2º e último Episódio
Mas, para os astrónomos, o
nascimento e evolução do nosso Universo explica-se pela teoria do Big Bang. Há
cerca de 15 mil milhões de anos, o Universo era mais pequeno do que uma cabeça
de alfinete. Toda a energia aprisionada neste ponto minúsculo teria sido
subitamente libertada durante uma formidável “explosão”. Ter-se-iam começado a
formar pequenas partículas neste recente Universo e a organizar-se em nós,
estrelas e em galáxias.
- Sabes, estou fascinado
com tudo o que me contas e vejo. Visto da Terra, é tudo tão diferente! De lá
não passas de um pontinho brilhante.
- Estamos tão distantes
de ti que os astrónomos criaram uma unidade especial que lhes permite medir
estas distâncias inconcebíveis – o Ano Luz, isto é, a distância que a luz
percorre num ano; estes calculam que num ano terão percorrido quase 10 000
biliões de quilómetros.
— Mas agora, vou calar-me e continua tu.
Diz-me, conta-me o que quiseres.
E falei-lhe da poesia,
outro fantástico mundo onde nos podemos libertar e tudo criar.
“ Mar sonoro
Mar sonoro, mar sem
fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta
quando estamos sós
E tão fundo
intimamente a tua voz
Segue o mais secreto
bailar do meu sonho,
Que momentos há em
que eu suponho
Seres um milagre
criado só para mim.”
Dei-lhe a conhecer “
Sexta-Feira” propondo-lhe uma adivinha:
“Qual é coisa, qual é
ela, que é uma mão que te embala, um cozinheiro que põe sal na tua sopa, um
exército de soldados que te faz prisioneiro, um grande animal que se zanga,
ruge e se agita quando faz vento, uma pele de serpente com mil escamas que
brilham ao sol?”
- Oh! Conheço-o bem,
amigo – é o Oceano, uma outra maravilha que percorro diariamente a fim de
orientar e “salvar” os meus marinheiros. Mas não imaginas o medo que eles
sentem quando ele ”ruge” e “se agita”!
- Olha, acalma-o, com
este outro poema de Sophia que parece retratar os teus “protegidos”.
Lusitânia
“Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.”
- Agora, que me mostraste a poesia, penso
que poderei socorrer-me dela e pouparmo-nos desses desagradáveis momentos de
zanga marítima.
Está na hora. Vou ter de
te deixar, pois vou iniciar mais um turno, vou regressar ao meu trabalho.
Podes acompanhar-nos e
quando quiseres, deixar-te-ei em “casa”. Poderás assim entender o que não te
poderei fazer sentir por palavras... como sou feliz ao ser estrela! Como sou
feliz sendo guia dos marinheiros, audazes homens que não se poupam a esforços e
perigos para ganharem a vida!
- E olha amigo… no fundo
o Universo é tudo o que existe, e também eu e tu fazemos parte dele. Ambos
nascemos, envelhecemos e morremos.
Vivi assim momentos numa paisagem pura, paisagem essa onde
estabeleci uma relação com “alguém” com a candura original dos seres e dos
objetos.
Mesmo revelados alguns
dos seus segredos, o céu visto do meu jardim continuará para sempre, aos meus
olhos um vasto oceano de mistério.
Henrique Seabra
Ferreira