Estava
um dia escuro e, como não havia nada para fazer, decidi ir à biblioteca. A
biblioteca estava vazia, as únicas pessoas que lá estavam eram o novo bibliotecário
(que não parecia nada feliz por estar lá) e a fundadora da biblioteca que sabia
de cor todos os parágrafos de todos os livros.
Talvez a biblioteca estivesse assim,
porque todos os usuários daquela biblioteca estivam no quentinho das suas
casas, rodeados de amigos e da família. Eu não tinha a mesma sorte…
Naquela biblioteca havia várias
salinhas, normalmente estavam quase todas abertas… Mas sempre houve uma que
nunca tinha visto aberta e sempre quisera espreitar. Naquele dia, essa salinha
estava aberta. Entrei na pequena sala, peguei num livro e comecei a ler… À
medida que ia lendo, tinha sensações estranhíssimas. Como nunca ali tinha
estado, começava a ficar com medo, por isso, comecei a tentar descansar-me e a
arranjar desculpas para aquelas tais sensações, como por exemplo o facto de a
cadeira ser super desconfortável. Continuava a sentir-me estranha, por isso,
por breves momentos, virei-me para ver se mais alguém estava na sala, e, quando
ia para continuar a ler o livro que estava a ler, uma menina com uma carinha de
anjo, e uma voz muito doce disse-me:
- Talvez eu esteja a fazer sentir-te assim…!
Aqueles seus olhos verdes distraíram-me
por momentos, ela era de facto linda. Mas depois reparei nas suas roupas e nos
seus cabelos. O seu aspeto era igual ao da rapariga do livro que estava a ler,
a Ana. Por momentos assustei-me… Estaria eu a sonhar? Mas acalmei-me. Comecei a
falar com ela. Ela via o mundo da mesma maneira que eu, era capaz de ler o
mesmo livro imensas vezes, tal como eu, e, por isso, quando vi que ela era a
Ana não conseguia parar de falar com ela. Os assuntos eram muitos, mas houve um
em que não consegui deixar de pensar… Afinal, o que era a leitura para nós?
Para mim, era imensa coisa, era uma maneira de viajar sem sair do sítio, e de
aprender e sonhar. Para ela era a sua maneira favorita de traduzir sentimentos...
O tempo voava enquanto falava com
ela, mas, assim do nada, as duas tivemos uma grande dor de cabeça, sentia-me
como se toda a minha imaginação estivesse a fugir de mim… Percebemos que o
facto de ela ser a personagem de um livro e eu ser uma simples humana
(desvairada em imaginação!) impedia-nos de pudermos estar juntas… Mas antes de
ir, ouvi a sua doce voz a dizer:
-
É tudo mais fácil quando ninguém te julga de imediato. As críticas podem até
vir, mas tudo depende de ti. Por isso, faz o que gostas por que se tu gostares
alguém mais vai gostar.
E assim do nada foi embora. E assim
do nada aprendi o que não aprenderia sem o poder da leitura. E assim do nada, o
dia escuro tornou-se no dia mais bonito que os meus olhos alguma vez tinham
visto.
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