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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nunca é tarde para aprender!


2º Episódio
A tarde já ia longa e aproximava-se a hora da merenda. Estava sozinha, como aliás acontecia todos os dias, mesmo aos domingos, pois a minha mãe ia sempre trabalhar, e pensei que não devia estar assim aborrecida. A mãe tinha dito que tinha uma surpresa, não tinha? Então, para que me havia de estar a preocupar? Estava a ser… o que é que estava a ser?! Já sei: pessimista, sim devia ser isso, ouvira no outro dia o Senhor Padre dizer essa palavra na missa e acho que se adequava ao que eu estava a sentir até aí. Refleti, então, com calma e vi que realmente não havia razão para me preocupar. Decerto que era mesmo a pasta da menina Mariana, ou da menina Teresinha, que iam dar à minha mãe. Ela ainda não a tinha, por isso apenas dissera que tinha uma surpresa para mim. Claro! Ainda não lha tinham dado. Logo à noite, ela deveria trazê-la.
Depois de ter engolido uma pinga de café e roído o resto da minha côdea da manhã, fui ao moleiro. Para lá, levei o milho que a mãe dissera para lhe entregar. Na volta, trouxe a farinha de trigo, feita do trigo que levara anteriormente, para no fim de semana cozer o pão.
Estava na hora de dar de comer ao gado. Primeiro, passei pelo galinheiro a ver se estava tudo bem. Às vezes, aparecia uma raposa que saltava a cerca e devorava as galinhas, mas isso acontecia mais à noite. E o milho só lhes era dado de manhã. Contudo, tinha as sobras das couves com que tinha feito a sopa e atirei-lhas, ficando divertida a vê-las a competir, para ver quem chegava primeiro. Depois, fui ver os coelhos. Aquela coelha branca estava mesmo gorda, não tardaria a parir. Então, seria uma festa. Quando a mãe não estava, eu adorava pegar-lhes ao colo e fazer-lhes festinhas. Era um regalo!
A seguir, fui dar de comer aos porcos. Pois, na manhã seguinte, tinha de tirar o estrume dos currais. Mas isso ficava para o dia seguinte.
No momento em que fui para dentro, colocar a panela ao lume, já estava quase na hora da mãe e do Manel, o meu irmão, chegarem. Ele há muito que acabara a escola, mas depois ia ajudar o Ti Serafim nas lides da lavoura. Não ganhava muito, mas sempre ajudava. Às vezes, ele pagava-lhe em produtos agrícolas, outras dava-lhe algum dinheiro.
Entretanto, eu estava a ficar impaciente. Parecia que a minha mãe nunca mais chegava. Bem, na realidade, era a prenda que nunca mais chegava, pois o que eu queria mesmo era o presente.
O Manel chegou com o seu semblante carregado. Aliás, ele nunca foi de muitos sorrisos, até parece que nunca foi criança. Ao ver-me, aproximou-se de mim e deu-me um ramo de papoilas e disse:
- Toma, são para ti. Parabéns! –
 E foi tudo. Nem sei se ainda ouviu o meu obrigado.
A minha barriga deu umas voltas estranhas, mas o meu coração palpitou, sentindo que a mãe estava a chegar finalmente.
- Atão, rapariga, essa janta sai ou não?
- Está pronta, minha mãe. - respondi-lhe carinhosamente.
Comemos quase em silêncio, já que a certa altura este foi interrompido pelo Manel, quando disse à mãe que o Ti Serafim lhe mandara umas batatas.
Mais do que uma resposta, a mãe soltou uma espécie de grunhido, devido à boca cheia de favas e de uma pele de bacalhau. Depois de a ouvir engolir o último naco, fiquei à espera, à escuta.
- Nazareth!
Dei um salto no banco de tal maneira que quase caía ao chão. Afinal, não estava assim tão atenta. Era agora. A prenda estava a chegar.
- Disse-te esta manhã que tinha uma surpresa para ti. Contudo, tens de me prometer que te portas bem. Quando fores para lá, tens de te manter calada. Só falas se te perguntarem diretamente alguma coisa. Manténs as costas direitas. Fazes tudo bem, como sempre te ensinei. Comporta-te como uma senhora, pois já completaste os teus sete anos. Estás crescida e chegou a hora.
Eu sabia que era isso. Só podia. Eu fazia sete anos. Estava na idade de ir para a escola. Eu sabia que me tinha de portar bem, ser educada, apenas responder quando a senhora professora me perguntasse algo, e esperava saber responder sempre certo. Era evidente que tinha chegado a hora. Por isso, respondi:
- Sim senhora, minha mãe.
Continua…

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