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sábado, 31 de agosto de 2013

Clara Verdade Loureiro - Menção Honrosa Género Narrativo - 3º Ciclo

O rapaz que queria ser mar

De entre todos os sentimentos, há um que me fascina particularmente: a liberdade. Não há nada melhor que poder ir aonde quisermos e quando quisermos ou ainda fazer o que desejarmos, precisamente quando quisermos. Porém, nem todas pessoas gozam dessa felicidade e muitos são os que se encontram presos por muros e paredes que outros erguem ou que eles próprios constroem.
Esta história, que vou passar a contar, é a de um rapaz que se chamava Joaquim e que não tinha nem uma pequena noção de liberdade, pois nunca a possuíra.
Joaquim era um rapaz doce, meigo, simpático e bem-educado, mas era também muito inseguro e facilmente manipulado. Fazia tudo o que os seus amigos da escola lhe pediam, concordava com tudo o que decidiam e sempre que lhe pediam uma opinião, dava sempre a que lhe parecia agradar aos outros, mesmo quando no seu íntimo não era aquilo que realmente sentia ou queria. De facto, não conseguia contrariar a vontade de ninguém, nem conseguia dizer o que sentia, pois temia que os outros reagissem mal, que não estivesse à altura das suas expetativas ou que ficassem desiludidos consigo.
Joaquim vivia acorrentado por si próprio e triste, muito triste.
Quando queria relaxar, o rapaz ia para a beira-mar observar o oceano, um dos únicos sítios onde descontraía e se refugiava de tudo o resto. E lá ficava o tempo que queria. Gostava assim de ver as gaivotas, as ondas, as conchas. Apreciava cada centímetro daquela vista maravilhosa.
Joaquim apreciava o mar. Aliás, admirava a força do mar e, no seu íntimo, ambicionava ser como o mar. Pode parecer uma comparação estranha, mas está cheia de verdade. Sim, porque não há nada mais livre que o vasto oceano. Viaja por onde quer e quando lhe apetece. Por outro lado, toca todos os continentes. Quando quer, é calmo e quente, a imagem da paz e tranquilidade. Noutras alturas agita-se, eleva-se e enche- -se de espuma que parece lembrar a sua raiva e assustar quantos o observam. Tem tanto poder o mar! É tão livre!...
 Joaquim, em contrapartida, sentia-se frágil. Por mais que quisesse, este rapaz seria sempre, na melhor das hipóteses, um pequeno e fraco ribeiro que corria sempre para o mesmo lado e nunca deixaria de ser assim, se continuasse a ignorar os seus próprios sentimentos. Para sua infelicidade, assim foi durante muito tempo.
Certo dia, os seus pais decidiram mudar de casa e ir viver para o interior do país. Como sabiam que Joaquim era tão fácil de manipular, nem sequer pediram a sua opinião. Quando ele teve conhecimento da notícia, sentiu um forte aperto no coração. Como iria ele sobreviver sem o mar? Sem a sua inspiração? Sem o conforto que este lhe dava quando estava triste, quase sempre triste consigo mesmo?!
Um sentimento de angústia inundou o interior do rapaz. Sentia-se perdido, abalado. Lembrou-se que por enquanto ainda tinha um sítio para se refugiar. Então, correu e correu o mais rápido que conseguia para a praia.
Durante breves momentos, Joaquim pensou em como seria poder expressar-se, combater os seus medos e então, apercebeu-se que, quanto mais ele resistisse à vontade das outras pessoas, maior seria a sua liberdade. De repente, começou a sentir no seu peito a força das marés que o queria sacudir e fazer despertar. O cheiro do mar invadiu-lhe os pulmões como se fosse um remédio que o queria trazer à vida. À vida que ele tinha que viver sem medos. Joaquim não soube como, mas de repente sentiu-se mais confiante e determinado que nunca e entendeu de imediato que aquele era o momento certo para falar com os pais e partilhar com eles os seus sentimentos e desejos.
Já na companhia dos pais, Joaquim não sabia bem por onde começar ou qual seria a altura certa para falar no assunto. Assim que conseguiu a sua atenção, Joaquim deu-lhes a sua opinião sobre a mudança e como tal, falou-lhes da sua necessidade do mar, e também de como se sentia, quando era obrigado a fazer tudo o que os outros queriam.
Para o rapaz, este foi o momento mais importante da sua vida até então, pois teve um comportamento totalmente diferente daquele a que estava desde sempre habituado. Foi doloroso… Contudo, foi libertador.
 Os pais acabaram assim por dar prioridade aos sentimentos do seu filho e entender o que na realidade o assustava todos os dias. Perceberam o quão difícil era para o Joaquim querer partilhar uma opinião mas contrariando a sua vontade, com medo que não fosse aceite pelos outros. Valorizaram a sua coragem ao, finalmente e pela primeira vez, assumir uma posição: a “sua posição”.
No final, tudo ficou bem pois os pais de Joaquim decidiram não mudar de casa, e o rapaz perdeu todo o medo de se expressar, deixando assim de ser apenas mais um pequeno curso de água controlado por tudo e todos. Cresceu para se tornar um oceano com vontade própria, mas que dia a dia aprendia a lutar contra as tempestades que surgiam sem, no entanto, contrariar a sua natureza.

Clara Verdade Loureiro, nº 7, 8º C
ESCOLA BÁSICA Nº 2 DE ANADIA
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ANADIA
Ano letivo: 2012 - 2013

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