Num dia de inverno, a Joana levantou-se, mesmo
que não lhe apetecesse, tomou o pequeno-almoço, vestiu-se, lavou os dentes e
fez a mochila, fez tudo o que faz quando vai para a escola. Depois de estar
pronta para sair de casa, abriu a porta e sentiu a vento frio a congelar-lhe a
cara, redonda e macia. Ela ficou uns minutos parada à porta, imaginando que era
um boneco de neve, pequeno, andante e falante, já se imaginava numa aventura na
montanha… até que a mãe exclamou:
- Não fiques aí especada a olhar para a rua,
despacha-te, ainda vais chegar atrasada à escola!
E lá foi ela, retirando-se dos seus
pensamentos, aventureiros.
Pelo caminho encontrou os seus amigos, a
Mafalda e o Pedro, como era habitual. Como a Joana gostava muito de grandes
aventuras, perguntou-lhes:
- Bom dia, meninos! E se fossemos brincar na
neve?
- Bom dia, Joana! – respondeu-lhe a Mafalda,
uma menina que não gostava de chegar tarde às aulas, pois achava que era muito
importante – Temos hoje de apresentar o trabalho de Cidadania, não te esqueças,
e ainda demoramos um pouco para chegar à escola!
- Vá lá! Só cinco minutinhos, prometo que
depois vamos logo!
- Sim, Mafalda, não sejas desmancha-prazeres! –
Concordou o Pedro.
- Está bem! Mas têm de me prometer que é só um
bocadinho!
Lançaram bolas de neve, fizeram um boneco de
neve, correram, gritaram, brincaram até se fartar. Mas, quando olharam para o
relógio já era tarde demais. Os cinco minutos tinham-se tornado em duas horas,
a Mafalda foi a correr para a escola, mas a Joana e o Pedro ficaram sentados na
neve a olhar um para o outro. Pouco depois, passou o Sr. Joaquim, um senhor já
de certa idade, que lhes falou:
- O que é que estão aqui a fazer?! No meu tempo
ia-se à escola ou ficava-se a ajudar os pais! Hoje em dia é só vida boa!
Enquanto ele falava, veio um vendaval, e a
carteira dele caiu no chão, abriu-se, e um papel com aspeto escurecido começou
a voar. A Joana e o Pedro foram atrás dele e devolveram-no, ao mesmo tempo o
Pedro reparou:
- Este papel deve ser muito importante, nota-se
pelo aspeto que tem. O que é?
- É um enigma do meu avô materno, encontrei-o
nas suas coisas, depois de ele ter falecido - respondeu o Sr. Joaquim.
- Só pode estar a brincar connosco! – retorquiu
a Joana.
- Não, eu não sou nada bom com enigmas, e nunca
o consegui decifrar.
- Podemos ver, por favor? – perguntou a Joana,
muito curiosa.
Ela leu o enigma em voz alta, que era o
seguinte:
“As suas
raízes são centenárias e suas ramificações igualitárias. É na diferença que
reside a recompensa.”
- É fácil! – afirmou o Pedro – Está em árvores
com cem ou mais anos, com copas iguais e têm uma diferença!
- Como descobriste isso tudo agora?!
- Não sei, costumo ver coisas assim na
televisão!
- Meninos, querem ajudar-me a procurar a tal
árvore?
- Sim! – responderam os dois com muito
entusiasmo.
E lá foram
eles com o Sr. Joaquim, à procura de árvores centenárias no quintal de sua
casa, pois se aquela casa já estava na família há anos, onde mais podia estar?
No quintal havia realmente árvores antigas, mas
sem semelhanças visíveis.
- Aqui não há nada! – desabafou, desiludida e
frustrada, a Joana.
Dentro de casa, depois da desilusão, o Sr.
Joaquim ofereceu-lhes um lanche, eles aceitaram e estiveram os três a
conversar.
Quando foram para casa, o Pedro recordou:
- Joana, viste todos aqueles retratos antigos?
- Sim, alguns já estavam a ficar desbotados.
- Já fizeste o trabalho da árvore genealógica
de inglês?
- Árvore genealógica, é isso! - lembrou-se a
Joana - A árvore genealógica tem mais de cem anos, e pode haver pessoas gémeas,
que têm uma diferença.
- Boa, vamos a casa do Sr. Joaquim, falar com
ele!
O Sr.
Joaquim ficou impressionado, e mostrou-lhes fotografias, nomes e contou-lhes os
graus de parentesco, um pouco da sua árvore genealógica. Eles repararam que não
havia gémeas, mas… numa geração, as senhoras tinham todas o nome Maria: era
Maria Augusta, Ana Maria, Maria Selene, Maria Antonieta…, porém, havia uma que
não, era a Ana Carolina.
- Não há nenhuma gémea! – observou o Pedro.
- Pois não, mas acho que não precisa de haver
gémeas, podem somente ter todas o mesmo nome e uma ter uma diferença, também
dá. Por isso pode estar em alguma coisa dela, ou num retrato de família – lembrou
a Joana.
- Aqui não tenho nada dela, mas vamos ao sótão
ver se encontramos algo. Sigam-me! – sugeriu o Sr. Joaquim.
No sótão,
eles viram vários retratos. Decidiram começar pelos retratos onde só havia a
Ana Carolina, olharam bem para eles e não viram nada, mas a Joana lembrou-se:
- Pode estar na parte de trás da moldura.
E lá estava escrito:
“Às 16 horas, no teu jardim, o sino verás, 3 passos
para norte e a recompensa acharás.”
- O sino? Já o vemos daqui! - baralhou-se o
Pedro.
- Sim, mas às dezasseis horas, provavelmente, vês
a sombra do sino no chão. – Explicou-lhe a Joana.
Às dezasseis horas, estavam todos no jardim. Observaram
a sombra do sino da igreja no chão, mas não sabiam para onde era o norte, pois tinham
ficado tão animados por terem descoberto os enigmas que nem se lembraram disso!
Então o Pedro pensou: o sol nasce a Este e põe-se a Oeste, portanto… e foi aí
que lhes disse:
- Colocamos uma pedra na sombra do sino e
quando o sol se puser já sabemos onde é o Oeste e o Este, depois é fácil
descobrir o Norte e já agora, o Sul também.
- Boa, Pedro, não tinha pensado nisso! – declarou
a Joana, entusiasmada.
Quando o sol se pôs, eles rapidamente acharam o
sítio onde provavelmente estaria a recompensa, e começaram a procurá-la,
escavando a terra. De lá saiu uma caixa, cheia de terra por cima.
- O que estará dentro da caixa? – Quiseram
saber.
Era um anel do bisavô do Sr. Joaquim, ele
queria oferecer aquele anel à Ana Carolina, mas, entretanto, ela apaixonou-se
por outra pessoa e então ele enterrou-o. Entregou o enigma ao filho, para
quando este fosse maior ele o descobrisse e assim, oferecer esse presente à sua
amada.
O Sr. Joaquim estava muito feliz, por terem
descoberto o anel, pois era muito bonito, e devia ser muito caro. O Sr. Joaquim
agradeceu-lhes a ajuda, dando-lhes um bolo. Como já era muito tarde, e a Joana
e o Pedro já deviam estar em casa, despediram-se do Sr. Joaquim e saíram a
correr.
Chegaram a casa e os pais já estavam a começar
a ficar preocupados, a mãe da Joana até já estava a vestir o casaco para ir à
sua procura. A Joana não mentiu, disse à mãe que tinha faltado à escola para ir
descobrir um enigma do Sr. Joaquim. A mãe castigou-a, por ter faltado às aulas,
mas ao mesmo tempo deu-lhe um abraço, porque estava muito orgulhosa da filha.
À noite,
a Joana e o Pedro pensavam: “Um dia normal que se tornou numa coisa
extraordinária. Valeu mesmo a pena faltar à apresentação do trabalho. Nem só na
escola se aprende. Talvez a professora nos deixe apresentá-lo na próxima aula…”
Então, cansada, adormeceu para mais um dos seus
sonhos repletos de aventuras, desafios e novas descobertas.
Matilde Pereira Saldanha, 6.º B | Escola Básica de
Vilarinho do Bairro
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