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domingo, 9 de setembro de 2012

Porto d´abrigo


3º Episódio
Eu sorri. Já me estava a convencer. Mas respondi:
- Quando te convenceres a ti própria… demore o tempo que demorar. E quando isso acontecer vais ter uma razão forte, qualquer que seja, para continuares a lutar pela tua felicidade…
Sorrimos os dois. Passamos apenas algumas horas juntos e eu sentia que ela confiava em mim, nas minhas palavras, no meu sorriso. Também eu queria acreditar nas minhas palavras!
- Tenho que ir para o consultório. Já estou atrasado…
- Mas… eu pensei que iamos estar juntos o resto do dia… - senti o medo nos seus olhos.
- Eu volto… Mas, infelizmente, não és a única pessoa que precisa ser chamada à razão… com algumas pessoas demora mais tempo! Mas eu vou combinar um novo horário com a minha secretária para umas sessões contigo. Logo passo cá, pode ser?
Ela acenou com a cabeça. E eu regressei à minha realidade.
Passadas várias consultas com a Margariga (a maior parte delas passadas em parques, bibliotecas e cafés) conseguia ver uma grande mudança na sua atitude: estava mais sorridente, mais aberta, mais leve de espírito… mostrava uma curiosidade tremenda na minha vida, no meu dia-a-dia… falavamos de música, cinema, livros, do tempo que fazia, do futuro, do passado, de coisas que ambos gostavamos… e, no meio de toda aquela banalidade, embora estivesse consciente que o que aconteceu nunca se iria apagar da sua memória, aprendeu que tinha que seguir em frente e perseguir os seus sonhos.
No meio duma conversa no café da esquina da rua do meu consultório, disse-lhe baixinho:
- Convenceste-me Margarida…
Ela sorriu um sorriso aberto. Sabia exactamente o que eu queria dizer.
- Não sabes há quanto esperava que me dissesses isso, Rui! Não fazes ideia da ajuda preciosa, da companhia que me tens dado… nunca me vou esquecer que foste tu que me deste a mão quando eu mais precisei…
- Não tens que agradecer… Só estava a fazer o meu trabalho. Agora só te falta esperar pelo motivo para continuares assim, radiante!
- Acho que já descobri…
- A sério? Então, conta…
Ela hesitou, mas logo de seguida olhou-me profundamente e beijou-me.
Fiquei imóvel. Confuso. Não que não sentisse o mesmo por ela… o desejo, a paixão, a atracção, desde o primeiro instante que a vi… tudo o que vivemos juntos, tudo o que a ajudei a alcançar… mas não podia fazer isto a mim mesmo; não podia viver tudo isto outra vez… mais que tudo não podia trair o meu próprio irmão.
- Margarida, não. – murmurei.
-Rui… Eu pensei que tu também… que eu não estava a imaginar, que tu…
- Eu nada, Margarida… - tinha que ser cruel, impiedoso, frio; tinha que mentir com todos os dentes da minha boca e colocar uma máscara que em nada correspondia à alegria que, no fundo, sentia naquele momento. – Sou apenas o teu psicólogo… teu amigo, no máximo dos máximos! Um estranho a quem abriste a porta e que se limitou a fazer o mesmo contigo… Não confundas as coisas…
- Não me mintas, eu conheço-te! Eu sei que tu não sentes isso… - ela estava desesperada, como no primeiro dia em que nos conhecemos… a chorar desalmadamente.
- Tu não sabes nada sobre mim… eu até te posso ter mentido – (não tinha) – àcerca de tudo o que se passou… o objectivo era tu ficares melhor, nada mais…
- Não acredito…
- O problema é teu… Eu estou atentar pôr os pontos nos “i”s. Antes que seja tarde demais.
- Nunca mais te quero ver à frente…
Continua…

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