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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Amados sejam os gatos

Num reino cujo nome já foi esquecido, em tempos que ninguém se quer recordar, havia um grande músico, que, todos os domingos, tocava para o Senhor, para os convidados da casa e para o padre da igreja.

   Nessa igreja todos os padres e bispos do reino se reuniam para tomar as decisões importantes, em nome do Senhor.

   Coube ao músico, depois da missa, passar pela sala do Conselho onde estava reunido todo o clero. Como este músico era bisbilhoteiro, decidiu encostar o ouvido matreiro à porta.

- Devíamos livrar-nos dos gatos. Aqueles filhos do diabo vagueiam pelas terras de Deus contando todos os nossos segredos a Satanás – falou um indivíduo – irão causar destruição.

 - Concordo! – continuou o outro – Encontrei ontem um, à porta dos meus aposentos, olhei-o nos olhos e vi pura maldade, maldade que tem de ser destruída.

- Então chegámos à decisão. Alguém se opõe?- perguntou com esperança, o padre.

   Ninguém falou. O padre e o músico sentiram grande tristeza. De certeza que o Senhor não queria que uma espécie inteira fosse morta.

O músico encontrou-se, no dia seguinte, com o padre, a pedido deste para tentarem acabar com aquilo, mas acabaram por ser presos às primeiras reclamações e avisos.

Após vários anos de desgraça, depois de muitos gatos terem sido mortos, espalhou-se uma das piores doenças por toda a Europa.

Deu-se então, de novo, o Conselho do Clero na mesma igreja de sempre. Todos os padres e bispos do reino acharam preocupante a situação e não demorou muito para se instalar uma balbúrdia na sala.

- É o castigo do Senhor pelos nossos pecados.

- Não temos perdão. Nós fomos avisados.

- Temos que parar de maltratar os gatos. Quem nos avisou, que seja libertado.

E, assim, o padre e o músico ficaram livres, os gatos passaram a ser animais venerados, porque se tinha medo que acontecesse mal aos que não o fizessem, e a peste bubónica ou peste negra acabou.

João Rui Costa Flores Soares Bastos, n.º 11, 7.º F

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