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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Porto d´abrigo


4º e último Episódio
Ela desapareceu a correr e eu deixei-me estar sentado. E deixei cair a máscara. Não acreditava no que tinha feito. Era capaz de muito, mas de mentir assim descaradamente à pessoa que mais amei na vida, foi muito baixo, mesmo para mim… mas não havia mais nada a fazer. Não podia magoar o meu irmão, que há tanto a amava, para que eu pudesse ser feliz. Não podia, não depois do que aconteceu…
Fui eu o culpado do seu sofrimento. Fui eu que conduzi o carro que levava a pessoa que ele mais gostava no mundo. Fui eu que matei a namorada do João, e, embora me mentalizasse que foi um acidente, que a culpa não foi minha, todos os dias me lembrava daquele momento…Porque não fui eu que morri naquele acidente? Seria tudo muito mais fácil, seriam todos mais felizes…
Eu tinha que sair dali… Voltei para minha casa, fechei-me e não quis ver ninguém…
Passados dois dias, alguém bateu à porta. Bateu, bateu, e insistiu.
Desci as escadas irritado, abri a porta e gritei sem sequer olhar.
- Quem for que se vá embora!
- Queres mesmo que me vá embora? – murmurou uma voz familiar, que há muito me assombrava o pensamento. Lenvantei a cara.
- Margarida, que estás aqui a fazer? Pensei que tinhas dito que nunca mais me querias ver…
- E não. Mas precisei desabafar com alguém e o teu irmão apareceu lá em casa…
Fiquei em pânico. O que teria o João lhe dito?
- O João contou-me tudo Rui… porque não me disseste nada? Sabes que podes confiar em mim!
Não acreditava nas palavras que saiam da sua boca: o que pensaria ela de mim, agora que sabia do monstro que era, do que era capaz de fazer… comecei a chorar.
Ela olhou para mim, deu-me um abraço longo e murmurou-me ao ouvido:
- Estás terrível… Precisas de apanhar ar…
Saimos para o pátio nas traseiras e aí ficamos até longas horas da tarde, abraçados, apoiados um no outro.
- Já reparaste que agora os papéis se inverteram? Só me custa entender o porquê de guardares tudo isto para ti… de não pedires ajuda…
- O problema – retorqui – é que só me apercebi que precisava de ajuda quando não tinha mais forças para pedi-la. Mas contigo aqui eu sei que vai ficar tudo bem…
- Não achas um pouco irónico?! Apaixonaste-te por uma paciente que tem o mesmo problema que tu? Quem diria…
- Acho… Não achas irónico que o psicólogo que tenta “consertar” tudo e todos seja o que agora está a precisar de conserto?
- Acho é todos precisam de um arranjo durante a vida… quer dizer, não somos máquinas perfeitas, pois não? Os erros e os receios, as coisas boas e as coisas más, tudo o que nos acontece escreve a nossa história. É a forma como lidamos com elas que molda o nosso carácter, a nossa personalidade. E tu és um lutador, senão não tinhas lutado por mim… e eu espero ser a tua razão de lutar, porque tu és a minha… Não tenhas medo: olha para mim agora e lembra-te como era antes de te ter conhecido… Tu deste-me força para me tornar quem eu sou hoje. Aceita a minha ajuda!
Senti o vazio do meu coração começar a preencher-se, a minha alma a lavar-se.
O sol desapareceu no horizonte. Recordei-me do dia em que a conheci, e apercebi-me que já não tinha os mesmos horários, a mesma rotina… E apercebi-me das pequenas mudanças que ela causou na minha vida naqueles poucos meses em que estivemos juntos… e do quanto gostava dessas transformações. Sorri, e ela, ao ver-me feliz, abraçou-me ainda mais. E sem dúvidas ou incertezas murmurei-lhe ao ouvido:
- Amo-te.
Ela retorquiu:
- Convenceste-me.
E naquele perfeito momento eu sabia que ela estaria sempre ao meu lado para o que fosse necessário, ia ser o meu porto de abrigo na tempestade.
Ela ia ser a minha rotina.

Ana Cristina Quintans da Silva 

1 comentário:

  1. Escreve muito biem, pois a histoirea está interessant, continue a escrever.

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