Existem diversas maneiras de começar uma
história. Podemos começar por dizer que está um belo dia, ou que a água que
embatia nos vidros soava como pedras. Também se pode recorrer à indicação de
como está a personagem principal, mas, não falta nada?! Não falta referir como
está o mundo, como se sente o mundo, o que é que o mundo vê?? Neste momento, o
mundo vê melancolia, tristeza e solidão. E agora, estão a perguntar: “Apesar
disso tudo, o que é que queres realmente dizer?” Bem, suponho que agora seja o
momento da verdade.
Rose, começamos com a jovem dedicada,
Rose. Com apenas 17 anos de idade e uma paixão vibrante pela vida, pelos
sentimentos, pelo mundo. Nunca conheci uma jovem que valorizasse tanto a
palavra “rir”, que, segundo o dicionário, é a simples contração dos músculos
faciais por alegria. Rir é aquilo que dá cor aos nossos retratos, que traz
conforto, que traz amor e, principalmente, que se torna o refúgio (mas só de
alguns, porque “rir” é para todos, mas não é de ninguém, e só este nos faz ir
mais além). Todavia, porque estou eu a divagar quando tenho uma história para
contar…
Esta nossa jovem encontra-se no seu
quarto, que podia ser tão igual (tão normal, talvez) ao quarto de uma qualquer adolescente.
Aquilo que difere no quarto de Rose é que ao lado da sua cama, existe toda uma
panóplia de fios, cabos e monitores que mostram diversos aspetos do seu estado
de saúde. E como me poderia esquecer do pequeno facto, que vocês vão pensar que
é o mais importante, este quarto tem a localização exata do Hospital Pediátrico
de Leich, um pequeno (ignorando a redundância da situação) pormenor na vida de
Rose, ao qual ela já está habituada.
Rose viveu já tempos bastante
conturbados na sua vida, tendo esta sido suportada por máquinas mais vezes do
que se poderia imaginar. No entanto, esta nossa personagem, simplesmente agora não
conseguia entender. Não conseguia entender a tristeza, a melancolia e a solidão
em que de repente o mundo havia mergulhado, assim, sem mais nem menos, sem pés
nem cabeça, sem uma razão credível. Como é que as pessoas só neste momento
pensam na existência da morte, como é que só agora se consciencializam de que
ela é bem real, de que a nossa vida pode acabar com um piscar de olhos…. Será
mesmo preciso que chegue um vírus para a população em geral se aperceber de que
a vida são três dias, e de que devemos aproveitá-la?
Creio que agora já é possível explicar a
reação lógica de Rose. Mostrar nas redes sociais o seu verdadeiro eu, expor-se
de tal forma que, provavelmente, nem os pais estariam à espera de que se
expusesse… tudo através das palavras, e que facilidade ela tem com as palavras…
Foi assim que elas começaram a fluir.
“Querida sociedade em geral,
Face à situação pandémica atual, as palavras solidão, tristeza e
melancolia foram e ainda são referidas em diversos momentos como “a
consequência de uma pandemia” … Mas será que a pandemia originou estes
sentimentos ou será que a pandemia se limitou a mostrá-los de uma forma mais
despida?!
A desgraça caiu sobre nós, fomos
obrigados a isolar-nos, a mantermos a distância uns dos outros. Contudo,
esquecemo-nos da nossa necessidade de conviver, de falar e de rir com alguém.
Atualmente, eu sei que dou mais significado a um sorriso, a um almoço com
amigos, a um abraço dos meus avós… enfim, dou tanto significado à vida que
viverei e sei que por mais locais onde vá e que por mais pessoas que conheça,
nunca estarei sozinha.
Não obstante, nos tempos modernos, este
tipo de sentimentos é inconcebível tendo em conta que frequentemente somos
capazes de nos sentirmos solitários mesmo estando rodeados de pessoas.
Recorrendo ao mundo das sensações, temos tendência para nos isolarmos quando
nos sentimos menos bem e, às vezes, é complicado sairmos dessa “bolha” criada
por nós, e deixamos que o movimento das ondas do mar ou a sintonia das notas
musicais nos invada até nos sentirmos novamente completos.
No fundo, e falo por experiência
própria, só nos iremos sentir completos quando conseguirmos reconhecer toda a
panóplia de sentimentos que iremos enfrentar. Não vivemos num mundo justo ou
que seja inteiramente correto e tendemos a pensar de forma negativa quando não
conseguimos encontrar a felicidade, mas ela existe e está em nós.
A solidão, a tristeza e a melancolia
podem persistir nestes tempos, todavia a felicidade, a autodescoberta e o amor
próprio encontram-se cada vez mais enraizados na cultura mundial. Todos nós,
numa determinada fase da nossa vida, temos esses sentimentos. A vida consiste
no equilíbrio dos sentimentos e na força que nós possuímos dentro de nós e que
serve para “lutar” contra as adversidades que esta jornada nos traz.
Mas se considerarem que isto é só mais
um texto, para vos animar, e que a pessoa que está por detrás do ecrã a
escrever isto é só uma pessoa que não tem mais nada de interessante para fazer….
Podem parar de pensar dessa forma. O meu nome é Rose, já perdi mais amigos do
que possam imaginar e fui diagnosticada com uma doença rara aos 13 anos de
idade. Agora, que sabem um pouco sobre mim, leiam outra vez este texto e
reflitam!
Saudações sem Covid para todos.”
E assim foram as últimas palavras de
Rose, palavras que abalaram o mundo, que fizeram chorar todos aqueles que leram
a sua carta… Rose tocou mais corações do que alguma vez podia imaginar, curou
pessoas que nem sabiam que precisavam de ser curadas, e, ao abrir o seu
coração, deixou que toda a sua luz se espalhasse para tornar o mundo um lugar
mais feliz.
A máquina parou, o coração de Rose deu
mais três palpitações. A mãe e o pai choravam a perda da sua única filha, os
médicos encontravam-se perplexos e em silêncio. O mundo tinha acabado de perder
uma voz importante. Só a avó de Rose proferiu algumas palavras: “Obrigada,
minha querida! Eu sabia que ias mudar o mundo”.
A vida física de Rose havia terminado,
mas a sua marca ficava para sempre e tinha transformado muitos corações…