Quando me recordo do que aconteceu, tudo me parece irreal. Não sei se foi um sonho, nem sei como fui lá parar. Apenas me lembro do que vi e ouvi.
Eu estava escondida atrás de um pote, num local que parecia ser um cais , e conseguia ver, do lado esquerdo, uma barca escura com um aspeto pouco acolhedor e com fumo; do lado direito, via uma barca com cores claras, iluminada pelos raios de sol e com nuvens claras à sua volta.
Com medo, mantive-me escondida no mesmo lugar e, passado algum tempo, vi uma menina com um tom de pele escuro, muito magra e com pouco mais de quinze anos, a dirigir-se junto da barca sombria.
Com uma doce voz e um sotaque africano, a menina perguntou:
- Está aí alguém?
E surge uma criatura parecida com um homem com pele avermelhada. Os seus olhos, vermelhos também, eram brilhantes, aterradores , com um ar maligno. Na sua testa, tinha um par de chifres e, nas costas, umas pequenas asas.
- Eu sou o Diabo! Bem-vinda, minha querida! Entra!
Assim que esta o viu, fugiu com medo e dirigiu-se para junto da barca abençoada, de onde saiu um homem alto, de olhos claros e brilhantes, com um longuíssimo par de asas feito de penas brancas, que lhe disse com um ar sereno e doce:
- É bom ver-te, Alícia. Estava à tua espera.
Estiveram algum tempo a conversar e a menina contou-lhe como tinha morrido. Disse-lhe que a sua família tinha sido escravizada, tendo vindo para Portugal para servir um homem horrível que os maltratava, batendo-lhes. Um dia, esse homem mau começou a espancar a sua mãe e a Alícia, ao tentar ajudá-la, meteu-se à frente do seu dono e este acabou por matá-la.
- Senti uma dor muito forte, vi muito sangue no meu corpo…e acordei agora aqui- afirmou Alícia revelando alguma estranheza.
O Anjo não lhe disse mais nada. Pegou delicadamente na sua mão e levou-a para dentro da sua barca.
Sem saber como, dei por mim no mundo real, com o meu caderno de Português, a minha caneta na mão e uma história fantástica na cabeça.
Sofia Duarte Calado, n.º 24, 9.º C
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