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terça-feira, 5 de outubro de 2021

Um dia fora do normal

 

Num dia de inverno, a Joana levantou-se, mesmo que não lhe apetecesse, tomou o pequeno-almoço, vestiu-se, lavou os dentes e fez a mochila, fez tudo o que faz quando vai para a escola. Depois de estar pronta para sair de casa, abriu a porta e sentiu a vento frio a congelar-lhe a cara, redonda e macia. Ela ficou uns minutos parada à porta, imaginando que era um boneco de neve, pequeno, andante e falante, já se imaginava numa aventura na montanha… até que a mãe exclamou:

- Não fiques aí especada a olhar para a rua, despacha-te, ainda vais chegar atrasada à escola!

E lá foi ela, retirando-se dos seus pensamentos, aventureiros.

Pelo caminho encontrou os seus amigos, a Mafalda e o Pedro, como era habitual. Como a Joana gostava muito de grandes aventuras, perguntou-lhes:

- Bom dia, meninos! E se fossemos brincar na neve?

- Bom dia, Joana! – respondeu-lhe a Mafalda, uma menina que não gostava de chegar tarde às aulas, pois achava que era muito importante – Temos hoje de apresentar o trabalho de Cidadania, não te esqueças, e ainda demoramos um pouco para chegar à escola!

- Vá lá! Só cinco minutinhos, prometo que depois vamos logo!

- Sim, Mafalda, não sejas desmancha-prazeres! – Concordou o Pedro.

- Está bem! Mas têm de me prometer que é só um bocadinho!

Lançaram bolas de neve, fizeram um boneco de neve, correram, gritaram, brincaram até se fartar. Mas, quando olharam para o relógio já era tarde demais. Os cinco minutos tinham-se tornado em duas horas, a Mafalda foi a correr para a escola, mas a Joana e o Pedro ficaram sentados na neve a olhar um para o outro. Pouco depois, passou o Sr. Joaquim, um senhor já de certa idade, que lhes falou:

- O que é que estão aqui a fazer?! No meu tempo ia-se à escola ou ficava-se a ajudar os pais! Hoje em dia é só vida boa!

Enquanto ele falava, veio um vendaval, e a carteira dele caiu no chão, abriu-se, e um papel com aspeto escurecido começou a voar. A Joana e o Pedro foram atrás dele e devolveram-no, ao mesmo tempo o Pedro reparou:

- Este papel deve ser muito importante, nota-se pelo aspeto que tem. O que é?

- É um enigma do meu avô materno, encontrei-o nas suas coisas, depois de ele ter falecido - respondeu o Sr. Joaquim.

- Só pode estar a brincar connosco! – retorquiu a Joana.

- Não, eu não sou nada bom com enigmas, e nunca o consegui decifrar.

- Podemos ver, por favor? – perguntou a Joana, muito curiosa.

Ela leu o enigma em voz alta, que era o seguinte:

 “As suas raízes são centenárias e suas ramificações igualitárias. É na diferença que reside a recompensa.”  

- É fácil! – afirmou o Pedro – Está em árvores com cem ou mais anos, com copas iguais e têm uma diferença!

- Como descobriste isso tudo agora?!

- Não sei, costumo ver coisas assim na televisão!

- Meninos, querem ajudar-me a procurar a tal árvore?

- Sim! – responderam os dois com muito entusiasmo.

 E lá foram eles com o Sr. Joaquim, à procura de árvores centenárias no quintal de sua casa, pois se aquela casa já estava na família há anos, onde mais podia estar?

No quintal havia realmente árvores antigas, mas sem semelhanças visíveis.

- Aqui não há nada! – desabafou, desiludida e frustrada, a Joana.

Dentro de casa, depois da desilusão, o Sr. Joaquim ofereceu-lhes um lanche, eles aceitaram e estiveram os três a conversar.

Quando foram para casa, o Pedro recordou:

- Joana, viste todos aqueles retratos antigos?

- Sim, alguns já estavam a ficar desbotados.

- Já fizeste o trabalho da árvore genealógica de inglês?

- Árvore genealógica, é isso! - lembrou-se a Joana - A árvore genealógica tem mais de cem anos, e pode haver pessoas gémeas, que têm uma diferença.

- Boa, vamos a casa do Sr. Joaquim, falar com ele! 

 O Sr. Joaquim ficou impressionado, e mostrou-lhes fotografias, nomes e contou-lhes os graus de parentesco, um pouco da sua árvore genealógica. Eles repararam que não havia gémeas, mas… numa geração, as senhoras tinham todas o nome Maria: era Maria Augusta, Ana Maria, Maria Selene, Maria Antonieta…, porém, havia uma que não, era a Ana Carolina.

- Não há nenhuma gémea! – observou o Pedro.

- Pois não, mas acho que não precisa de haver gémeas, podem somente ter todas o mesmo nome e uma ter uma diferença, também dá. Por isso pode estar em alguma coisa dela, ou num retrato de família – lembrou a Joana.  

- Aqui não tenho nada dela, mas vamos ao sótão ver se encontramos algo. Sigam-me! – sugeriu o Sr. Joaquim.

 No sótão, eles viram vários retratos. Decidiram começar pelos retratos onde só havia a Ana Carolina, olharam bem para eles e não viram nada, mas a Joana lembrou-se:

- Pode estar na parte de trás da moldura.

E lá estava escrito:

“Às 16 horas, no teu jardim, o sino verás, 3 passos para norte e a recompensa acharás.”

- O sino? Já o vemos daqui! - baralhou-se o Pedro.

- Sim, mas às dezasseis horas, provavelmente, vês a sombra do sino no chão. – Explicou-lhe a Joana.

Às dezasseis horas, estavam todos no jardim. Observaram a sombra do sino da igreja no chão, mas não sabiam para onde era o norte, pois tinham ficado tão animados por terem descoberto os enigmas que nem se lembraram disso! Então o Pedro pensou: o sol nasce a Este e põe-se a Oeste, portanto… e foi aí que lhes disse:

- Colocamos uma pedra na sombra do sino e quando o sol se puser já sabemos onde é o Oeste e o Este, depois é fácil descobrir o Norte e já agora, o Sul também.

- Boa, Pedro, não tinha pensado nisso! – declarou a Joana, entusiasmada.

Quando o sol se pôs, eles rapidamente acharam o sítio onde provavelmente estaria a recompensa, e começaram a procurá-la, escavando a terra. De lá saiu uma caixa, cheia de terra por cima.

- O que estará dentro da caixa? – Quiseram saber.

Era um anel do bisavô do Sr. Joaquim, ele queria oferecer aquele anel à Ana Carolina, mas, entretanto, ela apaixonou-se por outra pessoa e então ele enterrou-o. Entregou o enigma ao filho, para quando este fosse maior ele o descobrisse e assim, oferecer esse presente à sua amada.

O Sr. Joaquim estava muito feliz, por terem descoberto o anel, pois era muito bonito, e devia ser muito caro. O Sr. Joaquim agradeceu-lhes a ajuda, dando-lhes um bolo. Como já era muito tarde, e a Joana e o Pedro já deviam estar em casa, despediram-se do Sr. Joaquim e saíram a correr.

Chegaram a casa e os pais já estavam a começar a ficar preocupados, a mãe da Joana até já estava a vestir o casaco para ir à sua procura. A Joana não mentiu, disse à mãe que tinha faltado à escola para ir descobrir um enigma do Sr. Joaquim. A mãe castigou-a, por ter faltado às aulas, mas ao mesmo tempo deu-lhe um abraço, porque estava muito orgulhosa da filha.

 À noite, a Joana e o Pedro pensavam: “Um dia normal que se tornou numa coisa extraordinária. Valeu mesmo a pena faltar à apresentação do trabalho. Nem só na escola se aprende. Talvez a professora nos deixe apresentá-lo na próxima aula…”

Então, cansada, adormeceu para mais um dos seus sonhos repletos de aventuras, desafios e novas descobertas.

Matilde Pereira Saldanha, 6.º B | Escola Básica de Vilarinho do Bairro

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