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sexta-feira, 29 de julho de 2022

In)felicidade

“Rir é o melhor remédio”, dizem eles, mas e se não for?

E se o meu remédio for exatamente o oposto? E se só me apetecer chorar em vez de rir à gargalhada? 

Às vezes começo a pensar que talvez nunca tenha sentido felicidade, talvez tudo aquilo que eu tenha sentido até agora tenha sido tudo, menos a felicidade. Uma ilusão, quem sabe… 

Às vezes paro para pensar e sou totalmente invadida. Tanto fisicamente como mentalmente por um conjunto de algo. Algo que nunca antes tentei compreender. Será a melancolia a invadir-me sem qualquer tipo de autorização? Porque sim, eu apercebo-me da tua interdita invasão, embora ocasionalmente não a queira aceitar. Gostava de poder sentir a luz ao fundo do túnel que todos dizem existir, aquela que eu espero que me traga o que tanto procuro de volta. Que eu espero que me traga a felicidade, a verdadeira felicidade que tanto procuro. Mas a única coisa que sou capaz de imaginar ao passar esse túnel na busca do meu “tesouro” é a tristeza e a melancolia, de mãos dadas, como uma dupla perfeita. Prontas para me dominar. Para me invadir, tomar conta de mim e levar para ainda mais longe a luz. 

Mas haverá mais pessoas na mesma condição? Nesta minha condição de insatisfação sempre com tudo o que vejo, penso, faço. Será o mundo um lugar propício a tais sentimentos? Não sei, talvez ninguém saiba. Talvez o mundo e a vida se resumam a isto, a uma incessante busca por algo, que parece inatingível. A uma ininterrupta ocupação destas emoções incompreendidas por tantos. Mas e que sabem eles? O que julgam eles saber sobre estes sentimentos tão meus? São tão meus ao ponto de sentir que por mais que existam pessoas nesta condição e que por isso também sintam estas sentimentos, nunca me compreenderão totalmente. Porque por mais que sejam semelhantes, cada um os sente à sua maneira e temo senti-los mais do que ninguém. E já que falei em dupla, também vejo a incompreensão e a solidão de mãos dadas. Outra dupla para se juntarem àquela que já foi conquistando cada pedaço de mim, como se se tratasse de um processo natural. 

Porque se há vezes em que me imagino sentada perante uma mesa rodeada das pessoas que amo a criar momentos, vivências e a partilhar histórias, instantes que retratam aquilo que me tenho perguntado se algum dia chegará, são mais aquelas em que estou sentada nessa mesma mesa e em que apenas tenho ao meu lado as mesmas  pessoas, as que me acompanham para todo o lado que vá, sem me terem perguntado algum dia se queria a sua companhia. 

Na verdade, essas quatro pessoas de que falo são presença assídua na minha vida, não me largam nunca a mão. Pelo contrário só a apertam mais, como quem me garante uma vez mais que não vai arredar pé. E já que rir não é o meu remédio, talvez o melhor que tenha a fazer seja resignar-me à situação. Perceber que haverá dias em que a insatisfação e o descontentamento e tantos outros “primos” se vão querer juntar. Saber reconhecer que haverá dias em que os sinto a apertar-me a mão mais do que noutros, como quem grita “presente”, com o intuito de marcar a sua posição. Talvez a minha vida se resuma a isto: a sentir-me só mas a tê-los comigo, a procurar a luz que me traga o que tanto quero e a manter a pouca esperança que ainda me resta de que um dia, nem que seja noutra vida, o meu tesouro se sente no outro topo da mesa, de frente para mim e eu o consiga sentir dentro de mim, na mesma medida que sinto as outras pessoas que diariamente se sentam comigo na mesa. 

 Ensino Secundário

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