3º Episódio
-Dona Matilde! Desculpe
ter vindo tão cedo mas é que andei aqui nas lojas do bairro à procura de
trabalho e, como estava perto, decidi vir mais cedo.
-Sim. Não há problema.
Olha, desta vez também levas umas peças de roupa. É roupa dos meus netos, de
quando eram pequenos.
-Obrigada! Não sei o
que faria sem si!- respondeu Marta com uma lágrima a saltar-lhe do olho.
-Tem calma, rapariga.
Eu faço o que posso e se o posso fazer…melhor!
Marta levou os sacos e
foi-se embora.
Joana estava
embasbacada. Não estava a “captar nada.”
-Mas afinal o que se
passa, avó?-avançou João.
-Bem, a Marta é uma
imigrante. Veio de África. Quando chegou a Portugal não tinha nada, só a sua
Sarinha de quatro anos. Ela não tem trabalho, e para comerem, apenas têm o que
eu lhe dou. Neste momento anda à procura de emprego, mas é difícil. Ninguém lhe
quer dar trabalho por ser negra. A maioria dos trabalhadores é racista.
-Mas como é que
soubeste que ela estava cá? Ou melhor, como é que a conheceste?- perguntou
Joana bastante intrigada com a situação.
-Bem, vocês sabem como
é que eu sou…faladora. Um dia, quando eu fui à papelaria estava lá a Marta e eu
comecei a puxar a conversa. Ao início, foi um pouco difícil, pois não se estava
a sentir confortável. Quando ganhou confiança, desabafou tudo comigo. Depois
convidei-a a tomar um café, mas ela não aceitou, pois não tinha dinheiro. Aí
fiquei eu intrigada. O seu marido era quem sustentava a família e este morreu
com SIDA. Desde então, ela passou a viver na rua, até que teve de fugir para
Portugal devido aos maus tratos e à guerra.
-Tenho pena dela. Mas…e
a filha? Tu disseste que ela tem uma filha! Se quiseres nós podemos fazer
alguma coisa!- exclamaram os netos radiantes.
-A única coisa que eu
sei sobre a Sarinha é que ela anda no infantário e é uma menina bastante
inteligente.
Joana e Afonso olharam
um para o outro. Tinham acabado de ter a mesma ideia.
-Nós podemos ir à
escola dela na segunda-feira. Eu sei onde fica a pré-escola. Assim poderíamos
conhecê-la melhor.
-Muito bem! Fica
combinado! Na segunda-feira vou buscar-vos, levo-vos à pré- escola e depois
vimos todos lanchar cá em casa.
-Combinado, chefe!-
disse Afonso num tom de gozo, fazendo os gestos da tropa.
-Olhem, mas agora
fiquem aqui, que eu tenho de ir à polícia prestar declarações por causa do
assalto!
-Adeus, avó.
Continua…
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