5º Episódio
O
vestido amarelo era lindíssimo. Não muito adequado à ocasião, ou talvez até
fosse. Dependia de qual era, mesmo, a ocasião.
Coloquei
a mão na maçaneta, pronta a abri-la, mas dei por mim a questionar-me se sabia
realmente aquilo em que me estava a meter. Ao rodar aquele objeto de metal,
estaria a entrar numa nova fase de algo que ainda desconhecia e não sabia se
queria mudar isso.
Quando
saí para o corredor, seis pares de óculos escuros e um par de olhos azuis
esperavam-me ansiosamente.
“Pronta?”
Acenei
afirmativamente.
O
convés estava cheio, mas aquela mesa parecia estritamente reservada para nós.
Ninguém se aproximava sequer dela.
“Antes
de mais, o meu nome é António. Penso que está na ora de saberes isso. Sou teu
irmão, ou pelo menos é isso que as provas iniciais demonstram. Ainda estamos a
realizar os testes de ADN. O meu pai, o nosso pai acredita que és tu a filha desaparecida
há tanto tempo.”
“Isso
é impossível. Os meus pais são reais. Não sou sequer adotada. Não há maneira de
eu ser tua irmã.”
“Não
penses assim. Diz-me, alguma vez viste fotos tuas de quando eras bebé?”, nem
esperou pela resposta. Sabia que eu não tinha uma. “Pois, um incêndio, certo?”
Como é que ele sabia? “Imagino que nunca que tenhas questionado sobre isso,
parecia tudo demasiado credível.”
Depois
explicou-me qualquer coisa sobre uma guerra entre o reino de Crindiva e uma
república Corsaniana. Algo sobre um general que queria a todo o custo expandir
o seu território e ameaçou o reino o rei não aceitasse casar o filho do general
com a sua filha recém-nascida.
O
rei, sabendo que a única forma de impedir o general de se conseguir apoderar do
seu território era afastar-se da sua filha, entregou-a a um casal de empregados
dando-lhe uma pequena fortuna para que a pudessem criar sem qualquer entrave.
Nem o rei nem ninguém poderiam alguma vez saber para onde eles iriam, não fosse
o caso de haver um traidor que denunciasse a sua localização.
António
era apenas seu meio-irmão. Um bastardo, por outras palavras. Mas o rei, D.
Manuel, fazia questão de o reconhecer como filho e de lhe dar as regalias de um
filho legítimo. O problema é que ele não podia ascender ao trono. Quando as
coisas acalmaram, o rei decidiu enviar detetives para a encontrarem, mas era
impossível localizá-la.
Ainda
não acreditava que eu era aquela rapariga.
“E
como é que me encontraram aqui?”
“Bem,
o pai tem espiões em todo o lado. Depois de fazermos um retrato robô no qual
aparecerias de acordo com a tua aparência atual, não foi difícil localizar-te.
Não quis falar contigo antes porque não tinha a certeza de que eras minha irmã,
mas depois daquela carta do pai e de ver o homem a atacar-te não tive outra
alternativa.”
“Quem
era ele?”
“Vinha
a mando do filho do general. Depois da morte do pai dele, descobriu um diário
onde ele contava tudo o que pretendia para o reino e contava como a tinha
tentado levar. Decidiu que estava na hora de seguir os passos do antecessor e
que se não te tinham conseguido levar antes, iriam encontrar-te antes de nós. O
plano dele era raptar-te e manter-te prisioneira para forçar o pai a dar-lhe o
poder sobre o nosso reino.”
Parecia
inacreditável.
“E
porque é que nunca ninguém me disse nada? Oh, espera! O meu pai deu ordens para
que não me contassem nada, com medo que eu o fosse procurar e deitasse tudo a
perder.”
Ele nem sequer respondeu. Eu tinha razão.
“Sabes,
se eu fosse mais nova, ia adorar descobrir que era uma princesa. Mas não sei se
o quero ser agora. Há muitas coisas que me impedem de deixar a minha vida.”
“Sim?
Tanto quanto sei, não tens tido muita sorte na tua vida pessoal e ainda não te
fixaste em lugar nenhum.”
Ora
ali estava uma coisa que ainda ninguém me tinha dito em voz alta.
Continua…
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