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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Bullying!


Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pela aluna, Adriana de Matos Pedrosa, concorrente e vencedor de uma menção honrosa no Concurso literário “Ler e Aprender”, 3º Ciclo, edição de 2012.

A Equipa d´O Ciclista
 Bullying!

1º Episódio

O sibilar do telemóvel despertou-me. Arrastei-me para a casa de banho, para evitar encontrar os meus irmãos e iniciarmos a habitual luta pela posse desta divisão da casa. Todos os dias era uma azáfama. Como tínhamos todos de apanhar o autocarro para a escola, levantávamo-nos quase que em simultâneo. Contudo há muito que aprendera a defender-me dessa ruidosa rotina. Assim, para evitar a confusão, os gritos e a disputa, eu encurtava, ainda mais, o meu precioso sono e arrastava-me para o meu banho matinal.
A cozinha tinha o cheiro a café e torradas que a minha mãe, carinhosamente, preparava. O meu leite já fumegava na chávena de flores silvestres e no pires, encontravam-se duas grandes torradas, que eu devorei depois de ter beijado a minha mãe com um pálido bom dia, fruto de uma curta noite.
O autocarro deslizava pela íngreme encosta e desfazia as curvas, beijando a estrada e as árvores que a ladeavam. A paisagem, sempre igual, não deixava de me fascinar. O rio serpenteava pelo verde vale, onde desabrochava um misto de plantas selvagens.
A palidez do sol adequava-se ao meu humor. As nuvens deslizavam calmamente e pareciam querer esconder os envergonhados e escassos raios de sol. De repente, parecendo querer aliar-se à minha disposição, o céu começou a chorar. Primeiro, umas escassas lágrimas caíam das suas tímidas nuvens, depois, querendo mostrar toda a sua garra, desataram em grande pranto. Bonito! Vinha mesmo a calhar. Eu, que já me sentia bem perturbada, fiquei ainda mais fragilizada. E, nem tinha trazido o guarda-chuva!
Todos os dias eram iguais.
Eu sempre ansiara a escola. Aprender a ler, a contar, a compreender a natureza, o Homem, a vida. A fazer aquelas contas que me fascinavam. E claro, escrever. Ah! Como eu sonhava ter onde escrever e escrever…
Primeiro, sonhei com um pequeno cadernito e, mais tarde, veio a fase de sonhar com um computador e teclar. Na minha imaginação, era neles que eu escrevia os meus poemas, os meus livros e era famosa. Não que ser famosa me importasse, mas aquecia os meus sonhos, que nunca partilhara com ninguém.
Na verdade, o meu desejo era que os meus livros, fruto da minha escrita, fossem lidos por todas as crianças do mundo, para que assim elas pudessem sonhar e viajar através das histórias que lessem. Por outro lado, queria transmitir-lhes a alegria que eu tinha dentro de mim.
Frequentando já o décimo segundo ano, ainda continuava na fase do cadernito, embora o sonho do computador continuasse bem vivo. No entanto, impossível de concretizar, pois não tínhamos como o comprar.
Às vezes, nos intervalos das aulas, lá conseguia escrever um pouco num computador da escola e gravar na pen que ganhara no ano anterior, no concurso literário da Biblioteca Municipal, Ler e Escrever em Bom Português.
Como aluna continuava a amar a escola, relativamente ao que ela representa, mas por outro lado, sentia repúdio, repulsa por ela.
A desilusão fora tão grande, tão sentida, que todos os dias, dos últimos doze anos, o que eu mais queria era fugir. Neste momento, eu queria frequentar outra escola, mas não podia. Por outro lado, brevemente terminaria o décimo segundo ano e infelizmente não podia continuar os meus estudos. Conseguira prolongar estes três anos à custa de muito esforço, meu e dos meus pais, mas eles não podiam fazer mais e estava definitivamente afastada a ideia de ir para a universidade.

Continua…

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