Endereço de correio eletrónico

ociclista@aeanadia.pt

domingo, 1 de junho de 2014

Dia Mundial da Criança

Dia Mundial da Criança é festejado no dia 1 de junho e tem como objetivo lembrar que é necessário cumprir a Declaração dos Direitos da Criança.
O desafio que me foi lançado pressupunha que redigisse um texto alusivo a este tema. Decidi-me por uma história que relata um dos direitos fundamentais das crianças: o direito a ser tratada como igual e, como tal, a ser feliz. Espero que gostem…


Uma criança feliz!
Era uma vez uma menina chamada Matilde que vinha de uma família pobre e humilde. Contudo, habituara-se ao que tinha e, dentro das possibilidades da sua família, lidava bem com essa situação. Podia dizer-se que era feliz.
Certo dia, tudo mudou. Foi quando chegou o seu primeiro dia de escola. Como não tinha frequentado o infantário, não estava acostumada a lidar com crianças e, por isso, foi-lhe mais difícil integrar-se na escola e conviver com os colegas.
Matilde andava sempre sozinha e todos os que a rodeavam olhavam-na desconfiados. Como se diz habitualmente, olhavam-na de lado. Como é normal, isso entristecia-a ainda mais.
Os seus dias na escola foram passando muito lentamente e um dia, para além dos olhares, começaram a agir com palavras. Eram palavras de crítica dirigidas ao seu pobre vestuário. E este era, de facto, revelador da sua pobreza. As “bocas” deixaram de ser em surdina e passaram a ser descaradamente lançadas à viva voz e sempre, mas sempre a debilitarem o seu já frágil ser. Ela estava constantemente sozinha e ninguém a podia ajudar, então, apenas se limitava a fechar-se na casa de banho ou a enfiar-se num canto a chorar, onde ninguém a pudesse ver e para que não arranjassem mais algum pretexto para gozarem com ela.
Este bullying psicológico, que faziam com ela, passou a ser a sua rotina e, a cada dia que passava, ela sentia-se mais perdida e sozinha naquela escola. Não contava aos pais, porque o medo e a vergonha pelo que se estava a passar superava a ânsia de desabafar com eles. Por outro lado, também não os queria preocupar. Deste modo, sempre que chegava a casa, fechava-se no seu quarto e não dizia mais nenhuma palavra. Os pais bem que tentavam falar com ela, perceber o que se passava, mas ela refugiava-se no silêncio.
Maria, uma menina que não fazia parte desse grupo que praticava bullying sobre a Matilde, andava já há alguns dias a observá-la e queria ajudá-la, mas não sabia como o fazer. Maria era muito simpática e gostava muito de ajudar os outros. Ela tinha duas amigas, mas estas duas meninas tinham personalidades bem diferentes das dela e no que tovaca a ajudar os outros, não eram assim tão generosas.
Um dia, Maria decidiu ir falar com Matilde e ofereceu-lhe a sua amizade, acrescentando que sempre que ela precisasse poderia contar com ela. Mas Matilde sentia-se tão ferida por todos os seus colegas que temeu por aquela oferta de bondade, pois nem sabia se o que Maria lhe oferecia era sincero ou não. Na verdade, nunca ninguém lhe oferecera ajuda.
– Vais ver, - disse-lhe Maria - se te fizerem alguma coisa, chama-me de imediato. Eu ajudo-te!
Desde esse dia, Maria esperava por ela e surgiu uma verdadeira amizade entre ambas. Sendo assim, pouco a pouco, Matilde foi confiando na sua nova amiga e esta fez tudo para que ela nunca se sentisse sozinha. Aos poucos, foram ganhando mais confiança e à vontade uma com outra e, entretanto, Maria até acabou por se afastar um pouco mais dos seus antigos amigos que criticavam a sua nova amizade por considerarem que ela não se devia dar com pessoas de outra classe social. Na verdade, os seus amigos não gostavam nada daquela proximidade e Matilde, conhecendo os motivos, sentia-se culpada e dizia-lhe:
- Não tens de fazer isso por mim, a sério. Estou-te muito grata por tudo o que fizeste por mim, mas não quero que percas amizades por minha causa. Eu sou uma criança que desde sempre está habituada a estar sozinha, no seu canto.
-Tu não tens de te preocupar! Do que depender de mim, nunca mais vais estar só e vais ter todas as coisas a que as crianças têm direito. Afinal de contas, és igual a qualquer um de nós e mereces tanto como nós. Não me interessa o que os outros pensam! Se for para ajudar, irei sentir-me muito bem por isso.
Maria, no entanto, não estava realmente satisfeita com toda a situação. O que ela desejava mesmo era que todos aceitassem a sua nova amiga e vissem a sua beleza interior e não a avaliassem apenas pelo aspeto das suas roupas.
Entretanto, o final do primeiro período estava a chegar e Maria ainda não tinha descoberto uma maneira de aproximar as suas amigas da sua nova amizade. A solução havia de estar à vista, mas ela não a conseguia realmente ver. Porém, ela acabou por surgir de um acaso e foi precisamente numa das aulas.
 A professora explicou que a escola estava a organizar a festa de encerramento das atividades do período letivo. Precisava assim de uma aluna que cantasse bem e outros alunos que dançassem. Havia vários alunos que estavam em aulas de ballet e que se ofereceram de imediato. Todavia, para cantar, não houve ninguém.
Já no recreio, a Matilde disse à sua amiga que gostava muito de cantar, mas que tinha medo que gozassem com ela.
– Claro, é isso! - disse-lhe Maria – Podes oferecer-te, é uma ideia excelente.
- Sim, mas eu não canto assim tão bem e todos eles iriam gozar comigo.
- E se deixasses primeiro a professora ouvir-te e decidir?
- Bem, podia ser.
- Então, vamos falar com ela, enquanto estão todos no intervalo. Assim, não corremos o risco de te ouvirem.
A professora aceitou a ideia de a ouvir cantar um pouco e de dar a sua opinião. Matilde começou, então, a entoar uma melodia conhecida. A Maria, por sua vez, sentou-se deliciada a escutar aquela voz divinal, pura e cristalina.
Sem que ela desse conta, os colegas foram entrando e sentando-se silenciosamente nos lugares. Quando ela terminou, o silêncio manteve-se tão profundo como se até respirar fosse proibido. Finalmente, a professora falou:
 - Matilde, tens uma belíssima voz. Nunca pensei encontrar a voz perfeita para o espetáculo, mas se há alguém capaz, esse alguém és tu!
Foi, então, que todos começaram a bater palmas e se levantaram emocionados e gritaram o seu nome. As suas lágrimas brotaram livres pelo seu rosto alegre de esperança. Esperança que finalmente fosse uma criança feliz nessa escola que ela sempre sonhou frequentar sem quaisquer problemas.
Desde esse dia passou a ser o centro das atenções, mas por razões que nada tinham a ver com o bullying. Adoravam todos ouvi-la cantar. As suas roupas bem como a sua pobreza ficaram bem esquecidas num cantinho qualquer. Já não as olhavam. Olhavam, sim, só para ela. E finalmente já podia, de facto, dizer que era uma criança muito mas muito feliz!
Sofia Pedrosa, O Ciclista

Nota: Imagem adaptada da Internet.

Sem comentários:

Enviar um comentário