3º Episódio
Peguei
no livro que tinha levado e deixei de lado a carta, nunca mais me lembrei dela.
Durante
a hora de jantar, subi ao convés para apanhar um pouco de ar. Sentia-me muito
melhor e já tinha comido algo mais consistente. Um casal estava junto da
piscina a trocar presentes. Provavelmente, era o seu aniversário de casamento,
ou de namoro, nestes dias nunca se sabe.
Havia
mais uns quantos passageiros a apreciar o sol enquanto ele se escondia e,
enquanto voltava para dentro, com frio, um vulto passou repentinamente.
Assustei-me quando ele veio contra mim, quase caí. Quis gritar e esbracejar,
mas já era demasiado tarde para isso. Já não o conseguia ver em lado nenhum.
Podia ser qualquer pessoa. Alguém muito parvo, por sinal, ou alguma criança,
não sabia.
Os
concertos eram bastante usuais, segundo o que ouvi dizer. Jazz não seria a
minha escolha inicial, mas acabou por se revelar um tanto ou quanto agradável.
Eram
três da manhã quando acabei por sucumbir ao cansaço.
E
que susto eu apanhei quando encontrei rosas brancas em cima da cama. Quem tinha
ali estado?
“Excelentíssima menina
Clara. Pedimos desculpas pelo incómodo que possamos ter causado. Como
recompensa, a Copanhimar oferecer-lhe-á uma nova viagem com data a programar.
Esperamos as suas melhoras.”
Ainda deviam estar com medo que eu os processasse por causa do marisco.
O
pijama era o meu melhor, não que fosse o bonito, não disse isso, mas sem
dúvida, o melhor. O único que não tinha nódoas por causa do chocolate quente
que adorava beber enquanto via filmes antes de adormecer.
Mal
tirei o casaco, dei-me conta de algo no bolso esquerdo: era outra carta. Da
mesma pessoa, quase de certeza. Lembrei-me que ainda não tinha lido a outra e
poisei-a junto dela para as ler depois de me lavar.
Quando
voltei para junto delas, decidi começar pela primeira.
“Clara.
Começar esta carta foi
das coisas mais difíceis que já fiz em toda a minha vida. Encontrar-te, foi a
mais demorada. Procurar-te durante todos estes anos deixou-me muito
fragilizada, mas sempre acreditei que chegaria o momento em que estarias a ler
esta carta.
Minha querida filha, era
assim que devia ter começado.
Não penses minha
querida, lê primeiro o que tenho para te dizer.
Não estou aí contigo
porque é extremamente difícil viajar para outros sítios que não seja por
negócios. Não que não sejas mais importante que tudo isso, mas deixei a missão
de te encontrar a outra pessoa da minha inteira confiança.
O teu irmão é um pouco
desconfiado e não nos podemos dar ao luxo de nos expormos sem ter-mos a certeza
do que estamos a fazer. Já o deves ter visto por aí. Não deve demorar muito
para que ele te procure e te explique tudo o que tens que saber. Já agora, não
ligues ao mau feitio dele, é crónico.
Deves ter muitas
perguntas, questões às quais não te posso responder por carta. Mas não te
preocupes, a seu tempo, terás todas as respostas.
O teu pai,
D. Manuel de Crindiva.”
Mas
isto era alguma piada? É que, se fosse, estava a dar resultado. Só podia ser
uma brincadeira de mau gosto. Os meus pais eram as pessoas mais honestas que eu
conhecia, nunca me esconderiam algo tão difícil.
Ainda
faltava uma carta. O que será que vinha aí?
Continua…
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