Estava um dia de sol, quente e abafado. Era o primeiro dia de verão e ela
estava ali sentada, à espera que lhe surgissem ideias para escrever um texto
para português. Estava a ser difícil começar a escrever e aquele ar abafado,
também não ajudava nada.
Foi, então, que Carolina se pôs a pensar naquilo que passara ao longo da
sua vida para poder proteger e integrar o seu irmão João na sociedade. Afinal
de contas por que é que discriminavam o João? Por ele ter Síndrome de Down? Por
acharem que ele não tinha capacidades para fazer algumas coisas sozinho? Mas
não era bem assim. É certo que o João tinha as suas limitações por ter aquela
doença, mas ele conseguia fazer quase tudo o que uma pessoa dita
"normal" faz. Afinal de contas, cada um nasce com mais habilidade
para certas coisas do que para outras.
Carolina não gostava que discriminassem as pessoas, fosse lá por que razão
fosse e, muito menos, o seu irmão, que ela amava e protegia sempre,
independentemente das pessoas que o punham de lado e de o João ser mais velho do
que ela. Carolina dizia sempre a todas as pessoas que o seu irmão era igual aos
outros e que tinha o mesmo direito de fazer aquilo que os outros também faziam.
Gostava tanto que as pessoas respeitassem o seu irmão como a sua turma o fazia...
(costumavam dizer que a sua turma aceitava tão bem o seu irmão porque gostavam
de a ver feliz e, como sabiam que ela ficava triste por o ver a ser discriminado,
respeitavam-no e ajudavam-no naquilo que ele precisava e a Carolina não podia
fazer). Fosse como fosse ela estava muito orgulhosa da sua turma, que, para
ela, era quase como uma segunda família.
Duas horas já tinham passado e Carolina estava no mesmo sítio, com os seus
pensamentos. Se as pessoas soubessem como é difícil ter uma pessoa “diferente”
na família! Com certeza que não tratariam os outros como se eles tivessem uma
doença contagiosa! Se lhe dessem à escolha um desejo, ela pediria que se
tratassem uns aos outros como irmãos, de modo a poderem ajudar o outro naquilo
que ele mais precisasse, como também ser ajudado nos momentos mais difíceis,
porque, afinal de contas, todos precisamos de amigos que nos façam rir e de um
ombro amigo para poder chorar.
Carolina achava que pensava de mais no futuro e acabava por desperdiçar
muitas coisas que o presente lhe oferecia. Mas ela era assim, sempre preocupada
com os outros, (às vezes até se esquecia de pensar no que era melhor para si),
com o futuro (o que seria de si, dos seus irmãos, dos seus colegas,…), com os
seus irmãos e com tudo à sua volta. Ela só pensava no futuro em vez de
aproveitar o presente! Desde sempre ela tinha tido muitas desavenças com amigos
e, principalmente, com uma amiga, que lhe pedia sempre desculpa pelos atos que
tinha cometido (o que já era bom), mas que acabava por fazer sempre o mesmo.
Era esta a colega com quem Carolina mais se importava e a quem mais ajudava,
mas o que essa colega não sabia (pelo menos não dava a entender que sabia) era
que as desculpas podem mostrar o respeito que se tem pelo próximo, mas a mágoa
de se ser enganada ficava sempre. Por isto, mesmo que lhe apetecesse desistir
de ajudar os outros, não o fazia, porque sabia que assim ninguém iria respeitar
o irmão e ela tinha que dar o exemplo.
A tarde chegara ao fim e Carolina, agora, já sabia o que ia escrever no seu
texto. Era isso, ela ia escrever todas as suas vivências para ajudar o seu
irmão. Pensava que, mesmo escrevendo de uma forma pouco correta e pouco explícita,
alguém iria ler o seu texto e perceber é necessário compreender o mundo que nos
rodeia e ajudar os que mais precisam da nossa ajuda no dia a dia.
Maria Carvalho das Neves, nº 12, 7º Ano, turma
A
Género Narrativo –
3º Ciclo
Nota:
Conto
produzida na temática da “Saúde”.
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