Lá
estavam elas a subir a rampa da escola, como todos os dias, desde o quinto ano.
A Sara,
com aquela expressão típica que diz “não quero saber” e, ao seu lado, a Marta, com
aquele sorriso contagiante que não lhe sai da cara. Até parece forçado, mas já
chego lá…
O único sentimento que conseguimos identificar
na Sara é a felicidade. Quando ela está feliz, não para de rir por nada, esteja
onde estiver, mas raramente está assim. Todos os dias de manhã, antes das aulas,
dirige-se à cantina para estar com os seus dois melhores amigos que são
praticamente como ela, enquanto a Marta vai até à sala sozinha para não se
atrasar.
Embora
pareça sempre muito feliz, a vida da Marta está longe de ser perfeita: o seu
pai chega todos os dias a casa tarde e maldisposto do trabalho e descarrega a
sua frustração na filha. Não lhe bate, como é óbvio, mas implica sempre com ela
por coisas insignificantes; a sua avó está com Alzheimer, num lar, e o avô
parece que anda constantemente triste por causa das saudades que tem da sua
mulher. Os seus avós paternos faleceram os dois no ano passado, causando assim
uma enorme angústia a toda a família. Para piorar a situação, as suas amigas
tratam-na como se ela fosse um objeto, quando já não há mais nada em que ela as
possa ajudar, simplesmente param de falar com ela. Ela tem consciência de que
há outros em situações muito piores do que a sua, mas, mesmo assim, custa.
Uma
dessas pessoas é a Sara, para quem a escola é a única parte boa na sua vida,
porque quando chega a casa…
Na terça-feira passada, assim que
chegou, viu a mãe, na cozinha, a limpar o sangue que lhe escorria da parte de
cima da sobrancelha, e, ao ver o pai limpar as mãos ensanguentadas, percebeu
que o corte da mãe não tinha sido um acidente. Além dos pais, a Sara não tinha
mais nenhuma família chegada, não tendo mais nenhum lugar para onde ir… Não
tinha uma vida fácil, mas, pelo menos, tinha aqueles dois amigos, que eram tudo
o que precisava.
Assim
que a Sara e a Marta se conheceram nunca mais se separaram, uma vez que traziam
à superfície o melhor uma da outra. Como é evidente, não era uma amizade
perfeita, mas era a ideal para ultrapassar estes traumas.
As
coisas acabaram por melhorar: o pai da Sara foi preso, porque acabou por se
descobrir que a violência doméstica não era o seu único crime. Embora a
situação com a avó da Marta não tenha melhorado, a sua amizade com a Sara fez
com que as coisas fossem menos complicadas.
Isabel Verdade, 8.º E
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