O Dia Mundial da Criança é festejado
no dia 1 de junho e tem como objetivo lembrar que é necessário cumprir a Declaração dos Direitos da Criança.
O desafio que me foi
lançado pressupunha que redigisse um texto alusivo a este tema. Decidi-me por
uma história que relata um dos direitos fundamentais das crianças: o direito a
ser tratada como igual e, como tal, a ser feliz. Espero que gostem…
Uma criança
feliz!
Era uma vez uma
menina chamada Matilde que vinha de uma família pobre e humilde. Contudo,
habituara-se ao que tinha e, dentro das possibilidades da sua família, lidava
bem com essa situação. Podia dizer-se que era feliz.
Certo dia, tudo mudou.
Foi quando chegou o seu primeiro dia de escola. Como não tinha frequentado o
infantário, não estava acostumada a lidar com crianças e, por isso, foi-lhe
mais difícil integrar-se na escola e conviver com os colegas.
Matilde andava sempre
sozinha e todos os que a rodeavam olhavam-na desconfiados. Como se diz
habitualmente, olhavam-na de lado. Como é normal, isso entristecia-a ainda mais.
Os seus dias na
escola foram passando muito lentamente e um dia, para além dos olhares, começaram
a agir com palavras. Eram palavras de crítica dirigidas ao seu pobre vestuário.
E este era, de facto, revelador da sua pobreza. As “bocas” deixaram de ser em
surdina e passaram a ser descaradamente lançadas à viva voz e sempre, mas
sempre a debilitarem o seu já frágil ser. Ela estava constantemente sozinha e
ninguém a podia ajudar, então, apenas se limitava a fechar-se na casa de banho
ou a enfiar-se num canto a chorar, onde ninguém a pudesse ver e para que não
arranjassem mais algum pretexto para gozarem com ela.
Este bullying psicológico, que faziam com ela,
passou a ser a sua rotina e, a cada dia que passava, ela sentia-se mais perdida
e sozinha naquela escola. Não contava aos pais, porque o medo e a vergonha pelo
que se estava a passar superava a ânsia de desabafar com eles. Por outro lado,
também não os queria preocupar. Deste modo, sempre que chegava a casa, fechava-se
no seu quarto e não dizia mais nenhuma palavra. Os pais bem que tentavam falar
com ela, perceber o que se passava, mas ela refugiava-se no silêncio.
Maria, uma menina que
não fazia parte desse grupo que praticava bullying
sobre a Matilde, andava já há alguns dias a observá-la e queria ajudá-la, mas
não sabia como o fazer. Maria era muito simpática e gostava muito de ajudar os
outros. Ela tinha duas amigas, mas estas duas meninas tinham personalidades bem
diferentes das dela e no que tovaca a ajudar os outros, não eram assim tão
generosas.
Um dia, Maria decidiu
ir falar com Matilde e ofereceu-lhe a sua amizade, acrescentando que sempre que
ela precisasse poderia contar com ela. Mas Matilde sentia-se tão ferida por
todos os seus colegas que temeu por aquela oferta de bondade, pois nem sabia se
o que Maria lhe oferecia era sincero ou não. Na verdade, nunca ninguém lhe
oferecera ajuda.
– Vais ver, -
disse-lhe Maria - se te fizerem alguma coisa, chama-me de imediato. Eu
ajudo-te!
Desde esse dia, Maria
esperava por ela e surgiu uma verdadeira amizade entre ambas. Sendo assim, pouco
a pouco, Matilde foi confiando na sua nova amiga e esta fez tudo para que ela
nunca se sentisse sozinha. Aos poucos, foram ganhando mais confiança e à
vontade uma com outra e, entretanto, Maria até acabou por se afastar um pouco
mais dos seus antigos amigos que criticavam a sua nova amizade por considerarem
que ela não se devia dar com pessoas de outra classe social. Na verdade, os
seus amigos não gostavam nada daquela proximidade e Matilde, conhecendo os
motivos, sentia-se culpada e dizia-lhe:
- Não tens de fazer
isso por mim, a sério. Estou-te muito grata por tudo o que fizeste por mim, mas
não quero que percas amizades por minha causa. Eu sou uma criança que desde
sempre está habituada a estar sozinha, no seu canto.
-Tu não tens de te
preocupar! Do que depender de mim, nunca mais vais estar só e vais ter todas as
coisas a que as crianças têm direito. Afinal de contas, és igual a qualquer um
de nós e mereces tanto como nós. Não me interessa o que os outros pensam! Se for
para ajudar, irei sentir-me muito bem por isso.
Maria, no entanto,
não estava realmente satisfeita com toda a situação. O que ela desejava mesmo
era que todos aceitassem a sua nova amiga e vissem a sua beleza interior e não
a avaliassem apenas pelo aspeto das suas roupas.
Entretanto, o final
do primeiro período estava a chegar e Maria ainda não tinha descoberto uma
maneira de aproximar as suas amigas da sua nova amizade. A solução havia de
estar à vista, mas ela não a conseguia realmente ver. Porém, ela acabou por
surgir de um acaso e foi precisamente numa das aulas.
A professora explicou que a escola estava a
organizar a festa de encerramento das atividades do período letivo. Precisava
assim de uma aluna que cantasse bem e outros alunos que dançassem. Havia vários
alunos que estavam em aulas de ballet e que se ofereceram de imediato. Todavia,
para cantar, não houve ninguém.
Já no recreio, a
Matilde disse à sua amiga que gostava muito de cantar, mas que tinha medo que
gozassem com ela.
– Claro, é isso! -
disse-lhe Maria – Podes oferecer-te, é uma ideia excelente.
- Sim, mas eu não
canto assim tão bem e todos eles iriam gozar comigo.
- E se deixasses
primeiro a professora ouvir-te e decidir?
- Bem, podia ser.
- Então, vamos falar
com ela, enquanto estão todos no intervalo. Assim, não corremos o risco de te
ouvirem.
A professora aceitou
a ideia de a ouvir cantar um pouco e de dar a sua opinião. Matilde começou,
então, a entoar uma melodia conhecida. A Maria, por sua vez, sentou-se
deliciada a escutar aquela voz divinal, pura e cristalina.
Sem que ela desse
conta, os colegas foram entrando e sentando-se silenciosamente nos lugares.
Quando ela terminou, o silêncio manteve-se tão profundo como se até respirar
fosse proibido. Finalmente, a professora falou:
- Matilde, tens uma belíssima voz. Nunca
pensei encontrar a voz perfeita para o espetáculo, mas se há alguém capaz, esse
alguém és tu!
Foi, então, que todos
começaram a bater palmas e se levantaram emocionados e gritaram o seu nome. As
suas lágrimas brotaram livres pelo seu rosto alegre de esperança. Esperança que
finalmente fosse uma criança feliz nessa escola que ela sempre sonhou
frequentar sem quaisquer problemas.
Desde esse dia passou
a ser o centro das atenções, mas por razões que nada tinham a ver com o bullying. Adoravam todos ouvi-la cantar.
As suas roupas bem como a sua pobreza ficaram bem esquecidas num cantinho
qualquer. Já não as olhavam. Olhavam, sim, só para ela. E finalmente já podia,
de facto, dizer que era uma criança muito mas muito feliz!
Sofia
Pedrosa, O Ciclista
Nota: Imagem adaptada da Internet.
Sem comentários:
Enviar um comentário