Era uma vez um homem. Este homem era simples e humilde. Era um
sem-abrigo e vivia no banco dum parque infantil. Ninguém sabia ao certo o seu
nome. A verdade é que passava a maior parte dos seus dias a observar as
crianças que iam divertir-se no parque. Eram poucas as que davam pela sua
presença, mas havia uma especial que não passava três dias sem ir ao parque.
Na primeira vez, nem reparou naquele homem, mas de todas as outras
viu-o a fazer o que todos os dias ele fazia, isto é, observar crianças. Há quem
dissesse que era uma atitude assustadora, mas eu penso que ele só queria
encontrar uma parte jovem dentro de si.
Certo dia, o sem-abrigo apercebeu-se
duma conversa entre a menina que frequentava o parque com frequência e o seu
pai. Estavam ambos a pensar em ter um cão, um cão pequenino para que não
causasse tanta despesa.
- Uma cadelinha, papá! Eu
quero!-pedia ela.
Momentos depois, foram embora e a felicidade
da criança destacava-se, ao longe. A animação enchia-a da cabeça aos pés. No
entanto, os dias foram passando e a menina não aparecia no parque. O sem-abrigo
lá a esperava, no sítio do costume, entre arbustos e flores, com a esperança de
que a menina voltasse.
Numa tarde de primavera, a menina,
de nome Sofia, eis então que apareceu no parque, não para brincar nos baloiços
ou na caixa de areia, pois trazia um cão, uma cadela, aliás. Cuidava dela como
se fosse o tesouro mais precioso da sua vida.
Sofia, que já estava com intenções em falar
com o senhor que a observava todos os dias, aproximou-se e, para seu espanto, o
homem sorriu. Conversaram abertamente sobre tudo o que servia para quebrar o
silêncio. Pode parecer estranho mas, apesar da diferença de idades, tornaram-se
amigos. Os dias passavam e Sofia fazia questão de ir ao parque nem que fosse só
para lhe dizer “Olá!” ou para oferecer um pão, ou o que fosse.
Num dia normal, como todos os
outros, Sofia não apareceu à hora habitual. Escurecia e de Sofia não se sabia
nada. Não fora ao parque nesse dia. O sem-abrigo mal dormiu. Estava preocupado,
com uma expressão rígida estampada na cara. Mas o seu dia não tardou em melhorar. Sofia
foi ter com ele e vinha acompanhada, trazia um cachorrinho ao colo que ofereceu
ao seu novo amigo. Era um filhote da sua cadela, muito fofo em tons de
caramelo, tal como a mãe. Claro que oferecer um cão a um sem-abrigo era como
deixá-lo ao abandono, mas a menina comprometeu-se a alimentá-lo todos os dias.
Esta menina tinha um bom coração e este cão mudou a forma de agir deste ser.
Sofia fez assim renascer um novo ser
que vivia no parque, aliás, num banco dum parque. E eu era essa criança.
Ana Sofia, nº 2, 8º C
Sem comentários:
Enviar um comentário