“Rir é o melhor remédio”,
dizem eles, mas e se não for?
E se o meu remédio for
exatamente o oposto? E se só me apetecer chorar em vez de rir à gargalhada?
Às vezes começo a pensar
que talvez nunca tenha sentido felicidade, talvez tudo aquilo que eu tenha
sentido até agora tenha sido tudo, menos a felicidade. Uma ilusão, quem sabe…
Às vezes paro para pensar
e sou totalmente invadida. Tanto fisicamente como mentalmente por um conjunto
de algo. Algo que nunca antes tentei compreender. Será a melancolia a
invadir-me sem qualquer tipo de autorização? Porque sim, eu apercebo-me da tua
interdita invasão, embora ocasionalmente não a queira aceitar. Gostava de poder
sentir a luz ao fundo do túnel que todos dizem existir, aquela que eu espero que
me traga o que tanto procuro de volta. Que eu espero que me traga a felicidade,
a verdadeira felicidade que tanto procuro. Mas a única coisa que sou capaz de
imaginar ao passar esse túnel na busca do meu “tesouro” é a tristeza e a
melancolia, de mãos dadas, como uma dupla perfeita. Prontas para me dominar.
Para me invadir, tomar conta de mim e levar para ainda mais longe a luz.
Mas haverá mais pessoas
na mesma condição? Nesta minha condição de insatisfação sempre com tudo o que
vejo, penso, faço. Será o mundo um lugar propício a tais sentimentos? Não sei,
talvez ninguém saiba. Talvez o mundo e a vida se resumam a isto, a uma
incessante busca por algo, que parece inatingível. A uma ininterrupta ocupação
destas emoções incompreendidas por tantos. Mas e que sabem eles? O que julgam
eles saber sobre estes sentimentos tão meus? São tão meus ao ponto de sentir
que por mais que existam pessoas nesta condição e que por isso também sintam
estas sentimentos, nunca me compreenderão totalmente. Porque por mais que sejam
semelhantes, cada um os sente à sua maneira e temo senti-los mais do que
ninguém. E já que falei em dupla, também vejo a incompreensão e a solidão de
mãos dadas. Outra dupla para se juntarem àquela que já foi conquistando cada
pedaço de mim, como se se tratasse de um processo natural.
Porque se há vezes em que
me imagino sentada perante uma mesa rodeada das pessoas que amo a criar
momentos, vivências e a partilhar histórias, instantes que retratam aquilo que
me tenho perguntado se algum dia chegará, são mais aquelas em que estou sentada
nessa mesma mesa e em que apenas tenho ao meu lado as mesmas pessoas, as
que me acompanham para todo o lado que vá, sem me terem perguntado algum dia se
queria a sua companhia.
Na verdade, essas quatro pessoas
de que falo são presença assídua na minha vida, não me largam nunca a mão. Pelo
contrário só a apertam mais, como quem me garante uma vez mais que não vai
arredar pé. E já que rir não é o meu remédio, talvez o melhor que tenha a fazer
seja resignar-me à situação. Perceber que haverá dias em que a insatisfação e o
descontentamento e tantos outros “primos” se vão querer juntar. Saber
reconhecer que haverá dias em que os sinto a apertar-me a mão mais do que
noutros, como quem grita “presente”, com o intuito de marcar a sua posição.
Talvez a minha vida se resuma a isto: a sentir-me só mas a tê-los comigo, a
procurar a luz que me traga o que tanto quero e a manter a pouca esperança que
ainda me resta de que um dia, nem que seja noutra vida, o meu tesouro se sente no
outro topo da mesa, de frente para mim e eu o consiga sentir dentro de mim, na
mesma medida que sinto as outras pessoas que diariamente se sentam comigo na
mesa.
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