Estava tudo a
acabar.
Tanto que
nasceu e evoluiu, para tudo morrer, num único momento de indiferença para com o
vasto Tempo. Este era o verdadeiro fim de tudo.
Ainda dois
seres observavam, espantados pela vastidão, mais pequena do que nunca antes
tinham olhado. Eles dirigiram-se um ao outro, e logo começaram a proferir as
últimas palavras que alguma vez se ouviram:
- Olá? De
onde vieste? - perguntou o
primeiro ser.
- De algum lugar no cosmos - expressou
o segundo - Mas já não me lembro onde isso fica.
- É aquilo? -
inquiriu o ser Um,
apontando para as frágeis luzes da escuridão - Eu vim de lá.
- Acho que
sim, devo também ter aparecido lá. Eu acho que…nasci.
- Nasceste? -
pronunciou Um.
- Sim, mas
agora não importa. Nada nunca mais vai importar!
A miséria
começou a apoderar-se do diálogo. Dois começou a chorar:
- Não quero
que acabe, eu nunca cheguei a viver!
- Viver? - continuou-lhe Um - Isso é o
quê?
- Não sabes o
que é? Mas quem és tu? - Interrogou Dois
- Nem eu sei,
e nunca se saberá. Só sei que somos o mesmo.
- O mesmo? - perguntou
Dois - Mas como?!
Um ignorou-o.
Esclareceu depois o que
queria dizer.
- Estamos a morrer
sabes? Aquelas luzes são as nossas forças a apagarem-se. Em breve nunca mais
nos poderemos contemplar.
Dois estava
preocupado com Um. Pensava que a sensação de nada o tinha enlouquecido.
- Porquê
dizeres isso agora? Num momento em que tudo à nossa volta morre?
Dois foi
outra vez ignorado.
- Não é
lindo, mas ao mesmo tempo…triste?
- Lindo? - Dois
já não aguentava - Eu nunca mais vou viver e tu dizes que vês algo lindo?!
- Estás a
viver, pelo menos comigo. As luzes a darem espaço ao nada são algo que nós
nunca imaginaríamos ver. Experienciar algo assim é de certeza viver.
Dois estava
mais calmo, afinal Um não estava louco. Mas continuavam perguntas:
- Quem somos
nós?
- Nós somos o
que viveu tanto e agora está a ver-se a morrer. Passou tanto tempo que nem nos
lembramos de onde viemos ou quando aparecemos. Só começámos a existir a certo
ponto, mas já estava na altura de nos olharmos - respondeu Um.
Dois pensou
nas palavras que ouvira, e de repente ela fizeram-no recordar.
- Foi agora -
disse Dois.
- O quê?
- Foi agora
que aparecemos, mas só para nos podermos ver a morrer.
Agora era Um
que estava preocupado. Dois continuou:
- Tens razão,
estamos a viver. O facto de estarmos a acabar fez-nos tomar consciência de
que existíamos. É pena que tenha sido só agora, no final de tudo. Pensámos que éramos
eternos, então não achámos necessário preocupar-nos com quem éramos nem com o
que nos estava a acontecer nessa pequena eternidade. Que errados estávamos.
- Nós somos
tudo? - finalmente perguntou Um. E então Dois disse:
- Eu acho que
sim.
E ambos
começaram a chorar. Agora não havia sofrimento, porque já sabiam o que eram.
- Acho que o
fim está a chegar - disse Um.
- Sim…foi bom
viver contigo.
- Foi bom
vivermos juntos.
Agora já tudo
tinha acabado. O Tempo já não era uma coisa, o mesmo com o Dois ou o Um, por
isso não se sabe quanto durou o Nada.
Simplesmente…durou.
João Rui
Flores Bastos, n.º 10, 8.º F | Escola Básica e Secundária de Anadia
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