Neste período em que as aulas
terminaram, muitos alunos lutam para obter uma classificação compatível com o
trabalho realizado ao longo do ano letivo.
O
Ciclista apresenta a partir de hoje três trabalhos realizados pelos
alunos do 9º ano e que servem de mote para os exames. Um tem a ver com "Os
Lusíadas" e os outros dois um pouco sobre a atualidade do "Auto da
Barca do Inferno". Visto que estes textos abordam conteúdos de exame do 9º
ano, é intenção d'O Ciclista desejar
boa sorte não só aos alunos que irão realizar este, como a todos aqueles que se
preparam para prestar provas nacionais ou a nível de escola.
A Equipa
d’O Ciclista
Gil Vicente na atualidade
Há
mais de quinhentos anos, Gil Vicente demonstrou que nem todos os retratos são
feitos com tintas e pincéis. Através de alegorias, símbolos cénicos e
personagens-tipo, o dramaturgo deu-nos a conhecer todos os traços negativos da
sociedade portuguesa da época.
Cada
personagem-tipo do “Auto da Barca do Inferno” representa uma classe social
portuguesa. Através da ironia e de diferentes tipos de cómicos, Gil Vicente
apresenta assim pormenorizadamente as características da sociedade
quinhentista.
Cinco
séculos passaram desde que esta obra foi publicada. Portugal mudou. As cidades
são cada vez mais movimentadas, as vilas tornam-se aos poucos desertas e da
terra crescem paredes e chaminés em vez de frutos e vegetais. A meu ver, tudo
se modificou, mas há algo que infelizmente ficará sempre igual: a população
portuguesa.
Os
portugueses da atualidade em pouco são diferentes dos seus antepassados. É
verdade que a nossa maneira de pensar, os nossos costumes e as nossas ambições
já não são as mesmas de há cinco séculos atrás. Mas a nossa natureza, bem lá no
fundo, ainda é marcada pelos mesmos vícios, defeitos e pecados.
Custa-me
acreditar que vivemos na mesma sociedade hipócrita, gananciosa, sovina, maldosa
e cruel. Quantas são as pessoas que ainda vivem das aparências? Quantos comungam
e assistem às missas sem acreditarem em Deus lembrando o Sapateiro? Quantos
negócios se baseiam no roubo e nas mentiras tal como o da Alcoviteira? Quantas
pessoas fingem ser o que não são e ter o que não têm? Por mais que o mundo
tenha andado para a frente, a natureza humana pouco evoluiu.
Obviamente
que também há exceções à regra. Vejamos! Hoje em dia, muitos jovens ainda
decidem enveredar pela carreira religiosa não por obrigação mas por vocação,
muitos ainda defendem as suas convicções à imagem dos quatro cavaleiros
cruzados. Também hoje são de louvar aqueles que colocam os interesses dos
outros à frente dos seus próprios interesses.
Antes
de estudar o “Auto da Barca do Inferno”, pensava que iria ser complicado para
mim entender a obra, mas agora, depois de já a ter analisado, percebo que
estava errada. De facto, apesar do uso do português arcaico, não é difícil
desvendar a mensagem de cada passagem. Terei percebido por a linguagem ser
simples? Terá sido fácil pela presença de alegorias?
Na
minha opinião, esta peça é facilmente analisada pelos alunos do nono ano
porque, na verdade, esta obra de Gil Vicente é intemporal e pode adaptar-se
sempre à atualidade uma vez que as suas personagens são o espelho de tudo o que
de bom e de mau há na sociedade, independente do ano ou do século em que
estejamos.
Clara Loureiro, 9º C
Nota:
Imagem Internet.
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