O mar e a rosa
Há muito tempo, um jovem foi condenado, por algo
que estava inocente, a passar vários anos numa prisão que ficava numa pequena
ilha isolada do mundo. Nesse lugar quase deserto, apenas havia algumas casas e
um hospital.
Um dia, quando ele estava a limpar a sua cela,
ouviu uma linda voz. Olhou lá para fora e viu uma rapariga a apanhar girassóis ali
perto.
- Olá, como te chamas? – disse o prisioneiro.
- Eu? Eu chamo-me Rafaela – disse ela. – E tu,
como te chamas?
- Eu chamo-me João – respondeu ele.
- E porque estás preso? – perguntou a Rafaela.
- Eu estou preso por uma coisa que não fiz –
respondeu ele.
- Isso não devia ser assim - disse a rapariga. – Bem,
eu tenho de ir embora.
- Espera, podes vir ver-me amanhã? – perguntou o
rapaz.
- Claro que sim!
Mas
o que ele não sabia era que a nova amiga sofria de uma doença chamada “Cancro”.
A Rafaela ficava quase todos os dias no hospital, mas durante algumas horas, ia
lá para fora ver os girassóis. Eram lindos!
No
dia seguinte, a Rafaela veio visitar o João. Quando chegou lá, viu-o a chorar e
perguntou-lhe:
-
João, porque estás a chorar?
-
Eu não estou a chorar. Eu sou um homem – respondeu o João.
-
Claro que estás, tu não tens de ter vergonha, só porque és um homem. Agora
conta-me o que foi – disse a Rafaela.
-
Eu fui espancado pelos guardas por não ter feito nada e agora o meu corpo ainda
me dói – respondeu ele.
-
Ah, foi isso?! Desculpa. – disse a Rafaela.
-
Porque te desculpas? – perguntou o João.
-
Porque o meu pai trabalha aqui, ele é o xerife. Ele chegou tarde a casa e eu
perguntei-lhe porquê. Ele disse-me que tinha dado uma lição a um dos prisioneiros.
Se eu soubesse que eras tu, então tinha-lhe dito para não fazer isso –
respondeu Rafaela.
-
O teu pai trabalha aqui?! – surpreendeu-se João – Olha que não sabia, mas não
tens de te desculpar.
-
Estou feliz – disse a Rafaela. – Tenho de te dizer uma coisa.
-
O quê? – perguntou o João.
-
Eu não posso vir amanhã visitar-te porque vou fazer uma operação – respondeu ela.
-
Porquê? – perguntou o João.
-
Porque eu tenho cancro. – respondeu a Rafaela.
-
Não acredito! Então para dar sorte para a tua operação, toma isto – disse o
João, dando uma rosa à amiga.
-
Ah, muito obrigada, João! – agradeceu a menina, muito comovida.
No
dia seguinte, Rafaela estava a sentir muitas dores mas, quando olhou para a
janela e viu a rosa do João, sentiu-se melhor e com coragem para enfrentar
aquele momento difícil que se aproximava.
Quando
a operação acabou, Rafaela já não tinha dores. Olhou para a janela e sorriu ao
ver outra vez a rosa que o João lhe tinha dado. Era linda e perfumada! Depois
viu o mar lá fora e teve uma ideia. Apenas não sabia que o pai a observava fora
do quarto, pensando em quem lhe teria dado aquela rosa.
Subitamente,
sem dizer nada, ele entrou no quarto, pegou na rosa e esmagou-a com a mão.
Rafaela ficou profundamente triste e, com os olhos rasos de água, saiu da cama
e pegou nos restos da rosa.
No
dia seguinte, sentindo-se melhor, arranjou forças para visitar o amigo. João,
vendo-a limpar as lágrimas, perguntou-lhe:
-
Rafaela, tu estás bem?
-
Sim, estou bem. A operação correu bem, mas o meu pai estragou a rosa que tu me deste
– respondeu a menina.
- Não faz mal, não tens de te preocupar, vais
ver que ainda te vou dar mais rosas do que podes imaginar – respondeu o rapaz,
consolando-a.
-Muito
obrigada por me animares! Olha, eu tinha pensado numa surpresa para ti – disse
a Rafaela. – Onde guardam as chaves para abrir a porta?
-
Guardam-nas ali, no bolso daquele polícia que está a dormir – respondeu o João.
A
Rafaela foi buscar as chaves sem acordar o polícia e depois abriu a porta da
cela.
-
Onde me levas, Rafaela? – perguntou o rapaz.
-
Aqui ao lado. – disse ela.
João
viu um lindo mar, sentiu a brisa fresca na cara e sentiu a água a vir até aos
seus pés. Mas, de repente, começou a chorar.
- O que foi, João? Não gostaste da surpresa? –
perguntou a Rafaela.
-
Não, não é nada disso – disse o João. – É que foi aqui que fui abandonado pelos
meus pais, depois fui encontrado por um casal que me adotou. Mas, alguns anos
depois, eles foram assassinados e culparam-me pela morte deles.
- Que triste história! Então foi por isso que
foste preso? – disse Rafaela.
Passaram
horas a olhar para o mar, até que sentiram as suas mãos uma em cima da outra e ficaram
corados. Depois João falou:
-
Rafaela, eu tenho uma coisa para te dizer.
-
O que é? – perguntou ela.
De repente, João deu um beijo à amiga, mas o
pai estava a vê-los e acabou por se afastar sentindo que tinha de intervir. Rafaela
e João acabaram por se beijar e ela não sabia o que dizer.
-
Eu… eu não sei o que dizer.
-
Responde-me só a esta pergunta – disse o rapaz. – Tu gostas de mim?
-
Sim…eu gosto de ti – disse a jovem.
Depois,
levou o amigo para a prisão para não pensarem que ele tinha fugido. Ela não
queria, mas os guardas iriam à sua procura se não aparecesse.
-
Amanhã, eu venho ver-te para podermos ver o mar outra vez, só tenho de ir ao
hospital, primeiro. Adeus! – despediu-se a Rafaela.
No
outro dia, logo de manhãzinha, o rapaz conseguiu tirar as chaves da porta da
prisão ao polícia e foi à praia para voltar a ver o mar com a Rafaela.
Enquanto
estava à sua espera, o pai, que já tinha planeado tudo, mandou os guardas à
praia. Os guardas apontaram as suas armas ao João e, quando ele se virou para
trás a pensar que era ela, foi atingido muitas vezes. Ao cair no mar, largou a
rosa que iria oferecer à Rafaela.
Naquele momento, a rapariga ainda estava no
hospital ansiosa por ir ter com o amigo. Mas, de repente, sentiu uma dor vinda
do seu peito e achou estranho, pensou que podia ser alguma coisa relacionada
com o João. Então, saiu do hospital e foi ter à praia.
Quando
lá chegou, viu muitos polícias e o pai à frente. Ela correu para ver o que era
e viu o João morto na água. Correu até ele, abraçou-o com força até que viu a
rosa no mar. Começou a chorar, apoiando a cabeça no peito dele.
O
pai arrastou-a. Ela tentou libertar-se, mas não conseguia. Começou a chorar, o pai
levou-a para o hospital e trancou a porta do quarto. Ela não conseguia falar,
só ficava ali calada com os olhos frios, a olhar para a rosa que tinha pegado
no mar.
Olhou
pela janela e viu o mar agitado. Levantou-se da cama, abriu a janela e saltou para
fora. Foi até a um penhasco, olhou para o mar e a única coisa que disse foi:
-
Finalmente podemos estar juntos!
Saltou
para o mar com um sorriso, murmurando:
- João…
No
hospital, as enfermeiras foram avisar o pai que ela tinha desaparecido. Ele correu
para o quarto e a única coisa que viu foi uma janela aberta a mostrar o mar e
no parapeito uma rosa fora do vaso deixando cair a última pétala.
FIM
Raquel Neves Seiça, nº 19, 6º A
Escola
Básica nº 2 de Anadia
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