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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Solidariedade (ou não) nos dias de hoje


3º Episódio



-Dona Matilde! Desculpe ter vindo tão cedo mas é que andei aqui nas lojas do bairro à procura de trabalho e, como estava perto, decidi vir mais cedo.
-Sim. Não há problema. Olha, desta vez também levas umas peças de roupa. É roupa dos meus netos, de quando eram pequenos.
-Obrigada! Não sei o que faria sem si!- respondeu Marta com uma lágrima a saltar-lhe do olho.
-Tem calma, rapariga. Eu faço o que posso e se o posso fazer…melhor!
Marta levou os sacos e foi-se embora.
Joana estava embasbacada. Não estava a “captar nada.”
-Mas afinal o que se passa, avó?-avançou João.
-Bem, a Marta é uma imigrante. Veio de África. Quando chegou a Portugal não tinha nada, só a sua Sarinha de quatro anos. Ela não tem trabalho, e para comerem, apenas têm o que eu lhe dou. Neste momento anda à procura de emprego, mas é difícil. Ninguém lhe quer dar trabalho por ser negra. A maioria dos trabalhadores é racista.
-Mas como é que soubeste que ela estava cá? Ou melhor, como é que a conheceste?- perguntou Joana bastante intrigada com a situação.
-Bem, vocês sabem como é que eu sou…faladora. Um dia, quando eu fui à papelaria estava lá a Marta e eu comecei a puxar a conversa. Ao início, foi um pouco difícil, pois não se estava a sentir confortável. Quando ganhou confiança, desabafou tudo comigo. Depois convidei-a a tomar um café, mas ela não aceitou, pois não tinha dinheiro. Aí fiquei eu intrigada. O seu marido era quem sustentava a família e este morreu com SIDA. Desde então, ela passou a viver na rua, até que teve de fugir para Portugal devido aos maus tratos e à guerra.
-Tenho pena dela. Mas…e a filha? Tu disseste que ela tem uma filha! Se quiseres nós podemos fazer alguma coisa!- exclamaram os netos radiantes.
-A única coisa que eu sei sobre a Sarinha é que ela anda no infantário e é uma menina bastante inteligente.
Joana e Afonso olharam um para o outro. Tinham acabado de ter a mesma ideia.
-Nós podemos ir à escola dela na segunda-feira. Eu sei onde fica a pré-escola. Assim poderíamos conhecê-la melhor.
-Muito bem! Fica combinado! Na segunda-feira vou buscar-vos, levo-vos à pré- escola e depois vimos todos lanchar cá em casa.
-Combinado, chefe!- disse Afonso num tom de gozo, fazendo os gestos da tropa.
-Olhem, mas agora fiquem aqui, que eu tenho de ir à polícia prestar declarações por causa do assalto!
-Adeus, avó.

Continua…

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