Num reino cujo nome já foi esquecido, em tempos que ninguém se quer recordar, havia um grande músico, que, todos os domingos, tocava para o Senhor, para os convidados da casa e para o padre da igreja.
Nessa igreja todos os padres e bispos do reino se reuniam para tomar as decisões importantes, em nome do Senhor.
Coube ao músico, depois da missa, passar pela sala do Conselho onde estava reunido todo o clero. Como este músico era bisbilhoteiro, decidiu encostar o ouvido matreiro à porta.
- Devíamos livrar-nos dos gatos. Aqueles filhos do diabo vagueiam pelas terras de Deus contando todos os nossos segredos a Satanás – falou um indivíduo – irão causar destruição.
- Concordo! – continuou o outro – Encontrei ontem um, à porta dos meus aposentos, olhei-o nos olhos e vi pura maldade, maldade que tem de ser destruída.
- Então chegámos à decisão. Alguém se opõe?- perguntou com esperança, o padre.
Ninguém falou. O padre e o músico sentiram grande tristeza. De certeza que o Senhor não queria que uma espécie inteira fosse morta.
O músico encontrou-se, no dia seguinte, com o padre, a pedido deste para tentarem acabar com aquilo, mas acabaram por ser presos às primeiras reclamações e avisos.
Após vários anos de desgraça, depois de muitos gatos terem sido mortos, espalhou-se uma das piores doenças por toda a Europa.
Deu-se então, de novo, o Conselho do Clero na mesma igreja de sempre. Todos os padres e bispos do reino acharam preocupante a situação e não demorou muito para se instalar uma balbúrdia na sala.
- É o castigo do Senhor pelos nossos pecados.
- Não temos perdão. Nós fomos avisados.
- Temos que parar de maltratar os gatos. Quem nos avisou, que seja libertado.
E, assim, o padre e o músico ficaram livres, os gatos passaram a ser animais venerados, porque se tinha medo que acontecesse mal aos que não o fizessem, e a peste bubónica ou peste negra acabou.
João Rui Costa Flores Soares Bastos, n.º 11, 7.º F
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