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sábado, 30 de outubro de 2021

A velha árvore sábia

Era uma vez uma árvore muito grande, muito velha e muito só. Os pássaros daquela região não queriam fazer ninho numa árvore assim. O que eles queriam era árvores novas, bonitas e carregadinhas de frutos deliciosos.

Ora, esta árvore, mesmo estando a cair de velha, tinha um dom que mais nenhuma árvore daquela região tinha: o dom da sabedoria. Quando ainda era nova, bonita e quando ainda estava carregadinha de frutos deliciosos, um velho, vindo não se sabe de onde, sentava-se bem encostado à árvore e lia em voz alta histórias verdadeiras e imaginárias, fábulas e poemas, então, pouco a pouco esta árvore foi aprendendo a ler. A árvore foi crescendo, quer em tamanho, quer em sabedoria e, a cada ano que passava, foi ficando mais só por ser tão velha. E quanto mais só ficava, mais reparava nas coisas que aconteciam à sua volta. Reparou então que cada vez havia menos crianças a brincar na rua e cada vez havia menos crianças a ler. A árvore, embora sábia, não conseguia perceber porquê. Decidiu investigar. E percebeu que as crianças se sentiam cada vez mais atraídas por umas estranhas maquinetas a que se dava o nome de telemóveis. Também reparou que, embora estivessem divertidas com aquelas maquinetas, as crianças tinham um ar cada vez mais triste e abatido e não ligavam a ninguém à sua volta.

A velha árvore sábia, que sabia muitas histórias, ficou confusa ao ver como as crianças já não faziam caso dos livros. Os livros fascinavam-na tanto! As aventuras faziam o seu coração de árvore bater mais depressa, os poemas traziam-lhe lágrimas aos olhos; aos olhos… como quem diz! As histórias verdadeiras faziam-na ficar incrédula e a melhor parte disto tudo era, sempre que lia um livro, parecer que também ela fazia parte da história. Via tudo o que estava a acontecer na história à sua frente como num filme… Até melhor do que num filme!

Estava ela a pensar nisto tudo, quando de repente um rapazinho passou por ela a correr.

- Meu menino, – chamou a árvore numa voz rouca e profunda, - Vem cá falar um pouco comigo!

O rapaz, que estava com pressa para ir jogar jogos no telemóvel, nem sequer a ouviu.

- Vem cá! – insistiu a árvore.

Desta vez o rapaz ouviu, e, embora contrariado, foi sentar-se ao pé da árvore. A velha árvore sábia, com a sua voz rouca e profunda, decidiu então contar-lhe uma das suas histórias preferidas. Era uma história muito bonita de uma menina, que todos pensavam ser órfã, que procurava a mãe sobre os telhados de Paris. O rapaz que tinha ido ter com a velha árvore, já esquecido do telemóvel, ouvia a história com um brilho nos olhos e um sorriso rasgado. Que bonita era a história! E que bem que a árvore a contava! No fim da história, o rapaz abraçou a árvore muito contente e foi a correr a casa chamar a mãe, o pai, os irmãos e os amigos. Ao fim do dia, a árvore estava rouquíssima de tanto contar histórias e as crianças estavam muito felizes.

A partir de então, a árvore nunca mais se sentiu só, pois todos os dias um grupinho de crianças se sentava ao seu lado para ouvir mais histórias. E os passarinhos, talvez atraídos pelos sorrisos das crianças, passaram a fazer os seus ninhos nos ramos desta velha árvore sábia.

Maria Lúcia Power, 7.º ano | Escola Básica e Secundária de Anadia

 

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