Concurso literário “Ler e Aprender”
Texto do género narrativo escrito pela aluna, Adriana de Matos Pedrosa, concorrente
e vencedor de uma menção honrosa no Concurso literário “Ler e Aprender”, 3º
Ciclo, edição de 2012.
A
Equipa d´O Ciclista
1º Episódio
O sibilar do telemóvel
despertou-me. Arrastei-me para a casa de banho, para evitar encontrar os meus
irmãos e iniciarmos a habitual luta pela posse desta divisão da casa. Todos os dias era uma azáfama. Como
tínhamos todos de apanhar o autocarro para a escola, levantávamo-nos quase que em
simultâneo. Contudo há muito que aprendera a defender-me dessa ruidosa rotina.
Assim, para evitar a confusão, os gritos e a disputa, eu encurtava, ainda mais,
o meu precioso sono e arrastava-me para o meu banho matinal.
A cozinha tinha o cheiro a
café e torradas que a minha mãe, carinhosamente, preparava. O meu leite já
fumegava na chávena de flores silvestres e no pires, encontravam-se duas
grandes torradas, que eu devorei depois de ter beijado a minha mãe com um
pálido bom dia, fruto de uma curta noite.
O autocarro deslizava pela
íngreme encosta e desfazia as curvas, beijando a estrada e as árvores que a
ladeavam. A paisagem, sempre igual, não deixava de me fascinar. O rio
serpenteava pelo verde vale, onde desabrochava um misto de plantas selvagens.
A palidez do sol
adequava-se ao meu humor. As nuvens deslizavam calmamente e pareciam querer
esconder os envergonhados e escassos raios de sol. De repente, parecendo querer
aliar-se à minha disposição, o céu começou a chorar. Primeiro, umas escassas
lágrimas caíam das suas tímidas nuvens, depois, querendo mostrar toda a sua
garra, desataram em grande pranto. Bonito! Vinha mesmo a calhar. Eu, que já me
sentia bem perturbada, fiquei ainda mais fragilizada. E, nem tinha trazido o
guarda-chuva!
Todos os dias eram iguais.
Eu sempre ansiara a
escola. Aprender a ler, a contar, a compreender a natureza, o Homem, a vida. A
fazer aquelas contas que me fascinavam. E claro, escrever. Ah! Como eu sonhava
ter onde escrever e escrever…
Primeiro, sonhei com um
pequeno cadernito e, mais tarde, veio a fase de sonhar com um computador e
teclar. Na minha imaginação, era neles que eu escrevia os meus poemas, os meus
livros e era famosa. Não que ser famosa me importasse, mas aquecia os meus
sonhos, que nunca partilhara com ninguém.
Na verdade, o meu desejo
era que os meus livros, fruto da minha escrita, fossem lidos por todas as
crianças do mundo, para que assim elas pudessem sonhar e viajar através das
histórias que lessem. Por outro lado, queria transmitir-lhes a alegria que eu
tinha dentro de mim.
Frequentando já o décimo
segundo ano, ainda continuava na fase do cadernito, embora o sonho do
computador continuasse bem vivo. No entanto, impossível de concretizar, pois
não tínhamos como o comprar.
Às vezes, nos intervalos
das aulas, lá conseguia escrever um pouco num computador da escola e gravar na pen que ganhara no ano anterior, no
concurso literário da Biblioteca Municipal, Ler
e Escrever em Bom Português.
Como aluna continuava a
amar a escola, relativamente ao que ela representa, mas por outro lado, sentia
repúdio, repulsa por ela.
A desilusão fora tão
grande, tão sentida, que todos os dias, dos últimos doze anos, o que eu mais queria
era fugir. Neste momento, eu queria frequentar outra escola, mas não podia. Por
outro lado, brevemente terminaria o décimo segundo ano e infelizmente não podia
continuar os meus estudos. Conseguira prolongar estes três anos à custa de
muito esforço, meu e dos meus pais, mas eles não podiam fazer mais e estava
definitivamente afastada a ideia de ir para a universidade.
Continua…
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