3º Episódio
Eu sorri. Já me estava a convencer. Mas
respondi:
- Quando te convenceres a ti própria… demore
o tempo que demorar. E quando isso acontecer vais ter uma razão forte, qualquer
que seja, para continuares a lutar pela tua felicidade…
Sorrimos os dois. Passamos apenas algumas
horas juntos e eu sentia que ela confiava em mim, nas minhas palavras, no meu
sorriso. Também eu queria acreditar nas minhas palavras!
- Tenho que ir para o consultório. Já estou
atrasado…
- Mas… eu pensei que iamos estar juntos o
resto do dia… - senti o medo nos seus olhos.
- Eu volto… Mas, infelizmente, não és a única
pessoa que precisa ser chamada à razão… com algumas pessoas demora mais tempo!
Mas eu vou combinar um novo horário com a minha secretária para umas sessões
contigo. Logo passo cá, pode ser?
Ela acenou com a
cabeça. E eu regressei à minha realidade.
Passadas várias consultas com a Margariga (a
maior parte delas passadas em parques, bibliotecas e cafés) conseguia ver uma
grande mudança na sua atitude: estava mais sorridente, mais aberta, mais leve
de espírito… mostrava uma curiosidade tremenda na minha vida, no meu dia-a-dia…
falavamos de música, cinema, livros, do tempo que fazia, do futuro, do passado,
de coisas que ambos gostavamos… e, no meio de toda aquela banalidade, embora
estivesse consciente que o que aconteceu nunca se iria apagar da sua memória, aprendeu
que tinha que seguir em frente e perseguir os seus sonhos.
No meio duma conversa no café da esquina da
rua do meu consultório, disse-lhe baixinho:
- Convenceste-me Margarida…
Ela sorriu um sorriso aberto. Sabia
exactamente o que eu queria dizer.
- Não sabes há quanto esperava que me
dissesses isso, Rui! Não fazes ideia da ajuda preciosa, da companhia que me
tens dado… nunca me vou esquecer que foste tu que me deste a mão quando eu mais
precisei…
- Não tens que agradecer… Só estava a fazer o
meu trabalho. Agora só te falta esperar pelo motivo para continuares assim,
radiante!
- Acho que já descobri…
- A sério? Então, conta…
Ela hesitou, mas logo de seguida olhou-me
profundamente e beijou-me.
Fiquei imóvel. Confuso. Não que não sentisse
o mesmo por ela… o desejo, a paixão, a atracção, desde o primeiro instante que
a vi… tudo o que vivemos juntos, tudo o que a ajudei a alcançar… mas não podia
fazer isto a mim mesmo; não podia viver tudo isto outra vez… mais que tudo não
podia trair o meu próprio irmão.
- Margarida,
não. – murmurei.
-Rui… Eu pensei que tu também… que eu não
estava a imaginar, que tu…
- Eu nada, Margarida… - tinha que ser cruel,
impiedoso, frio; tinha que mentir com todos os dentes da minha boca e colocar
uma máscara que em nada correspondia à alegria que, no fundo, sentia naquele
momento. – Sou apenas o teu psicólogo… teu amigo, no máximo dos máximos! Um
estranho a quem abriste a porta e que se limitou a fazer o mesmo contigo… Não confundas
as coisas…
- Não me mintas, eu conheço-te! Eu sei que tu
não sentes isso… - ela estava desesperada, como no primeiro dia em que nos
conhecemos… a chorar desalmadamente.
- Tu não sabes nada sobre mim… eu até te
posso ter mentido – (não tinha) – àcerca de tudo o que se passou… o objectivo
era tu ficares melhor, nada mais…
- Não acredito…
- O problema é teu… Eu estou atentar pôr os
pontos nos “i”s. Antes que seja tarde demais.
- Nunca mais te quero ver à frente…
Continua…
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