7º Episódio
Ele
fazia-me rir. Era como se estivesse a falar para um espelho.
O
dia passou demasiado rapidamente. Pedi ao António para deixar que os seguranças
pudessem descansar um pouco, mas o máximo que ele deixou, foi deixar que um
deles descansasse enquanto os outros ficavam de vigia.
“A
tua segurança acima de tudo. É a função deles.”, disse ele quando lhe fiz o
pedido durante a tarde.
Naquela
noite ia dormir muito melhor, disso tinha a certeza.
Não
tinha voltado ao meu camarote inicial. “Não era seguro.”
Como
o bilhete era de primeira classe, julguei que não havia camarotes melhores que
aquele onde estava, mas havia. Parecia forrado a ouro ou algo do género. A
mobília negra emanava um brilho quase natural. “Digno de uma rainha.”, eram
estes os pensamentos que me faziam rir, agora.
“Rápido
menina, venha, venha!”
Olhei
para o relógio: tinha adormecido apenas há duas horas quando me tiraram
violentamente da cama. O segurança que tinha ficado encarregue de vigiar a
porta do quarto entrou de rompante enquanto gritava desenfreadamente, parecia
um louco.
Não
me deu tempo sequer para perguntar o que se passava. Agarrou no meu telemóvel e
em alguns pertences mais pessoais deixados de forma a permitir uma fuga rápida
(não que eu achasse necessário, mas o meu irmão assim o obrigava) e levou-me na
direção do convés.
O
António já lá estava.
Algo
tinha chocado contra o navio, ou talvez o navio tivesse chocado com algo, era
impossível de perceber.
“Chama
o helicóptero.”, gritavam entre eles.
Com
a confusão que se instalou, depois de empurrões intermináveis, acabei separada
deles. Uma mulher forte veio contra mim fazendo com que eu me desequilibrasse e
caísse borda fora.
Não
sabia nadar muito bem e foi difícil chegar à tona da água.
Um
animal veio contra mim. Parecia que não me queria aleijar, só chamar a minha
atenção para ele. Tateei-o com as mãos e cheguei à conclusão que se tratava de
um golfinho. Agarrei-me à barbatana dele e deixe-me ser levada.
Nadámos
durante alguns segundos até que ele mudou bruscamente de direção mesmo antes de
um objeto enorme com umas luzes demasiado potentes para a minha visão passar
por nós. Um submarino, tal como eu previra. Só depois me lembrei que eles
tinham mencionado algo sobre um helicóptero e não sobre um submarino. Seria
aquela a razão da avaria do navio?
Continuei
a ser levada e fomos descendo cada vez mais fundo até que me fui apercebendo de
que conseguia respirar debaixo de água.
O
golfinho deixou-me junto de uma baleia enorme, maior do que todas as outras que
vira nos programas de vida selvagem até ali. Ela abriu a boca, sugando-me para
o seu interior.
Primeiro
estava escuro, mas depois uma luz apareceu e foi-se tornando cada vez maior até
revelar um salão majestoso.
Cavalos-marinhos
carregavam bandejas enquanto estrelas-do-mar cantavam animadamente.
Que
sítio era aquele?
“Tragam-na!”
Dois
golfinhos foram ao meu encontro e levaram-me até junto de uma mulher que
parecia ter idade suficiente para ser minha avó.
“Olá Clara.”, sabia o meu nome. “Espero que
estejas bem, dei ordens para isso. O meu nome é Agnes. Sou a governadora do mar
das Bermudas. Não te assustes. Só te queremos ajudar.”
Continua…
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