era apenas para mim. Pois, adivinhava o que estava para acontecer.
Eu estava no jardim público do centro de Anadia, num banco de madeira que lá havia, desfrutando os aromas primaveris. De repente, sentou-se um rapaz ao meu lado. Eu, como era habitual, estava a ler um livro e nem tinha prestado atenção a quem se tinha ali sentado. Então, foi aí que ele iniciou a conversa dizendo: “- Este é um sítio muito agradável!” Eu olhei para ele e, nem sei bem o que senti, talvez uma espécie de entusiasmo, juntamente com uma felicidade enorme. Era mesmo ele, o artista da minha eleição, o rapaz que eu tanto sonhara conhecer! Estar ali com ele era um sonho! Aliás, um sonho tornado realidade!
Conversámos durante horas, horas a fio. Falámos de tudo, do país de cada um, da família, dos gostos, das experiências… e descobrimos, assim, que até tínhamos muito em comum. Entretanto, a noite começou a querer desabrochar sobre a Terra, chegando lentamente mesclando de cinza o céu límpido deste final de tarde e eu disse-lhe que tinha de ir para casa. Trocámos, assim, os números de telemóvel e acabámos por nos despedir com dois saudosos beijinhos, que já previam a vontade de voltar a partilhar a presença um do outro.
Assim que cheguei a casa, liguei imediatamente à Sofia, a minha melhor amiga, para lhe contar a minha tarde. Estava, de facto, eufórica, mas reparei que ela sentiu uma certa inveja. Porém, nada e ninguém iria abalar este meu entusiasmo.
Nos dias seguintes, eu e ele continuámos a encontrar-nos e, nos nossos encontros, fazíamos muitas atividades juntos, como jogar ténis, andar de patins, lanchar. Enfim, já estávamos uma espécie de melhores amigos, confiávamos tudo um ao outro e, cada dia que passava, vivíamos os melhores e piores momentos juntos. Éramos, de facto, inseparáveis!
Certo dia, de manhã, ainda o orvalho dormia sobre as plantas do meu belo jardim, estava eu para ir tomar banho, quando o meu telemóvel cantou para mim. O meu coração palpitou e com razão, pois era precisamente Ele. E, antecipadamente, ele previra a forte emoção que se avizinhara, na medida em que me convidou para jantar. Aceitei logo, claro, mas fiquei tão nervosa, pois um jantar pareceu-me diferente de tudo o que tínhamos passado até aí. Era um jantar!
Liguei de imediato à Sofia, já que não sabia o que vestir, nem o penteado, ou seja, aquelas cenas de miúdas. Sendo assim, à tarde, ela foi a minha casa para escolhermos um vestido, o penteado, as unhas e “coisas” assim. Na verdade, estivemos durante horas na minha preparação, mas vá, tenho de admitir que ela foi uma querida e que me ajudou imenso. Finalmente, quando terminámos, eu estava linda! Digna de uma gala. Uma autêntica princesa!
Às 20 horas, como combinado, ele apareceu em minha casa para me vir buscar. Ele estava tão elegante!
Fomos jantar a um restaurante, “trés chic” da região. Por sinal, jantámos à luz das velas e ao suave som de músicas tocadas por um conjunto musical. O momento foi divinal e fez-nos sentir especiais, de tão fantástico e agradável que foi. Por fim, ele levou-me à beira-mar e, embora estivesse escuro, as estrelas que brilhavam no céu transformavam a areia em ouro e o mar em prata. Sentámo-nos na areia fria e ele pegou no seu casaco e colocou-o sobre as minhas costas descobertas, tornando ainda mais agradável aquela noite. Entretanto, pegou na sua guitarra e começou a cantar só para mim. Era uma canção que andara a compor nos últimos dias e que nunca cantara. Era-me dedicada. Foi tão romântico! Nunca ninguém me tinha feito algo do género, estava mesmo tão feliz! No final da canção, sorrimos e ficámos algum tempo a olhar um para o outro.
De seguida, ele disse o quanto eu era bela e como o meu sorriso e a minha boa disposição, bem como a minha alegria, o faziam sentir-se bem. Felizmente, a escuridão impedia que ele vislumbrasse o meu rosto, que eu sabia que estava a ficar escarlate, e foi aí que ele me beijou… Aí sim! As estrelas tornaram-se ainda mais brilhantes, a lua ficou mais dourada e a claridade era tanta que, de repente, vejo a minha irmã a abanar-me e a dizer para eu acordar, que já estava atrasada para a natação.
Tudo não tinha passado de um sonho, um sonho feliz! E, afinal, toda aquela claridade não passava do sol que entrava pela janela do meu quarto. Mas o sabor do beijo permanecia nos meus lábios, como se fosse realmente verdadeiro!

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Memórias de azul



Estava frio. Era um dia soalheiro de verão, mas estava frio. Mais ninguém o sentia, apenas ela. Todos os outros aproveitavam esta época insuportável. Insuportável, sim, para ela. O Inverno era mais belo, com as suas chuvas e o frio. Esse frio, embora, estava impossível longe daquele que ela sentia. Estranhamente, não sentia pelo corpo todo, só no peito. No coração, mais precisamente. Um frio morto e gélido, acompanhado por um aperto. O que causava isto era certo: a luz e o calor. Este desconforto quase que se aproximava daquele da dor de cabeça que se avizinhava. Quase. Havia soluções, umas mais cruas e bárbaras que outras. Uma era cortar. Já não fazia há anos, mas a vontade sempre esteve presente, a roê-la por dentro, a provocá-la com o seu riso metálico e doce, tão doce. Inapropriado. Álcool também funcionava. A sobriedade não ajudava nestas situações e a embriaguez era outra alternativa. Mas beber sozinha era apenas triste. Estava sozinha. Isso era outro problema. Também não ajudava. A sua família, bem… já não restava ninguém além dela; e a sua última relação tinha sido tudo menos saudável. Entre a violência bruta e o ruído da sua mente a despedaçar, havia apenas tempo para os comprimidos e os cortes. Já os fazia há anos. Mas durante essa relação a situação tinha-se agravado…
Reviver o passado era uma prática dolorosa, mas a mais eficiente, ou antes, aquela que todos aceitavam visto que ninguém a podia impedir de o fazer. A linha de pensamentos continuava…
Ela olhava-se ao espelho, a sua face em ensopada estava. Estava a arder em febre. Finalmente. Há talvez dois anos que não se sentia assim. Hoje sonharia… Não fosse a alucinação que lhe aparecia no espelho. Pesadelos seja, era melhor que nada. Era uma cópia perfeita dela, à exceção da sua pele sem qualquer marca, ou seu corpo que se parecia manter sempre no peso ideal. O seu clone atormentava-a, apontando para os seus braços com pequenos riscos e para o seu corpo esquelético. Mas o seu lugar preferido eram os pulsos. Esses eram tão finos e deformados pelas várias tentativas falhadas.
 Embora a sua companhia fosse claramente desagradável, era companhia e de entre todo aquele ódio que sentia por ela existia uma réstia de gratidão. E sumiu-se. Não conseguia deixar de sentir saudade. Saudade por alguém que não existia e, mesmo assim, não podia ser mais real. Uma parte de si. A melhor parte de si.
Diogo Oliveira, n.º 6, 11.º A

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A viagem ao Planeta da Música



O Ciclista endereça os parabéns à aluna Inês Alves Neves, pelo 1.º lugar alcançado no género narrativo neste concurso, Ler e Aprender.
A viagem ao Planeta da Música
Era uma vez um menino chamado Ricardo. Ele era alto, loiro e estava vestido com uma camisola azul e umas calças de ganga, estava calçado com umas sapatilhas pretas e brancas e trazia uma mala castanha. Era Natal e Ricardo tinha de ajudar os avós para construir a árvore de Natal. Então foi ao sótão e viu um tubo e, como era curioso, debruçou-se tanto que caiu dentro dele. Começou a escorregar a grande velocidade, deu curvas, deslizou em parafuso, deu umas quantas cambalhotas, escorregou de frente, de cabeça e de costas. Aquele tubo parecia não ter fim.
De repente saiu disparado do tubo e foi cair num terreno de relva fofa. Ainda meio atordoado com tantas voltas, Ricardo nem reparou nas três personagens estranhas que estavam à sua frente.
- Então, amigo? Queres que te traga uma almofada para dormires um bocado? - disseram os três a rir.
Ricardo, assustado, deu um pinote para trás e gritou:
_ Não me façam mal! Eu não sei onde estou, mas venho em paz!
_ Calma, miúdo! _ adiantou o mais gordinho.
- Eu digo-te onde estás. Estás no Planeta da Música e podes ficar tranquilo, porque aqui somos todos pacíficos. - rematou com um ar muito amistoso e simpático. -  O meu nome é Dó, uma nota ao teu dispor.
- E eu sou o Mi!  - apresentou-se a personagem ao lado com uma voz fininha. - Vamos levar-te a conhecer todos os cantos do nosso planeta.
- E eu sou o Sol! - falou por fim a terceira personagem. - Quando nos juntamos é sempre uma grande alegria. Ninguém consegue ficar triste quando estamos por perto.
Ainda com algum receio, Ricardo achou que se devia apresentar:
_ O meu nome é Ricardo, eu vivo na aldeia com …
Não o deixaram terminar, puxando-o pelo braço
- Então anda daí conhecer o Planeta da Música, Ricardo.
Seguiram aos saltos por uma estrada com cinco riscas. Pelo caminho, brincaram, dançaram e foram animando todos os que por ali passavam. Estavam mesmo contentes.
Pararam em frente a um grande palácio com um estilo muito clássico, todo pintado de branco e com janelas pretas.
- Queremos que conheças o D. Piano. Ele é uma figura muito importante e muito respeitada.
Eles foram recebidos por um mordomo que os guiou por um grande corredor, passando por salas todas doiradas até chegarem a um grande salão. Lá estava um grande piano muito elegante e solene. À sua volta estavam outros mais pequenos. Muito educado, o D. Piano apresentou a sua família.
- Muito prazer, Ricardo! Tenho gosto que tenhas vindo visitar o nosso planeta. Apresento-te o meu filho mais velho, o Piano de Meia Cauda, o mais novo, Infante Pianinho e o meu pai, D. Cravo.
Estiveram um bom bocado a conversar com o Ricardo sobre o Planeta da Música e sobre uma festa que iriam preparar. Era uma família encantadora.
- Vamos aproveitar e vamos ao Solar das Cordas, é mesmo aqui ao lado.
A porta do solar era muito bonita. Juntaram-se lá o Dó e o Mi. O Ricardo sentiu uma certa melancolia e saudade da aldeia. Ele não percebia porquê, mas sentia um aperto no coração e até deixou escapar uma lágrima.
O Violino, que era o mais atrevido e falador, apresentou-se:
- Do maior para o mais pequeno, apresento-te: O Contrabaixo, o Violoncelo, e a Viola, a minha irmã gémea, mais gordinha e com a voz mais grossa.
Contaram muitas histórias ao Ricardo. Ele estava a adorar ouvir, mas eram muito melancólicas e tristes.
E o Lá anunciou:
- Vamos ao pavilhão do rock.
O Ricardo é fã das bandas de rock e gostava de ouvi-las no seu mp3. Tropeçou num molho de cabos e levou um raspanete do Baixo elétrico.
Para descontrair, foram todos até ao café do Jazz. O Ricardo sentou-se com o Dó, o Mi, o Sol e o Si.  A eles juntaram-se o Saxofone e o Trombone.
Ali o ambiente era muito calmo. Conversaram satisfeitos e sabiam ouvir-se uns aos outros. Passavam tranquilamente de um para outro assunto.
Ricardo encontrou a Tenda da Batucada. Conheceu instrumentos de todos os cantos do mundo. Alguns faziam sons que pareciam a água da chuva, outros o piar dos pássaros e outros eram metálicos. As congas ensinaram o Ricardo a fazer ritmos e sons produzidos com o seu próprio corpo. Dançava e saltava e foi um desses saltinhos para trás que o fez desequilibrar e cair no tubo. Então saiu disparado e aconchegou-se no sofá, a ler o livro que o Pai Natal lhe tinha dado.
 Afinal tinha vivido a história daquele livro, no Planeta da Música.  
Inês Alves Neves, n.º 10, 6.º B
Escola Básica e Secundária de Anadia
Professora de Português - Maria Isabel de Noronha Góis