Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pela aluna Ana Rita Costa Pereira, concorrente
e vencedor de uma menção honrosa no Concurso literário “Ler e Aprender”, Secundário,
edição de 2012.
A
Equipa d´O Ciclista
“O
triângulo da descoberta”
1º Episódio
O
homem do sobretudo negro nunca mais se despachava.
Queria
desesperadamente entrar naquele barco. Era a viagem da minha vida, a
oportunidade que só aparece uma vez e que passa por nós tão repentinamente que
pouco é o tempo que temos para a agarrar.
O
coração batia forte a cada passo: pum, pum, … pum, pum, … pum, pum, …
As
Caraíbas. O destino paradisíaco por excelência onde tencionava recomeçar a
minha vida. A verdade é que Londres não se revelara uma boa opção, tal como
Paris ou mesmo aquela pequena cidade Alemã onde todos pareciam tão felizes.
Emprego?
Claro que tinha! Não era muito difícil de o obter tendo em conta o meu
currículo. Era a felicidade, a felicidade é que parecia fugir de mim como o dia
foge da noite.
Mais
uns centímetros.
Depressa
percebi que em Portugal não conseguiria emprego, não na área da Astronomia ou
mesmo da Física (que eu até tolerava apesar de não ser a minha paixão).
Queria
ir mais longe, não me sentia realizada e a todo o custo ambicionava, acima de
tudo, sentir-me feliz.
Viajei.
Os meus pais apoiaram-me mas lá no fundo senti-os entristecer, afinal de
contas, a sua única filha estava a afastar-se.
Avancei
um pouco mais. Já não faltava muito.
De
facto, a viagens que fiz não foram totalmente em vão. Trabalhei em empresas de
investigação espacial. Foi assim que cheguei à conclusão que não era aquele o
futuro que desejava para mim. A ideia de algo mais para além do mundo que
conhecemos. Seres e vidas fantásticas, mistérios que o universo traz até nós
sem qualquer explicação. É tudo isto que move a nossa imaginação e a inocência
da nossa infância.
Mas
de que servem estas fantasias se não as podemos viver para lá de um escritório
e de um monte de papéis cheios de símbolos a que o Homem atribui os
significados que mais lhe convém.
Nunca
antes acreditei na sorte mas não tenho quaisquer dúvidas de que foi disso que
se tratou quando comprei a raspadinha. Sorte ou não, esta viagem não podia ter
vindo em melhor altura.
A
derradeira oportunidade de começar do zero. Uma cultura estranha, um país
longínquo, pessoas diferentes.
Mais
um passo.
Era
das pessoas que eu tinha mais medo. Dos seus pensamentos ocultos, dos seus
olhares desafiadores que nos perseguem e nos consomem lentamente, questionando
a nossa capacidade de sermos mais fortes, de chegar aonde outros não
conseguiram.
Daquela
vez não ia seguir o mesmo padrão. Daquela vez, ia explorar, procurar,
conhecer-me e, depois sim, viver a vida que eu queria. Qualquer que fosse ela.
Já
só faltava aquele homem. Era incrivelmente alto e as suas costas eram
imensamente largas. Não parecia muito velho mas as roupas executivas davam-lhe
um ar pesado, Provavelmente estaria nalguma viagem de negócios.
Era
a minha vez.
A
funcionária era absolutamente atenciosa. Não sei bem como – ou talvez até saiba
-, detectou a minha ansiedade e apressou-se a deixar-me avançar.
As
regras de segurança eram apertadas. Revistaram tudo: procuraram por fundos
falsos nas minhas malas, reviraram os meus bolsos. Naquele momento,
perguntei-me se tinha valido a pena tanto cuidado a arrumar a roupa.
Demorou,
mas quando me vi livre dos seguranças senti-me muito mais aliviada. Não que
tivesse medo de algo, que fosse culpada de um crime. Talvez fosse só a certeza
de que era menos um obstáculo para transpor.
Quando
finalmente pisei a madeira exótica que cobria o chão do convés, percebi que era
ali que as coisas iam mudar para sempre. Queria tanto aquela viagem!
Estar
sozinha e longe não é algo de que me orgulhe. Todos falam na responsabilidade,
mas eu sempre preferi a família.
Continua…
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