Querido mundo,
Faço este último suspiro como
forma de mostrar o meu desespero. De todas as promessas por ti proferidas, e de
todas as que acreditei, em nenhuma lutaste e isso deixou-me triste. Mas
desiludires-me já é normal, eu já me acostumei. O problema é quando crias expectativas,
para depois demonstrares com frieza que afinal nunca mudaste. Nunca te fiz mal,
sempre quis o teu bem: limpei-te as lágrimas quando mais choraste. Segurei-te a
mão quando mais precisas-te. E por mais boas ações que eu fizesse, tu
continuavas-me a deixar ir abaixo. Mas eu sei que eles deixaram-te ir abaixo
primeiro. E eu continuei a ajudar-te.
Eu sei que nunca devemos fazer as
coisas com objetivo de obter algo em troca. É imoral, não é saudável. Mas
quando o sacrifício é tanto, nada me surpreende mais que a insensibilidade
daquele que tanto foi ajudado. E o que mais assusta, é que esse comportamento
tóxico leva a que queira afastar-me de ti. E eu não quero isso. Não quero que
me afastes, porque assusta-me as saudades que vou sentir de ti. Então, decidi
começar por mudar-te. Foi um erro estúpido, eu sei, mas foi um ato de
desespero. Fiz esse último suspiro, porque quis. Mas o que a avó diz nunca é
mentira, e quem devia ter mudado era eu. Mas já era tarde demais, e por mais
que eu te ame, toda a gente troçou de mim, e isso magoa. Por mais que eu te
ame, toda a gente chamou-me maluquinha sonhadora, e isso magoa. E, por mais que
eu te ame, tu mais uma vez deixaste-me ir abaixo, e isso magoa. Mas eu sei que
eles deixaram-te ir abaixo primeiro. E eu tentei continuar a ajudar-te.
Eu sei que sentes que nada de mal
fizeste, e eu compreendo isso. Aos teus olhos tu és a vítima, e eu compreendo
isso. Gostas de te comparar aos teus irmãos, sempre gostaste, mas no fundo
magoa-te ver o quão pequeno tu és. O quão sujo tu és. O quão em baixo eles te
deixaram. E sentes, novamente, que nada de mal fizeste, mas eu já não
compreendo isso. Porque toda a razão dou para te vingares daqueles que apenas
desejam ver-te sofrer, que de tudo fazem para que morras no sofrimento. Mas
nenhuma razão te dou para também descarregares toda a raiva acumulada naqueles
que te amam e querem ver crescer. Daqueles que, de todas as coisas existentes
em ti, querem crescer contigo. Porque acredita, mundo, que muita gente quer ter
um futuro contigo. E de entre todas essas pessoas, estou eu. E eu sei que eles
deixaram-te ir abaixo primeiro. Mas eu não posso continuar a ajudar-te.
Não posso continuar a mascarar
toda a dor que possuo para que te possa ver melhor. Por mais que ame o teu
sorriso, ele é perigoso e lutar por ele está a matar-me, mundo. Porque mesmo
que o meu adversário nesta luta sejam os meus irmãos, tu és o que mais me
impede de ser sucedida. Tu és o que mais me faz desistir, perder a esperança e
querer virar-me contra ti, tal como toda a gente o faz. Sim mundo, eu menti:
todos odeiam-te. Odeiam-te, não pela tua natureza ou simplicidade. Odeiam-te
porque fazes das tuas imersões de raiva o terror do dia a dia. Ou talvez eu
esteja a ser egoísta. Estou a ser egoísta.
Estou a ser egoísta, porque tu
ensinaste-me a viver assim. Estou farta, mundo! Farta de que tudo o que eu
faça, tu questiones. Farta de que tudo o que peça, tu recuses. E, acima de
tudo, estou farta de ser rejeitada por ti. Eu sei que eles deixaram-te ir
abaixo primeiro, mas tu deixaste-me ir abaixo logo a seguir. E isso não é
justo. Tu bem sabes o quão injusto é, o quanto gostas de ajudar os que te
ameaçam destruir, por medo. O quanto gostas de te esconder dos mais fortes, dos
seus pecados, enquanto distribuis a raiva que te dão nos mais fracos, em nós.
Mas isso é a vida, mundo. É injusta, tal como tu…
Carta
de uma jovem irritada com o Mundo
Pedro
Fernandes, 12.º Ano | EBSA
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