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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

“O triângulo da descoberta”


Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pela aluna Ana Rita Costa Pereira, concorrente e vencedor de uma menção honrosa no Concurso literário “Ler e Aprender”, Secundário, edição de 2012.

A Equipa d´O Ciclista

“O triângulo da descoberta”

1º Episódio
O homem do sobretudo negro nunca mais se despachava.
Queria desesperadamente entrar naquele barco. Era a viagem da minha vida, a oportunidade que só aparece uma vez e que passa por nós tão repentinamente que pouco é o tempo que temos para a agarrar.
O coração batia forte a cada passo: pum, pum, … pum, pum, … pum, pum, …
As Caraíbas. O destino paradisíaco por excelência onde tencionava recomeçar a minha vida. A verdade é que Londres não se revelara uma boa opção, tal como Paris ou mesmo aquela pequena cidade Alemã onde todos pareciam tão felizes.
Emprego? Claro que tinha! Não era muito difícil de o obter tendo em conta o meu currículo. Era a felicidade, a felicidade é que parecia fugir de mim como o dia foge da noite.
Mais uns centímetros.
Depressa percebi que em Portugal não conseguiria emprego, não na área da Astronomia ou mesmo da Física (que eu até tolerava apesar de não ser a minha paixão).
Queria ir mais longe, não me sentia realizada e a todo o custo ambicionava, acima de tudo, sentir-me feliz.
Viajei. Os meus pais apoiaram-me mas lá no fundo senti-os entristecer, afinal de contas, a sua única filha estava a afastar-se.
Avancei um pouco mais. Já não faltava muito.
De facto, a viagens que fiz não foram totalmente em vão. Trabalhei em empresas de investigação espacial. Foi assim que cheguei à conclusão que não era aquele o futuro que desejava para mim. A ideia de algo mais para além do mundo que conhecemos. Seres e vidas fantásticas, mistérios que o universo traz até nós sem qualquer explicação. É tudo isto que move a nossa imaginação e a inocência da nossa infância.
Mas de que servem estas fantasias se não as podemos viver para lá de um escritório e de um monte de papéis cheios de símbolos a que o Homem atribui os significados que mais lhe convém.
Nunca antes acreditei na sorte mas não tenho quaisquer dúvidas de que foi disso que se tratou quando comprei a raspadinha. Sorte ou não, esta viagem não podia ter vindo em melhor altura.
A derradeira oportunidade de começar do zero. Uma cultura estranha, um país longínquo, pessoas diferentes.
Mais um passo.
Era das pessoas que eu tinha mais medo. Dos seus pensamentos ocultos, dos seus olhares desafiadores que nos perseguem e nos consomem lentamente, questionando a nossa capacidade de sermos mais fortes, de chegar aonde outros não conseguiram.
Daquela vez não ia seguir o mesmo padrão. Daquela vez, ia explorar, procurar, conhecer-me e, depois sim, viver a vida que eu queria. Qualquer que fosse ela.
Já só faltava aquele homem. Era incrivelmente alto e as suas costas eram imensamente largas. Não parecia muito velho mas as roupas executivas davam-lhe um ar pesado, Provavelmente estaria nalguma viagem de negócios.
Era a minha vez.
A funcionária era absolutamente atenciosa. Não sei bem como – ou talvez até saiba -, detectou a minha ansiedade e apressou-se a deixar-me avançar.
As regras de segurança eram apertadas. Revistaram tudo: procuraram por fundos falsos nas minhas malas, reviraram os meus bolsos. Naquele momento, perguntei-me se tinha valido a pena tanto cuidado a arrumar a roupa.
Demorou, mas quando me vi livre dos seguranças senti-me muito mais aliviada. Não que tivesse medo de algo, que fosse culpada de um crime. Talvez fosse só a certeza de que era menos um obstáculo para transpor.
Quando finalmente pisei a madeira exótica que cobria o chão do convés, percebi que era ali que as coisas iam mudar para sempre. Queria tanto aquela viagem!
Estar sozinha e longe não é algo de que me orgulhe. Todos falam na responsabilidade, mas eu sempre preferi a família.

Continua…




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