Era uma vez uma árvore muito grande, muito velha e muito só. Os pássaros
daquela região não queriam fazer ninho numa árvore assim. O que eles queriam
era árvores novas, bonitas e carregadinhas de frutos deliciosos.
Ora, esta árvore, mesmo estando a cair de velha, tinha um dom que mais
nenhuma árvore daquela região tinha: o dom da sabedoria. Quando ainda era nova,
bonita e quando ainda estava carregadinha de frutos deliciosos, um velho, vindo
não se sabe de onde, sentava-se bem encostado à árvore e lia em voz alta
histórias verdadeiras e imaginárias, fábulas e poemas, então, pouco a pouco
esta árvore foi aprendendo a ler. A árvore foi crescendo, quer em tamanho, quer
em sabedoria e, a cada ano que passava, foi ficando mais só por ser tão velha.
E quanto mais só ficava, mais reparava nas coisas que aconteciam à sua volta.
Reparou então que cada vez havia menos crianças a brincar na rua e cada vez
havia menos crianças a ler. A árvore, embora sábia, não conseguia perceber
porquê. Decidiu investigar. E percebeu que as crianças se sentiam cada vez mais
atraídas por umas estranhas maquinetas a que se dava o nome de telemóveis.
Também reparou que, embora estivessem divertidas com aquelas maquinetas, as
crianças tinham um ar cada vez mais triste e abatido e não ligavam a ninguém à
sua volta.
A velha árvore sábia, que sabia muitas histórias, ficou confusa ao ver
como as crianças já não faziam caso dos livros. Os livros fascinavam-na tanto!
As aventuras faziam o seu coração de árvore bater mais depressa, os poemas
traziam-lhe lágrimas aos olhos; aos olhos… como quem diz! As histórias
verdadeiras faziam-na ficar incrédula e a melhor parte disto tudo era, sempre
que lia um livro, parecer que também ela fazia parte da história. Via tudo o
que estava a acontecer na história à sua frente como num filme… Até melhor do
que num filme!
Estava ela a pensar nisto tudo, quando de repente um rapazinho passou
por ela a correr.
- Meu menino, – chamou a árvore numa voz rouca e profunda, - Vem cá
falar um pouco comigo!
O rapaz, que estava com pressa para ir jogar jogos no telemóvel, nem
sequer a ouviu.
- Vem cá! – insistiu a árvore.
Desta vez o rapaz ouviu, e, embora contrariado, foi sentar-se ao pé da
árvore. A velha árvore sábia, com a sua voz rouca e profunda, decidiu então
contar-lhe uma das suas histórias preferidas. Era uma história muito bonita de
uma menina, que todos pensavam ser órfã, que procurava a mãe sobre os telhados
de Paris. O rapaz que tinha ido ter com a velha árvore, já esquecido do
telemóvel, ouvia a história com um brilho nos olhos e um sorriso rasgado. Que
bonita era a história! E que bem que a árvore a contava! No fim da história, o
rapaz abraçou a árvore muito contente e foi a correr a casa chamar a mãe, o
pai, os irmãos e os amigos. Ao fim do dia, a árvore estava rouquíssima de tanto
contar histórias e as crianças estavam muito felizes.
A partir de então, a árvore nunca mais se sentiu só, pois todos os dias
um grupinho de crianças se sentava ao seu lado para ouvir mais histórias. E os
passarinhos, talvez atraídos pelos sorrisos das crianças, passaram a fazer os
seus ninhos nos ramos desta velha árvore sábia.
Maria Lúcia Power, 7.º ano | Escola Básica e
Secundária de Anadia
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