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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Nunca é tarde para aprender!


4º Episódio
Com o tempo, fui-me habituando. Aos dezasseis anos conheci o José, com quem casei aos dezoito anos. Nessa altura, eu trabalhava para a Senhora Dona Filomena, que tinha duas filhas. Para o meu casamento, eu queria um vestido branco e comprido. Mas a perversa mulher disse à costureira que gente pobre não tinha direito a usar um vestido comprido, isso era para as donzelas. E a costureira cumpriu o que a malvada mulher lhe mandou, pelo que me casei com um vestido curto. Pelo menos, o marido tinha sido eu a escolhê-lo.
Passado pouco mais de um ano, nascia o meu único filho, pois, à semelhança de tantos outros casais, engravidara passado pouco tempo de casada.
Eu e o meu marido vivíamos muito mal. O que ele ganhava mal dava para a renda e eu deixara de trabalhar, como então era exigido à mulher. Tempos depois, surgiu a hipótese do meu homem ir para França e, daí a concretizar-se, foi um instante. Vi-me, então, sozinha e a braços com um filho frágil e cheia de dívidas. Para agravar toda a minha angústia, magoava-me o facto de ter de pedir à vizinha que me lesse as cartas do meu José.
Tinha o Pedrinho menos de um ano, era ainda um bebé, quando o meu marido nos chamou e lá partimos nós para França ter com ele.
Não foi fácil a vida por terras de Napoleão. José trabalhava nas obras e eu ia para casa das “madames” fazer tudo o que é necessário numa casa. Aos fins de semana, se havia festas, íamos ambos trabalhar, eu ajudava na cozinha e o José servia às mesas.
O meu filho ia estudar, fazer-se um homem, queríamos que ele fosse alguém diferente de nós. Por isso, incentivámo-lo sempre a estudar, a tirar um curso superior. Assim, começou pela “École”, frequentou o “Collège” e depois o “Lycée”. Felizmente era um bom aluno. Mais tarde, candidatou-se à escola de engenharia em Paris, porque os estudos na cidade em que vivíamos só iam até ao equivalente ao secundário português.
O meu pobre coração de mãe sangrou quando ele teve de ir, mas desta vez era por algo de bom.
Às escondidas do pai, eu tentava dar-lhe tudo aquilo que achava que ele merecia, aquilo que gostaria de ter tido. O meu maior receio era o de ele se ligar a algumas dessas francesas que passeavam os seus “toutous”. Eu, que sempre ansiava por voltar ao meu Portugal, ficaria destroçada se tivesse de deixar o meu filho e possíveis netos no estrangeiro. Como estava, mais uma vez, enganada! Afinal, ele veio casar e viver para Portugal e eu permaneci ainda algumas décadas em França.
O nascimento dos meus dois netos fez de mim uma mulher feliz, embora não pudesse estar com eles, acompanhava-os à distância. Falava-lhes todas as semanas ao telefone.
Em agosto, mês de férias, regressávamos a Portugal. Os meus netos gostavam de estar comigo e diziam-me, muitas vezes:
 - Avó, quando nós soubermos escrever, enviar-te-emos muitas cartas.
Aos meus olhos saltavam as lágrimas que tentava, em vão, disfarçar. Eles, apercebendo-se da situação, não se cansavam de dizer que não me preocupasse, porque era com todo o carinho que me iriam ensinar, quando aprendessem a escrever. Porém, esse dia infelizmente nunca chegou. Como podia? Eu estava em França e eles em Portugal!
Continua…

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