Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pelo aluno, Henrique Seabra Ferreira, concorrente
e vencedor do 1º prémio no Concurso literário “Ler e Aprender”, 1º Ciclo, edição
de 2012.
A
Equipa d´O Ciclista
“Como eu estabeleci uma estreita amizade com um ser espacial”
1º Episódio
Todos os dias, quando pretendo
momentos solitários de paz e tranquilidade, dirijo-me ao meu jardim,
preferencialmente de noite, em noites claras, onde as estrelas mais brilhantes
desenham constelações sobre a tela do céu que fica assim decorada. Jogamos como
que às escondidas, descobrindo o que os meus conhecimentos me permitem e, ora
lá encontro a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Estrela Polar e logo me imagino
“perdido” nalguma das minhas viagens fantásticas que por vezes faço quando
saboreio alguns capítulos de uma soberba aventura narrada por algum/a
escritor/a preferida/o. Recuo, então, no tempo e relembro as palavras de Proust
quando diz que
“Talvez não haja na
nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que
pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de
um livro preferido”.
E assim, se pretendo desvendar os
mistérios do mar, faço-me acompanhar da grande poeta “Sophia”, se pretendo
desbravar a Speranza, entro nela através de “ Sexta-Feira ou a Vida Selvagem”
com Michel Tournier e participo nas aventuras ao lado de Robinson Crusoe.
Cativam-me com os diálogos entre este e Sexta-Feira.
Foi numa destas noites de
contemplação celestial que, ao erguer mais uma vez os olhos para esse
misterioso infinito, iniciei viagem até lá, uma vez que tenho olhos para o ver,
mas não tenho braços para o abraçar.
Concretizei, assim, um
dos meus sonhos e conheci um ser ilimitado que me pediu as minhas palavras, o
meu saber, a minha confirmação ou talvez o meu amor para poder ser
completamente.
Curioso como sou,
escolhi, evidentemente, uma estrela comparável a mim: curiosa também o
suficiente para que a sua paciência fosse capaz de me ir satisfazendo todas as
questões que me intrigam.
Era pequena, vermelha,
querendo isto dizer que não era muito quente. Era, no entanto, muito brilhante.
Apesar de espantada, a
estrela não deixou de me saudar, de querer saber de onde vinha, o que fazia
ali. Conversámos e ao fim de algum tempo senti que nascera ali uma estreita
amizade.
-Vem, vem conhecer e descobrir o que
quiseres - disse ela - mas fala-me também de ti e do teu mundo.
Sou Polar, a Estrela guia dos
marinheiros. Sabes, pastores, agricultores e os grandes viajantes foram os
primeiros a estudar o céu. Argutos, repararam que os nossos movimentos
constituíam indícios importantes que lhes permitiam orientar-se no mar ou
atravessar vastos desertos sem se perderem; que os nossos movimentos aparentes
mediam a passagem do tempo. Foi baseado nos nossos movimentos regulares que
criaram os primeiros calendários.
- Mas, efetivamente, de onde veio
todo este Universo? Interroguei-a.
- Ah!
Sabes, todos os povos que atravessaram a história têm narrações para explicar o
seu começo. Para os chineses, por exemplo, eu e todas as minhas irmãs estrelas,
teremos surgido dos cabelos de um deus que se pôs a criar o mundo, tal como dos
seus olhos surgiram o Sol e a Lua.
Continua…
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